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Marabá: mais de 4 mil famílias vivem drama após cheia histórica do rio Tocantins

Conheça histórias de quem teve de sair de casa porque viu a água chegar ao telhado. Governo do Estado e Prefeitura de Marabá atuam para mitigar os prejuízos causados pelas enchentes

Filipe Bispo, especial para O Liberal
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Numa enchente recorde em Marabá, no sudeste do Pará, o rio Tocantins subiu mais de 14 metros nas primeiras semanas do ano. Foi fora do período normal de alta, pegando milhares de famílias de surpresa. Até quinta-feira (20), a Prefeitura de Marabá registrava 4.296 famílias atingidas, que tiveram casas tomadas pela água, no pior nível dos últimos 20 anos. Outras, apesar do drama social, resistem aos alertas da Defesa Civil e da Prefeitura para deixarem os lares por segurança.

Por vários dias, um novo relatório da Defesa Civil alertava que o rio não parava de avançar A orla da cidade foi completamente alagada, com casas e estabelecimentos comerciais já desocupados ou com o primeiro andar sem utilidade. As pessoas que antes circulavam ruas, a pé ou em veículos, hoje formam congestionamento de embarcações para transporte de pertences das casas ou rotina de trabalho normal na parte não alagada da cidade. Alguma boa notícia chegou nesta quinta: o nível da água começou a baixar, mas ainda é pouco para amenizar a tristeza.

Entre os bairros mais afetados está o Santa Rosa. Na avenida Pará, a maioria das casas foi totalmente coberta pela água, sobrando apenas o telhado visível. O lixo se espalha e é carregado pela água. Ainda há alguns animais de estimação que não foram resgatados. O cenário de casas vazias, com as portas abertas pela força da água, chega a ser desolador. Alguns moradores estão ilhados por opção, que é o caso da família do Enzo, uma criança de 9 anos que está na casa há mais de duas semanas.

Dona Maria dos Remédios, 65 anos, também ficou em casa, enquanto a filha que morava no primeiro andar saiu. “Moro aqui há 50 anos e nunca vi a água avançar tanto, é terrível. Não veio ninguém aqui ajudar. Disseram que não vou receber cesta porque estou na minha casa, mas não tenho como ir para um abrigo”, relata.

image Onde antes havia trânsito de pessoas, há congestionamento de embarcações (Felipe Bispo / Especial para O Liberal)

O mesmo aconteceu com dona Rosimeri dos Santos, que mora há 30 anos no bairro Santa Rosa. Ela falou que já está há uma semana ilhada e conseguiu proteger os móveis de casa. Porém, também não recebeu assistência devido ao fato de ela ter optado ficar em casa. Mesmo no meio do alagado, possui água e energia elétrica para se manter. Pode parecer alguma coisa, mas ainda é um risco.

Um dos primeiros abrigos feito foi em uma praça da orla, que já está sendo atingida pelo rio. Os alojados correm para remontar os barracos de madeira, como é o caso do Anderson Monteiro, de 52 anos, morador do bairro Santa Rosa, que estava fazendo manutenção no abrigo em que a família dele se encontra. Ele é o provedor de uma  família com sete pessoas.

“Fomos obrigados a sair de casa. Venho da rua São Jorge, que foi totalmente alagada, e já estou aqui há 13 dias”, comentou Anderson. destaca que os órgãos deram apoio à família com uma cesta básica e material de construção para o abrigo, mas alertou que membros da família e outros conhecidos, inclusive crianças, já começaram a demonstrar problemas intestinais, pois estão em contato com água contaminada e possuem difícil acesso a água potável. Por mais que os abrigos estejam em torno de uma unidade básica de saúde, as infecções são um problema persistente.

Francilene Carneiro, de 44 anos, é cunhada de Anderson. Se tornou vizinha, morando ao lado dele. Ela conta que o medo do avanço da água é constante e teme que seja forçada a se mudar novamente, pois está vivendo em meio à água. Diversos comerciantes e moradores da orla reclamam do fluxo de veículos e barcos grandes.

image O Exército tem dado total apoio às famílias e é a única entidade com um veículo sobre rodas capaz de circular pela área alagada (Felipe Bispo / Especial para O Liberal)

Governo do Estado e Prefeitura formam força-tarefa para atender às famílias atingidas

Existe um esforço conjunto de órgãos públicos para contornar a situação enquanto a água sobe. A Prefeitura de Marabá e o Governo do Estado organizaram abrigos com tapumes em diversas regiões da cidade. A situação dos abrigos pela cidade é complicada pela fragilidade, mas são o que poderia ser feito com a urgência que a situação pedia. O excesso de pessoas leva a alguns perrengues. Crianças são expostas à água contaminada e barracos feitos de tapumes se misturam aos alojamentos. Faltam banheiros para todos e as pessoas, para conseguirem alimento, têm pescado com malhadeira fina (rede) mesmo em época de piracema (quando peixes se reproduzem).

