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Proteção à saúde indígena na Amazônia: um desafio ampliado pelo cenário da pandemia

Esforço de vacinação em comunidades no Oeste do Pará resume novo momento dos esforços de lideranças e agentes públicos: fake news e religiosos mantêm resistência à imunização contra a covid-19

Eduardo Laviano e Tarso Sarraf

Desde que Ronoré Gavião, de 105 anos, se tornou a primeira indígena a ser vacinada contra a covid-19 no Pará, em 19 de janeiro de 2021, a imunização dos povos indígenas não parou no Estado. Até o momento, o Vacinômetro registra que pelo menos 10.861 indígenas já receberam a primeira dose do imunizante, enquanto 7.245 destes tomaram a segunda dose.

A Secretaria de Saúde do Estado do Pará estima que mais de 23 mil indígenas devam receber o imunizante. São 55 etnias espalhadas de leste a oeste do território paraense. Só na região do Baixo Tapajós, localizada a aproximadamente 800 quilômetros de Belém, são 12, sendo nove no município de Santarém, entre eles os Tupinambás, os Tapajós e os Boraris. 

image Doses chegam à Aldeia São Pedro (Tarso Sarraf / O Liberal)

Rio adentro, embarcados em rabetas com as vacinas em um isopor, profissionais da saúde se deslocam até as comunidades da região para levar esperança de dias melhores para povos que já sofrem com inúmeras outras adversidades além do vírus.

"A segunda dose está sendo muito importante para mim porque antes a gente tinha esse medo, né? Mas isso é muito importante para a preservação do nosso povo e estou muito agradecido por toda a equipe que veio", afirma Clenilson Gama Arapiuns, um dos indígenas vacinados na aldeia São José III.

image Imunização em Cachoeira do Maró (Tarso Sarraf / O Liberal)

Pará é quarto em perdas para a covid-19


De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, até o dia 12 de março, 1.001 mortes de indígenas em decorrência do novo coronavírus foram registradas. O Amazonas concentra o maior número de mortes: 240.

O Pará está no quarto lugar da lista, com 101 mortes, atrás do Mato Grosso do Sul (107) e Mato Grosso (153). Segundo a associação, 50.468 já testaram positivo para a doença. Joaquim Alves, indígena da comunidade Esperança, define a imunização que recebeu em uma palavra: privilégio.

"A segunda dose está sendo muito importante para mim porque antes a gente tinha esse medo, né? É muito importante para a preservação do nosso povo. Nos sentimos felizes de receber as equipes e sermos vacinados. Era um sonho que eu tinha", sorri Clenilson Gama Arapiuns, um dos indígenas vacinados na aldeia São José III

"Nos sentimos felizes de receber as equipes e sermos vacinados. Para nós é um privilégio viver em um local tão distante e mesmo assim ser beneficiado com a vacina. Era um sonho que eu tinha, que aparecesse alguma coisa para controlar ou amenizar o coronavírus. A vacina chegou e é o nosso meio de se defender", avalia Clenilson Gama Arapiuns.

image Anciã é vacinada na Aldeia Novo Horizonte (Tarso Sarraf / O Liberal)

Resistências e fake news desafiam imunização


Em fevereiro de 2021, o governo do Estado do Pará precisou elaborar uma estratégia de combate à desinformação nas aldeias indígenas paraenses, após denúncias de que diversos indígenas não queriam se vacinar após orientações sem fundamento científico dadas por líderes religiosos que frequentam as comunidades.

Profissionais da saúde relatam resistência de alguns indígenas para receber o imunizante em todo o Brasil. É fruto, também, do fato de muitas aldeias com acesso a internet receberem fake news via Whats App, que viralizam com supostos efeitos colaterais da vacina.

image Moradora da Aldeia Esperança: saúde luta contra fake news (Tarso Sarraf / O Liberal)

"Eu não senti nada. Só um pouquinho de dor de cabeça porque eu fui teimar em trabalhar logo depois, mas parei. A gente tem que tomar porque a doença está aí no mundo e de repente pode acontecer com alguém que não quis tomar a vacina e a pessoa se arrepender, já é tarde", aconselha Dalvânia Soares Costa, da aldeia Cachoeira do Maró. 

O Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas chegou a se pronunciar, afirmando que, de fato, "um segmento neopentecostal que afirma que as vacinas não são boas, são do Diabo, e colocaram seus membros dizendo que não podem vacinar".

Em entrevista à BBC News Brasil, o presidente do Conselho, pastor Henrique Terena, disse que não é a igreja evangélica ou os pastores indígenas que estão pregando contra a vacina e sim pessoas "que se dizem evangélicas, que são pastores, mas que não são". 

O Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas chegou a se pronunciar, afirmando que, de fato, "um segmento neopentecostal que afirma que as vacinas não são boas, são do Diabo, e colocaram seus membros dizendo que não podem vacinar"

image Cartão de vacinação: missão de saúde enfrenta resistência de grupos religiosos no Pará (Tarso Sarraf )
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