Dia Mundial do Rim: doenças renais podem se tornar a quinta maior causa de morte no mundo

O Pará tem capacidade para atender 1.656 pacientes com insuficiência renal aguda ou crônica graves

Camila Guimarães, Valéria Nascimento e Flávia Barros

De janeiro a dezembro de 2021, no Pará, foram feitas 34.280 sessões de hemodiálise para pacientes com doenças renais. São 276 máquinas para o procedimento no Estado com capacidade para atender 1.656 pacientes com insuficiência renal aguda ou crônica graves. O balanço é da Secretaria de Estado de Saúde do Pará (Sespa), especialmente por conta do Dia Mundial do Rim, celebrado na segunda quinta-feira de março (hoje). Os cuidados também ganham mais visibilidade por conta da campanha Março Vermelho, que tem o objetivo conscientizar e alertar a população sobre os riscos do câncer renal e também sobre os cuidados com a saúde do rim como um todo. 

doença renal geralmente é silenciosa, dizem os especialistas, não dá sinais ou sintomas, sobretudo, no início, por isso é fundamental a prevenção. Os prognósticos da Sociedade Internacional de Nefrologia são assustadores. As doenças renais podem se tornar a quinta maior causa de morte no mundo até 2040, diz a ISN, na sigla em inglês. 

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A Redação Integrada ouviu médicos dedicados ao diagnóstico e tratamento clínico das doenças do sistema urinário, principalmente relacionadas ao rim, para levantar o quadro do serviço de saúde pública no Pará.

De início, é necessário saber que alguns sintomas devem acender um alerta para a possibilidade de doença renal. Nefrologistas alertam também para a necessidade de se consultar um especialista para o diagnóstico correto. Veja a lista de sintomas mais comuns:

  • Inchaço nos pés, pernas, braços ou rosto;
  • Cansaço excessivo sem razão aparente;
  • Perda de apetite e sabor metálico na boca;
  • Anemia;
  • Urina com espuma escura e cheiro alterado;
  • Coceira em todo o corpo;
  • Dor constante nas costas;
  • Vontade frequente para urinar ou em pouca quantidade de cada vez.

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Os rins têm função reguladora, eles filtram os produtos tóxicos que resultam da atividade celular, contribuindo para a manutenção adequada de algumas substâncias existentes no sangue, como a água e os sais minerais. 

ATENDIMENTO NA REDE PÚBLICA DE SAÚDE

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde do Pará (Sespa), a rede pública de saúde estadual dispõe de 13 Serviços de Terapia Renal Substitutiva, distribuídos entre os municípios de Belém, Altamira, Bragança, Breves, Itaituba, Marabá, Marituba Redenção, Santarém e Ulianópolis.

Estes 13 polos de atendimento oferecem serviço de alta complexidade em nefrologia sob a gestão estadual, com oferta de serviço de Hemodiálise Ambulatorial. Entre as unidades estão o Hospital Regional Público do Araguaia, Hospital Regional Público Dr. Abelardo Santos, em Icoaraci, e o Hospital Regional Público da Transamazônica, em Altamira. 

A Hemodiálise é o procedimento onde uma máquina filtra e limpa o sangue, executando parte do trabalho que o rim doente não pode fazer. Neste processo, são retirados do corpo os resíduos prejudiciais à saúde, como o excesso de sal e de líquidos. 

image  (Divulgação/Agência Pará)

Segundo a Sespa, de 2019 até o momento, a atenção dada a essa especialidade já vem acontecendo com a inauguração de dois novos centros em Itaituba e Breves. No Hospital Regional Público do Marajó, em Breves, unidade que atende os municípios do 8º Centro Regional de Saúde, a média de sessões de hemodiálise realizadas mensalmente é de 242 atendimentos, com 21 pacientes inscritos em programa de hemodiálise ambulatorial, que realizam as sessões em três turnos. Os pacientes são acompanhados por uma equipe multiprofissional composta por médicos nefrologistas, cirurgiões vasculares, enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistente social, nutricionista, fisioterapeuta e psicóloga. 

Coordenadora da Central Estadual de Regulação, Camylla Rocha, explica que os pacientes portadores de Doença Renal Crônica em tratamento conservador em ambulatório, ou seja, nas Unidades de Referência Especializadas (UREs) e com indicação de hemodiálise ambulatorial, são orientados por médicos nefrologistas a procurar a Secretaria Municipal de Saúde, do município em que residem, para a solicitação de vaga de hemodiálise ambulatorial. 

"Munidos de documentos pessoais, exames complementares e laudo médico (os médicos) encaminham o paciente para o ingresso no programa de Terapia Renal Substitutiva (TRS). Os municípios encaminham a solicitação de vaga de hemodiálise ambulatorial ao serviço mais próximo, preferencialmente dentro de sua Região de Saúde, de acordo com a disponibilidade de vagas”, informou a coordenadora da Central Estadual de Regulação. 

