Mensagens mostram que G. Dias foi alertado 5 vezes sobre risco de invasão aos Poderes em Brasília
Alertas foram dados pelo então diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha

O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência Gonçalves Dias foi alertado ao menos cinco vezes sobre os riscos de invasão às sedes dos Três Poderes, em Brasília, às vésperas dos atos de vandalismo ocorridos em 8 de janeiro. É o mostram as mensagens trocadas entre G. Dias e Saulo Moura Cunha, então diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e que a CNN Brasil teve acesso.
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De acordo com a emissora, dois dias antes dos ataques, às 8h12 de 6 de janeiro, Gonçalves Dias encaminhou a Saulo Moura da Cunha uma mensagem postada em grupos bolsonaristas que orientava os manifestantes a fechar a entrada de acesso à Praça dos Três Poderes, em Brasília.
O ex-diretor da Abin responde afirmando que está acompanhando a situação, mas que não havia nada que indicasse movimentação para Brasília. Ele chega a afirmar que as movimentações são “bravatas”.
Primeiro alerta
Durante a noite, porém, em mensagem trocada às 20h22 do mesmo dia, Saulo Moura da Cunha volta atrás e envia uma mensagem para o general com o título: “PERSPECTIVA DE MANIFESTAÇÃO EM BRASÍLIA”. Nela, há o alerta de que nos dias 7, 8 e 9 de janeiro de 2023 haveria risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades e que organizadores convocavam manifestantes com acesso a armas. Citava ainda a intenção dos manifestantes de invadir o Congresso e que outros edifícios poderiam ser alvo de ações violentas.
No dia 7 de janeiro, às 11h22, véspera das invasões, o ex-diretor da Abin volta a alertar Gonçalves Dias com outra mensagem, com o título: “MANIFESTACÕES CONTRA O RESULTADO DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS”, na qual informa sobre a chegada de 18 ônibus de outros estados para participar de manifestações e chama a atenção sobre as convocações para ações violentas e tentativas de ocupações de prédios públicos, principalmente na Esplanada dos Ministérios.
“Desde a madrugada de hoje caminhões tanque que transportam combustível não acessam a distribuidora de combustíveis anexa à refinaria (REVAP) de São José dos Campos-SP. Há presença de manifestantes auto intitulados ‘patriotas’ no local. Outros tipos de caminhões que transportam tipos de produtos distintos de combustíveis, assim como carros utilitários, ônibus e outros veículos estão acessando normalmente”, diz o texto.
Menos de uma hora depois, às 12h11, Goncalves Dias é alertado pela Abin sobre o aumento no número de ônibus em Brasília e, novamente, sobre convocações para ações violentas de ocupações de prédios públicos. Durante a noite, às 18h28, a Abin alerta de novo sobre a presença de ônibus em Brasília e cita uma mobilização denominada “Tomada de poder” prevista para ocorrer nos dias 07 e 08 de janeiro de 2023, além dos riscos de ocupações de prédios públicos.
O próximo aviso ocorreu na manhã das invasões, às 8h53 do dia 8 de janeiro, quando a Abin encaminha para o general G. Dias placas de 99 ônibus que chegaram à área central de Brasília até meia-noite. O ex-ministro do GSI responde: “Bom dia.. Vamos ter problemas”. Às 8h58, a Abin faz o alerta que os manifestantes iriam partir em marcha para a Esplanada às 13h.
G. Dias foi novamente alertado às 10h33, sobre convocações e incitações para deslocamento até a Esplanada dos Ministérios, ocupações de prédios públicos e ações violentas. Às 12h05, Saulo Cunha envia uma mensagem informando que os manifestantes devem iniciar o deslocamento para a Esplanada às 13h e alerta que houve relatos de pessoas armadas.
Invasão
As invasões à Esplanada dos Ministérios e sedes dos Três Poderes - Congresso Nacional (Legislativo), Supremo Tribunal Federal (Judiciário) e do Palácio do Planalto (Executivo) - ocorreu um pouco depois das 14 horas.
G. Dias aparece em imagens de câmeras de segurança dentro do Palácio do Planalto no dia dos ataques às sedes dos três poderes.Pouco tempo depois da divulgação das imagens, ele pediu demissão do cargo no GSI.
Procurado pela CNN, o advogado do general, André Luís Callegari, afirmou que os alertas recebidos eram “mensagens pessoais” trocadas com Saulo Cunha.
“Tudo o que o general Gonçalves Dias tem a falar sobre o tema 8 de janeiro foi dito no depoimento prestado à CLDF [Câmara Legislativa do Distrito Federal]. Aliás, o ex-diretor-adjunto da Abin Saulo Cunha reafirmou, hoje, o depoimento de Gonçalves Dias à Câmara Legislativa do Distrito Federal em todos os pontos”, afirmou Callegari à CNN. “Eram mensagens pessoais trocadas entre Saulo Cunha e Gonçalves Dias”.
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