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“Deixamos de ter pandemia e estamos com uma endemia”, diz o médico e deputado Jaques Neves

Presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), o deputado, que é cardiologista, credita o novo estágio à vacinação

Natália Mello
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Jaques Neves, médico de 52 anos e presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), concedeu entrevista ao Grupo Liberal sobre o momento em que vivemos da pandemia da covid-19. Para Neves, aliás, não se pode mais chamar de pandemia, pois não há a mesma gravidade e ocorrência do novo coronavírus em todas as partes do mundo. Jaques Neves é graduado em medicina pela Universidade Federal do Pará (UFPA), desde 1996, e pós-graduado em cardiologia pela Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde do Estado de Minas Gerais.

Como médico e presidente da Comissão de Saúde da Alepa, em que fase da pandemia o senhor acredita que estamos passando neste momento?

A observação que a gente faz é uma que é sensível a todo mundo, todos nós estamos vendo que o grande momento da pandemia já passou, isso sem dúvida, devido à imunização conferida pelas vacinas. Eu acho que nós estamos ainda em um processo de vacinação e que precisa ser melhorado, sobretudo a segunda dose para adultos, a vacinação das crianças, de cinco a 12 anos, e a gente também precisa das doses de reforço para os mais velhos, terceira e quarta dose. É claro que a pandemia vai passar, porque nós já temos vacinas que são eficazes no combate a essa doença covid-19, que é causada por um vírus. E historicamente, quem entende de saúde, quem é profissional de saúde, sabe que as grandes doenças, as pandemias causadas por viroses, ou seja, por vírus, elas são combatidas com vacina. Nós estamos em um momento em que deixamos de ter pandemia e estamos com uma endemia. Nós temos um número menor de casos, mas sempre temos casos acontecendo. Acontece em uma região ali do mundo, outra região no nosso país. Então, nós temos por exemplo um surto acontecendo agora na China, na Ásia, na Europa, e também nós vamos ter surtos no Brasil, mas nunca com a mesma mortalidade e nem a mesma morbidade. Em resumo, eu acredito que a pandemia, o seu grande momento, já passou, ela encaminha para uma endemia em que casos acontecem, mas a transmissão é menor, acontecem casos menores, mas sem mortalidade como era na pandemia.

Na sua avaliação, estamos perto do ‘fim’ da pandemia? O que é preciso ainda para isso se concretizar?

Na minha avaliação médica, talvez a minha avaliação não seja melhor, porque eu não sou nem infectologista, nem epidemiologista. Mas fazendo avaliação médica sensível e para dar uma resposta mais próxima de uma linguagem do povo, todos nós já sentimos a pandemia, mas chegou ao fim. A pandemia já se foi, porque como o próprio nome diz, significa uma doença que se espalha por todo mundo e onde nós temos um grande número de casos causando um uma grande mortalidade, e morbidade, ou seja, muitas precisando internar, seja leito clínico, seja em leito de UTI, o que causou, como todos nós vimos, um grande obstáculo, sistemas de saúde do Brasil e do mundo, todos ficaram congestionados, com um número muito acima da capacidade que o sistema poderia atingir. Agora é preciso que a gente entenda que a pandemia foi, mas o vírus ainda não, existe vírus sendo transmitido, é por isso que nós estamos indo para uma nova fase da doença, que é a endemia, onde nós temos casos isolados. Hoje nós temos casos na Ásia, na Europa, vai chegar no Brasil. Então é preciso que a gente entenda que nós não estamos livres do vírus e o vírus vai se multiplicar por muito tempo, nós temos dois anos praticamente de pandemia, porque ele vai fazer mutação nas suas formas. Algumas formas mutantes, mais agressivas, outras formas que são de mais fácil transmissão, mas talvez não tão letais. É por isso que as grandes aglomerações ainda não são recomendadas, principalmente sem uso de máscaras. Todo dia nós temos noticiário mostrando que no Brasil ainda estamos nas centenas de casos de morte. Não é um número que a gente pode desprezar. A erradicação de vírus nós só vamos ter quando a vacina estiver amplamente utilizada e nós não tivermos mais transmissão. O que não significará que nós não precisaremos mais nos vacinar. Provavelmente vacina contra a Covid-19 vai se tornar como a da gripe H1N1, que hoje já tem várias formas, então a gente precisa ter esta ciência. 

Países da Europa e Ásia estão registrando novo aumento no número de casos de covid-19. Como o senhor avalia essa situação?

Nós estamos passando da fase da pandemia para endemia. E isso se deve ao fato de que o vírus não está erradicado e nós temos surtos por regiões, por continentes, e isso vai acontecer inevitavelmente enquanto o vírus circular, apesar de uma taxa de transmissão menor, ou seja, nós temos ainda pessoas com vírus, algumas delas assintomáticas, e a taxa de transmissão é menor porque em algumas pessoas o vírus entra, e se uma dessas pessoas está vacinada ela não transmite, porque o organismo vai dar conta de bloquear esse vírus, englobar, e ela não vai ficar doente. Então, muito provavelmente está acontecendo isso. Nós já estamos na fase da endemia e nós vamos ter esses casos de surtos, que vão se tornar mais agressivos ou menos agressivos, a depender da nossa conduta. Por isso que a conduta ainda deve ser a de se proteger lavando as mãos, usando álcool gel, evitar aglomeração, e se tiver que ir para a aglomeração ainda é recomendável máscara. Como eu falei anteriormente, máscara nos shows, no grande ônibus lotado, nos metrôs. Vejo ainda um absurdo, nós termos estádios lotados já com plena capacidade e é uma grande aglomeração, os carnavais que estão dizendo que nós vamos ter aí no Rio, São Paulo, para mim é um absurdo, eu repudio, porque nós precisávamos evitar que o vírus se propague, já que nós ainda temos vírus circulante.