CONVIVER COM A HEMODIÁLISE É DIFÍCIL, MAS NÃO É O FIM

Regina Fátima, de 40 anos de idade, é paciente renal crônica em consequência do lúpus, doença inflamatória autoimune que pode afetar diversos órgãos do corpo, entre eles, os rins. Ela faz hemodiálise há 18 anos e conta como os problemas de saúde se desenvolveram: “Eu tenho lúpus há mais de 20 anos, ele foi atacando meu rim até ele parar de funcionar. Atualmente, meus dois rins não funcionam mais e eu preciso fazer hemodiálise regularmente”.

image Regina Brito, paciente renal (Cristino Martins / O Liberal)

Ela conta que já teve a oportunidade de fazer um transplante renal, mas que infelizmente não foi bem-sucedido, pois houve rejeição do organismo: “Há 10 anos eu fiz transplante, com órgão de pessoa morta, mas deu rejeição em menos de 24h e tivemos que tirar. A minha cirurgia foi complicada, quase morro. Tomei sangue, fiz parada cardíaca, tive trombose, então nem quero mais tentar”.

Desde então, Regina depende da hemodiálise para manter a saúde. Ela relata que o processo é demorado e, por conta disso, não consegue mais trabalhar ou estudar. “Eu faço três vezes na semana e dura, geralmente, quatro horas. Impactou em praticamente tudo, não dá pra trabalhar, não consigo estudar, porque na maior parte do tempo a gente se sente mal, se sente fraca. Mas eu ainda me considero bastante ativa. Tem pacientes que não têm condições de fazer nada mesmo”.

Para ela, apesar de não ser uma situação confortável, é importante destacar que a hemodiálise não é o fim da vida: “Dá pra conviver com ela. Eu aprendi a ter um olhar melhor para as pessoas, a entender que o diferente não é um bicho de sete cabeças e que podemos viver. Lógico, com certo cuidado, mas dá para viver”, pontua.

Regina conta que, desde a parada dos rins, precisou tomar muito cuidado com a qualidade de vida, sobretudo com a alimentação: “Eu tomo muita medicação para pressão e a comida é controlada. Tenho que evitar gordura, sal… É uma alimentação bem regrada. A gente também não pode tomar muito líquido, incluindo na alimentação, como sopa, caldos, suco porque a gente não urina, já que é a máquina que faz toda a limpeza do sangue pra gente. Então é um cuidado rigoroso e constante”, explica.

Casos como o de Regina, que desenvolveram doença renal em consequência a outros problemas de saúde, são comuns, no ponto de vista do médico especialista em urologia, José Ricardo Tuma. Ele explica que doenças e maus hábitos de saúde estão entre as principais causas de alterações funcionais nos rins: “Algumas doenças podem afetar o funcionamento dos rins, como as reumatológicas e infecciosas. Nós temos o lúpus, por exemplo, mas também a diabetes e a hipertensão. Além disso, temos a alimentação desequilibrada e uso indiscriminado de medicamentos”.

image Urologista José Ricardo Tuma (Sidney Oliveira / O Liberal)

O médico diz que é muito comum que pessoas com problemas como diabetes e hipertensão desenvolvam doenças renais por causa da demora no surgimento dos sintomas. “O paciente, muitas vezes, acha que só por que não está sentindo nada, não precisa de medicamento e também não faz exames regulares”, pontua. Ele também alerta para o risco da automedicação, principalmente com anti-inflamatórios, que a longo prazo podem prejudicar os rins.

Entretanto, para quem busca um cuidado maior com a saúde, José Ricardo garante que alguns exames simples são capazes de detectar problemas renais precocemente. Doenças renais cirúrgicas, como casos de cálculo renal, tumores e abscessos, podem ser diagnosticadas por meio de ultrassonografia, tomografia e ressonância magnética.

Sespa anuncia que Estado ampliará atendimento de hemodiálise no território paraense

O governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), informou à Redação Integrada que criará e ampliará ainda este ano o atendimento de hemodiálise em pontos estratégicos do Estado, entre eles, a Policlínica de Tucuruí e dos Caetés, no Hospital Regional Santa Rosa, em Abaetetuba, no Hospital Regional do Tapajós, em Itaituba e no Hospital Geral de Tailândia. 

“A ampliação desse serviço vai permitir atender cada vez mais pessoas e possibilitar que não haja o deslocamento da população para locais muito distantes em busca de atendimento. Os locais em que este serviço será ampliado são considerados estratégicos, pois possuem um grande número de pessoas nas regiões próximas que necessitam desse atendimento”, afirma o Secretário de Saúde do Estado, Rômulo Rodovalho. 

Confira dicas importantes para cuidar da saúde renal:

image (Alynne Cid)
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