Workshop internacional discute potencial do bambu e palmeiras amazônicas na bioconstrução
Cerca de 40 pesquisadores britânicos e brasileiros se reúnem para discutir o que há de mais novo em estudos sobre construções sustentáveis

Começou nesta terça-feira (1º) e vai até o próximo dia 3 de julho o workshop “Desenvolvimento Sustentável de Materiais de Construção de Base Biológica no Brasil”, uma iniciativa da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), em parceria com a Universidade de Surrey, da Inglaterra. Cerca de 40 pesquisadores britânicos e brasileiros se reúnem para discutir o que há de mais novo em estudos sobre construções sustentáveis, com ênfase no uso do bambu e de palmeiras amazônicas.
Nesta quarta-feira (2), as atividades ocorrerão nos laboratórios da Ufra e no herbário do Museu Paraense Emílio Goeldi. O último dia (3/7) será marcado por uma visita ao Combu, onde os participantes poderão conhecer experiências de bioconstrução realizadas por ribeirinhos da região.
“Nós vamos trazer pesquisadores internacionais renomados que trabalham com o bambu e vamos mostrar a nossa realidade, com as palmeiras e a madeira”, diz a professora Lina Bufalino, coordenadora do evento pela Ufra.
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Bambu, açaí e miriti
A professora explica que há ampla disponibilidade de bambu em todo o Brasil, incluindo espécies nativas da Amazônia. “Ele é um material que cresce rápido e é muito versátil para a bioconstrução. É possível fazer pontes, prédios, vários tipos de estruturas sustentáveis. É muito utilizado na China. Aqui na Amazônia, é uma temática que começou a ser discutida recentemente e ainda precisa ser mais testada e estudada”, afirma.
Os pesquisadores locais vão apresentar soluções já utilizadas há anos pelos povos da Amazônia. “Além da madeira usada na construção de residências, a realidade na Amazônia envolve o uso de palmeiras, com folhas para fazer telhados de casas, por exemplo, além do tronco e da fibra do açaí”, diz.
A novidade está nas pesquisas que vão além dessas utilizações tradicionais, como a mistura do caroço de açaí com cimento. “É possível misturar a fibra do açaí com o concreto, ou seja, dar novas propriedades que esse cimento não teria sozinho. A bioconstrução pode ser pura ou pode resultar da combinação com materiais convencionais”, explica. Trata-se de uma alternativa para o reaproveitamento de resíduos que hoje são descartados em toda a região amazônica. “Eu já desenvolvi aqui no laboratório uma microssílica feita a partir do resíduo do açaí, que funciona como um mineral e pode ser misturada ao cimento, ajudando a dar aquela ‘liga’, a chamada ‘pega’ do cimento”, detalha Lina Bufalino.
Outra palmeira com potencial para a bioconstrução é o miriti. “Queremos mostrar esse biomaterial como alternativa para construções leves. Apesar de muito usado no artesanato, é uma palmeira com várias outras utilidades, como o isolamento térmico e acústico”, diz a pesquisadora.
Pesquisas na Ufra
Em parceria com outros pesquisadores, a professora submeteu a proposta do evento a um edital britânico, com o objetivo de sediá-lo em uma universidade da Amazônia. Os recursos são oriundos da Universidade de Surrey.
Na Ufra, já são desenvolvidas pesquisas com o caroço do açaí e outros bioprodutos, entre eles o AmazonCel, primeiro laboratório dedicado à produção de celulose 100% oriunda de matéria-prima da região amazônica. Outra iniciativa é o AmazonChar, grupo de pesquisa que estuda o aproveitamento de recursos e resíduos de biomassas da Amazônia, com aplicações em bioenergia e biocarvões.
Agora, o objetivo da equipe é incluir a bioconstrução como uma terceira vertente dos estudos desenvolvidos na universidade, dentro do projeto AmazonMate. “Aqui, nós já estudamos profundamente a fibra do açaí. No evento, também vamos mostrar esse resíduo e o que fazemos com ele, discutindo possibilidades de avançar para outras aplicações, como as bioconstruções”, afirma.
Segundo a pesquisadora, as bioconstruções são uma alternativa importante para comunidades remotas, que já convivem com esses materiais, e também uma resposta frente à crise climática. “A alvenaria é o material mais utilizado nas construções, mas pouco se fala sobre a emissão de carbono gerada por esse tipo de estrutura. Os biomateriais são uma alternativa a isso”, conclui.
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