Além da liberação de máscaras, estados e municípios estão relaxando em outras medidas envolvendo a pandemia - Belém, por exemplo, não vai mais publicar o boletim diário e não vai ter mais o fim dos leitos exclusivos para a covid-19. São medidas precipitadas ou o senhor concorda com essas decisões?

A respeito de liberação do uso de máscaras, que vem sendo relaxadas por municípios e pelo estado, eu acho que isso já se faz necessário, em resposta ao que a nossa população está vendo. Ninguém mais tem a sensação de que nós estamos no auge, naquele momento que foi extremamente horrível. A população sente isso e ninguém mais se sente confortável com o uso de máscara. Acho que o uso de máscara deve ser relaxado em ambientes abertos, na rua, mas que nós devemos ainda manter em ambientes fechados, como transportes urbanos, como ônibus, metrôs, quem sabe até mesmo o Uber, táxi, e acho também que nós deveríamos manter as outras medidas higiênicas, como continuar lavando a mão. A espécie humana se contamina muito por um hábito errado, que é lavar pouco as mãos. Então nós precisamos lavar as mãos sempre, evitar coçar o olho com as mãos sem estarem higienizadas, sem estarem lavadas, e acho que a medida necessária ainda é a gente conter grandes aglomerações como o carnaval, os eventos nos estádios, sobretudo sem o uso de máscaras. 

Quais são as principais informações que a Comissão de Saúde tem em relação ao cenário da pandemia no Estado?

Sobre os boletins diários das secretarias municipais, estaduais e do Ministério da Saúde. Eu não acho que isso é uma obrigação. Eu acho que isso é um dever que os órgãos gestores, autoridades de saúde deveriam ter, até mesmo pra conscientizar a população de que nós não estamos livres. Quando a gente não fala mais do assunto, parece que não existe mais, mas nós temos ainda casos. Então eu acho que seria bom que a Secretaria Estadual de Saúde e as Secretarias Municipais dessem sim esse boletim diário semanal para que a gente tivesse a conscientização, sobretudo da nossa população, e além do boletim diário falando dos casos, a gente precisa também do boletim diário daquilo que é mais importante nesse momento, que é da vacinação. Então a gente precisa ver o vacinômetro, o instrumento que mostra o nosso pessoal ou o povo sendo vacinado.

Para a Comissão, quais as ações prioritárias que devem ser tomadas agora?

Como Comissão de Saúde, o prioritário agora é exatamente que seja informado e seja cada vez mais publicizado a questão e a necessidade do nosso povo ser vacinado e manter a higienização das mãos para que a gente possa, daqui a pouco, dizer que nós somos uma terra livre e erradicada do vírus da Covid-19. Não podemos relaxar o uso de álcool gel, de lavar as mãos, e também da vacinação. Todo mundo, quando tiver direito à sua quarta dose, faça a sua quarta dose. E os adolescentes também devem fazer o uso da vacina.

Como o senhor vê a questão de uma nova fase de vacinação para a maioria da população, não somente idosos? Acha necessário e indicado?

A questão da fase da vacinação, a vacinação contra a Covid-19 vai fazer parte do calendário de vacinação. Assim como a gripe que hoje nós temos anualmente, nós vamos ter vacinação contra a Covid-19 aí durante um bom tempo. Aqueles que já podem ir para a quarta dose, tomar a quarta dose, vai chegar a quinta dose, vamos tomar a quinta dose. Então, a população precisa se vacinar cada vez mais, precisa entender que a vacina não é um remédio, a vacina é um agente parecido com o vírus, que ensina, sensibiliza o nosso organismo e ensina o nosso organismo a fabricar anticorpos, além de anticorpos macrófagos, que literalmente destroem os vírus quando a gente entra em contato. Então depois que a gente está vacinado, se a gente tiver contato com o vírus, o vírus não causa mais nada. E a vacinação tem que ser ampla, tem que atingir sim crianças, de cinco a 12 anos e daqui a pouco elas tem que atingir as menores de idade. Nós precisamos erradicar esse vírus que nos causou tanto pânico, que nos causou tanta desgraça, que a gente olha para trás e é como uma sombra. Mas que a gente precisa olhar para a frente e saber que Deus nos deu inteligência, sabedoria para que a gente pudesse descobrir esta cura que é a vacina e que daqui para a frente, tem um tempo de esperança livre da Covid e se Deus quiser a gente não tenha mais nenhum caso, porém acho que se nós tivermos precisamos ter como legado ensinamentos que a Covid-19 nos trouxe, para Brasil e sobretudo para o Pará, de que as nossas estruturas do SUS não estão preparadas para atender o nosso povo, e a gente precisa ter a cultura, qual é a cultura? De higiene própria, de lavar as mãos, usar álcool gel. Tem gente que vai no banheiro, sai do banheiro e não lava as mãos. Além de uma falta de educação enorme é uma falta de higiene incalculável. Além disso, nós precisamos também manter a cultura de máscara em caso de gripe, em casos de síndrome respiratória. Gripe é uma Covid-19. Então está espirrando, mantenha a educação coletiva, e a proteção, a solidariedade coletiva usa máscara. Isso a gente já tem nos países da Ásia, Japão, China, e nós precisamos ter isso os ter isso também no Brasil e no nosso Pará.

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