Feijão apresenta concentração elevada de agrotóxico e risco à saúde, diz pesquisa

Pimentão e morango também apresentam altas concentrações de químicos, segundo estudo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)

Emanuele Corrêa e Fabyo Cruz

27.05.22 17h54

Dados da pesquisa realizada pelo Mapa, levantados em 2020, mostraram que 77% das amostras do feijão-de-corda e 37% do feijão comum não estam dentro dos parâmetros considerados convenientes (Igor Mota/O Liberal)

O feijão é um dos ítens quase indispensáveis na mesa do brasieliro. Aliás, o país é conhecido internacionalmente como o maior produtor e consumidor do alimento no mundo. Entretanto, pesquisas apontam que os feijões e outros alimentos apresentaram concentrações elevadas de resíduos de agrotóxicos e produtos químicos sintéticos proibidos. Ou seja, perigosos para a saúde humana. Para evitar complicações futuras, especialistas dão orientações de como proceder na hora de fazer as compras.

VEJA MAIS

Superbactérias podem ser transmitidas de porcos para seres humanos; entenda
Os cientistas creem que à disseminação de micro-organismos resistentes seja pelo uso de agrotóxicos e antibióticos

Comunidades ribeirinhas alimentam parte de Altamira com produtos livres de agrotóxicos
Ações fazem parte de um edital do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), lançado em 2020 pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), do governo federal

Dados da pesquisa realizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), levantados em 2019, mostraram que 89% das amostras de feijão-de-corda, também chamado de feijão caupi, e 32% de feijão comum não estavam dentro dos parâmetros considerados convenientes. No ano seguinte, os índices reduziram para 77% das amostras do feijão-de-corda e 37% do feijão comum, porém, continuaram inadequados. Entre os 37 produtos analisados, o pimentão e o morango também apresentam concentrações elevadas de agrotóxicos.

Quando quer comprar feijão, assim como verduras e legumes, Mari do Carmo Tavares, 85 anos, vai à Feira da 25, no bairro de São Brás, em Belém. A consumidora conta que costuma frequentar o mercado desde criança. Ela diz que não viu notícias recentes sobre o excesso de agrotóxicos nos alimentos, porém indagou: “o que não tem agrotóxicos?".

Para ela, uma das principais preocupações dos clientes é referente ao preço do alimento. "O que não tem agrotóxicos hoje em dia? Legumes, tudo, tem em tudo. E está tudo caro pra gente, também interessa é o preço. O que eu faço, eu lavo bem o feijão antes de cozinhar. Mas o que podemos fazer? Se comer um feijão assim, morre, e se não comprar morre de fome? Não sabemos onde vamos parar", disse a consumidora.

VEJA MAIS

Teste da Anvisa encontra agrotóxicos acima do permitido em alimentos

Agricultura familiar é fonte de alimentação saudável e livre de agrotóxicos
Feira na UFPA teve como objetivo valorizar o trabalho de pequenos agricultores e conectá-los diretamente com consumidores que precisam de alimentação a preço justo

Ladanias Marques, 78 anos, trabalha há 50 anos na Feira da 25. Ele diz que se preocupa com a origem dos produtos que comercializa, entre eles, o feijão. Para ele, os cuidados com a compra de marcas populares no mercado. "Tomo bastante cuidado com isso, verifico a procedência. Compro marcas conhecidas aqui de Belém, que fornece basicamente para todo mundo, pras redes de supermercado também. Eu vendo vários tipos de feijões, entre eles, preto, carioca, cavalo, feijão da colônia, caupi, feijão manteiguinha de Santarém, vários", contou o comerciante.

Quais riscos os agrotóxicos podem trazer à saúde humana?

A nutricionista Thais Veloso explica que a intoxicação por agrotóxicos pode ocasionar tonturas, cólicas abdominais, náuseas, vômitos, dificuldades respiratórias, tremores, irritações na pele, nariz, garganta e olhos; convulsões, desmaios, coma e até mesmo a morte. “Mas, depende do nível de consumo dessa substância. Em uma alimentação habitual, se não higienizarmos as hortaliças, os agrotóxicos podem prejudicar o fígado e são suspeitos de provocar o aumento nos casos de câncer no Brasil, cuja estimativa, que era de 518 mil novos casos no período 2012/2013, foi elevada para 576 mil em 2014 e 2015, segundo a Abracen”, especificou.

Alternativas

Para consumir alimentos saudáveis e sem agrotóxicos, a melhor alternativa é incluir na alimentação os alimentos orgânicos, diz a especialista. Thais Veloso também conta que uma maneira de remover ao máximo os vestígios de agrotóxicos e impurezas presentes nos legumes frutas e verduras é a higienização em solução com bicarbonato de sódio, segundo estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Indicações de uso para higienização são:

Lavar o alimento em água corrente,
Escovar para retirar as impurezas superficiais
Adicionar a uma vasilha a proporção de 1 litro de água para 1 colher de sopa de bicarbonato de sódio
Deixe agir por 30 minutos e, após esse tempo, enxágue o alimento em água corrente, seque e armazene sob refrigeração.

Recomendações para o feijão

“Tanto para o arroz quanto para o feijão, a recomendação de higienização é lavar bem em água corrente e não usar o bicarbonato de sódio, já que ele vai interferir no cozimento. Grande parte dos agrotóxicos são perdidos na água”, afirmou a nutricionista.