O exército disponibilizou 13 caminhões que rodam a cidade para transportes. O coronel Luciano Cabanas, comandante do 23º Batalhão de Infantaria da Selva (BIS), afirma que os militares já fizeram 500 mudanças, 500 entregas de cestas básicas e que a força está disponível 24 hora para apoio.

A Defesa Civil organiza o cadastramento da população necessitada para receber assistência. Acompanhando o caminhão do Exército, que é o único veículo sob rodas que consegue se locomover pelas ruas alagadas, foi possível acompanhar o suporte dado a Dona Dina, que mora há 57 anos na orla da cidade.

“Minha filha já foi para outra casa alugada, mas vou ficar aqui em casa, com minhas coisas, e vou fazer igual meu pai fazia quando eu era criança: vou amarrar meu barco na frente de casa e esperar o rio subir. Mas é a primeira vez que o exército ajuda a gente”, comentou. Também revelou temer que as águas subam igual à cheia dos anos 80, que encobriu o setor comercial ainda mais alto da cidade. Essa apreensão existe entre outros moradores.

Quem desejar ajudar as famílias com doações, os pontos oficiais da Prefeitura para arrecadação são a sede da Secretaria de Assistência Social, Proteção e Assuntos Comunitários (Seaspac), que fica na Travessa da Fonte, bairro Amapá, Marabá – em frente ao CAP e ao lado do Ministério Público Estadual, e na sede da Defesa Civil Municipal, que está em novo endereço, na Rua 7 de Junho, nº 1020, Marabá Pioneira. A arrecadação é das 8h às 16h. Os itens prioritários são alimentos não-perecíveis, itens de higiene pessoal, roupas e artigos de cama, mesa e banho.

image Dona Franciele Carneiro disse que não vai sair de casa e vai esperar a cheia com um barco na porta (Felipe Bispo / Especial para O Liberal)

Programa "Recomeçar" é proposta para retomada da normalidade após a cheia

Começa neste sábado (22) o cadastramento de famílias de Marabá no Programa "Recomeçar", criado pelo Governo do Pará. A medida agora vai beneficiar desabrigados e desalojados por conta das enchentes no município. A iniciativa prevê o pagamento, em parcela única, de auxílio financeiro voltado à reconstrução dos imóveis danificados pelas águas. O cadastramento começas às 8h, no Centro Regional de Governo do Sudeste do Pará (Rodovia BR-222, nº 5210, no Núcleo Nova Marabá).

A Defesa Civil classifica como "desalojados" aqueles que foram obrigados a deixar suas casas para morar, temporariamente, em casas de parentes, amigos ou vizinhos. São as famílias que não tiveram a necessidade de estar em abrigos públicos.

Nesta fase de cadastramento, os atendimentos ocorrerão gradativamente e por ordem alfabética de beneficiários que constam de uma lista oficial, com previsão de divulgação ainda nesta sexta-feira (21). Quem estiver na lista deverá comparecer ao Centro Regional de Governo com RG, CPF, conta de luz da residência atingida e o Cadastro Único (CadÚnico). O governo do Estado reforça que não é necessário o deslocamento até a Defesa Civil Municipal.

O Programa “Recomeçar” concede em situações emergenciais auxílio financeiro, em parcela única, a famílias em situação de vulnerabilidade social. De acordo com o decreto do governo do Estado, o programa vai atender vítimas de calamidade pública ocorrida no primeiro semestre de 2022, e em situação de emergência ocasionada pelas fortes chuvas, deslizamentos, inundações, enxurradas e alagamentos.

O objetivo do governo é oferecer às famílias um valor que possa ser utilizado na reconstrução dos imóveis danificados pelas águas. Para ter acesso ao benefício, a família deve ter renda mensal de até três salários mínimos e residir em imóvel atingido diretamente pelas fortes chuvas, de forma grave.

 

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