Cid diz em áudio que era 'obrigado a manter versão da PF' e pode ter delação premiada anulada

Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro teve áudios vazados que apontam insatisfação com a condução das investigações

Emilly Melo
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Uma gravação vazada supostamente do tenente-coronel Mauro Cid mostra que ele se sentiu coagido durante os depoimentos prestados à Polícia Federal (PF). Nos áudios, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro critica o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e diz que “eles já estão com a narrativa pronta”. A gravação foi divulgada pela revista Veja.

A Veja não explica como obteve as gravações e nem se foram periciadas, no entanto, o áudio indica ter sido registrado durante uma conversa entre Cid e um interlocutor em algum momento depois de 11 de março deste ano, quando o tenente-coronel deu um depoimento para a PF.

De acordo com o material, Cid se sentiu pressionado a revelar como aconteceram as reuniões e conversas no final de 2022 dentro do governo anterior. Na delação do tenente-coronel, há relatos de oficiais militares do alto escalão que discutiram, junto com Bolsonaro, a possibilidade de um suposto golpe de Estado para impedir que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumisse a presidência após ganhar as eleições.

Integrantes da PF dizem que Mauro Cid pode perder a delação premiada após o vazamento das declarações, a depender de apuração a respeito dos áudios.

Confira a íntegra da transcrição dos áudios com a voz de Mauro Cid:
“Eles queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu.

“Não vai adiantar. Não adianta. Você pode falar o que você quiser. Eu vi isso ontem. Eles não aceitavam e discutiam, que a minha versão não era verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo.

“Eles já estão com a narrativa pronta, eles não queriam que eu dissesse a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam. E toda vez eles falavam: ‘Olha, a sua colaboração está muito boa’. Tipo assim, ele até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por 9 negócios de vacina, 9 tentativas de falsificação de vacina, vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá. Só essa brincadeira são 30 anos pra você’.

“Eu vou dizer pelo que eu senti: eles já estão com a narrativa pronta deles, é só fechar. E eles querem o máximo possível de gente para confirmar a narrativa deles. É isso que eles querem.

“Eles são a lei agora. A lei já acabou há muito tempo, a lei é eles. Eles são a lei. O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta quando quiser, como ele quiser, com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação.

“Se eu não colaborar, vou pegar 30, 40 anos [de prisão]. Porque eu estou em vacina, eu estou em joia”.

Defesa diz que áudios são “clandestinos”

Após a divulgação da Veja, a defesa de Mauro Cid se manifestou, por meio de nota, e afirmou que o militar “em nenhum momento coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade” da PF e da Procuradoria Geral da República (PGR), e que os áudios foram obtidos de forma clandestina.

Leia a nota da defesa de Mauro Cid:

“A defesa de Mauro César Barbosa Cid, em razão da matéria veiculada pela revista Veja, nesta data, vem a público afirmar que:

Mauro César Babosa Cid em nenhum momento coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República ou do Supremo Tribunal Federal na condução dos inquéritos em que é investigado e colaborador. Aliás, seus defensores não subscrevem o conteúdo de seus áudios.

Referidos áudios divulgados pela revista Veja, ao que parecem clandestinos, não passam de um desabafo em que relata o difícil momento e a angústia pessoal, familiar e profissional pelos quais está passando, advindos da investigação e dos efeitos que ela produz perante a sociedade, familiares e colegas de farda, mas que, de forma alguma, comprometem a lisura, seriedade e correção dos termos de sua colaboração premiada firmada perante a autoridade policial, na presença de seus defensores constituídos e devidamente homologada pelo Supremo Tribunal Federal nos estritos termos da legalidade”. (Com informações da Veja)

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