Pará: aeronave britânica realiza primeiro voo na Amazônia para estudar o clima global
Pesquisadores pretendem apresentar dados na COP 30

Uma aeronave "Twin Otter" do British Antarctic Survey (BAS) iniciou seus primeiros voos na Amazônia, em uma missão que busca coletar dados cruciais sobre o clima do planeta. O primeiro voo decolou na manhã da última sexta-feira (26/9) de um hangar particular localizado no aeroporto Internacional Wilson Fonseca, em Santarém, região oeste do Pará. A iniciativa faz parte do Projeto CarbonARA-Brazil, uma pesquisa internacional que foca no monitoramento do ciclo do carbono na região do Baixo Tapajós.
De acordo com o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordenador da parte aérea do CarbonARA, Dirceu Luiz Herdies, a aeronave irá efetuar cerca de 55 horas de voo, divididas em 15 etapas de 4 horas. Os voos ocorrerão entre setembro e outubro de 2025, sobrevoando a Floresta Nacional do Tapajós e a Fazenda Experimental da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). O avião, ideal para missões remotas, é equipado com instrumentos que medem concentrações de gases de efeito estufa, como CO² e metano, e aerossóis, como fuligem, poeira e fumaça oriundas de incêndios. “Queremos entender melhor como funciona a Amazônia, a interação que ela tem com o globo como um todo”. Ele afirmou ainda que os dados coletados nessa campanha devem ser apresentados na COP30, que será realizada em Belém, em novembro.
“É uma missão científica inédita, que vai ocorrer por 40 dias em Santarém, que será a base do nosso projeto CarbonARA. Esse projeto busca entender a Amazônia, como é a captura e liberação de carbono, que são informações essenciais para enfrentar as mudanças climáticas. Durante esses 40 dias, vamos ter diversos voos de coletas de dados em regiões de floresta natural e secundária, assim como pastagens e outras partes de agricultura. O objetivo do projeto é a redução das incertezas das emissões dos gases do efeito estufa e compreender melhor o papel da floresta amazônica na regulação climática global”, detalhou Dirceu.
Representantes do projeto destacam a importância dessas medições. Ao sobrevoar áreas de interesse, a aeronave coleta dados atmosféricos em tempo real, que serão comparados com as informações dos satélites da Agência Espacial Europeia (ESA). A comparação permite verificar a precisão das medições orbitais e aprimorar os modelos climáticos, informou o controlador de operações da aeronave Daniel Beedon.
A Ufopa é a única instituição amazônica no consórcio do projeto, que é coordenado pelo King’s College London. A universidade é responsável por coordenar as atividades locais, reforçando a relevância da pesquisa científica conduzida na região. O projeto, que também utiliza torres, sensores e drones, integra esforços para entender o papel da Amazônia no balanço climático global, especialmente no que se refere aos impactos das queimadas. Os representantes do projeto também destacaram o papel crucial da Ufopa para a viabilização do projeto, que é localmente coordenado pelo pesquisador Júlio Tota, professor do curso de Ciências Atmosféricas da Ufopa.
Sobre o BAS
O British Antarctic Survey (BAS) é o centro nacional de pesquisa polar do Reino Unido, responsável por conduzir a ciência em regiões polares e manter a presença ativa do país na Antártica. Parte do Natural Environment Research Council (NERC), o BAS opera cinco estações de pesquisa, navios e aeronaves, realizando pesquisas sobre o clima, camada de ozônio e vida selvagem polar para gerar conhecimento global sobre o planeta.
Após a campanha em Santarém, a aeronave seguirá para a Antártida, sua base de operações para pesquisas polares.
Por que esse projeto é importante para a Ufopa?
A participação da Ufopa nesse projeto reforça seu papel como um centro de excelência em pesquisa na Amazônia. A universidade contribui com conhecimento local para uma iniciativa de alcance global, utilizando equipamentos e tecnologias de ponta. Essa colaboração não só aprimora nosso entendimento sobre o ecossistema amazônico, mas também fortalece a posição da Ufopa no cenário da pesquisa climática mundial.
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