Cidades do Marajó, no Pará, ficam cobertas por fumaça e moradores denunciam focos de incêndio
Segundo moradores de Breves, a situação começou a piorar há um mês e se intensificou nos últimos dias. Portel vive situação semelhante
Moradores de duas cidades do Marajó, no Pará, têm denunciado focos de incêndio. A situação tem causado grandes nuvens de fumaça nos municípios, principalmente na área rural. Em Breves, os moradores relataram que existiam, até o dia 11 deste mês, mais de 30 focos de incêndio no local. O professor Fábio Paes, de 43 anos, é morador da cidade e comentou que, há cerca de um mês, a população tem notado a proliferação de fumaça causada por queimadas desenfreadas.
“A população tem identificado que, na sua maioria, os focos são provocados e não pela força da natureza. Em muitos locais, os incêndios são causados por proprietários de terras que estão fazendo loteamento para construção de casas e usam o fogo como forma de devastação. As unidades de saúde já sentem o aumento significativo de pacientes com problemas respiratórios causados pela intensa fumaça que se prolifera diariamente pela cidade”, contou.
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Segundo ele, os moradores se organizaram, junto com entidades da sociedade civil, em um movimento contra a fumaça e pelo direito de respirar. Já foram protocolados diversos documentos junto à Prefeitura, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil Municipal, Guarda Municipal, Polícia Militar e Polícia Civil cobrando providências.
“A Prefeitura diz que foi montado um grupo interinstitucional para combater os focos de incêndio. No entanto, a população reclama que não consegue ver ações concretas e com resultados positivos desse grupo de trabalho. O Corpo de Bombeiros, por sua vez, alega falta de estrutura para combater os incêndios”, afirmou o professor ao Grupo Liberal.
Por conta disso, na última quinta-feira (14), o movimento fez uma manifestação na Câmara Municipal, mas, de acordo com Fábio, os vereadores se recusaram a receber lideranças. Em meio a tudo isso, ele detalhou que mais de 35 escolas localizadas na zona urbana já planejam paralisar suas atividades em virtude da qualidade do ar. Confira imagens de Breves:
Movimento cobra respostas
A professora Claudiane Ladislau, de 45 anos, é outra moradora que tem sentido os efeitos das queimadas em Breves. Ela faz parte do movimento “Breves Pede Socorro” e mora próximo a um lixão da cidade, onde muitos focos de incêndio começam, segundo ela. “É como se fosse uma neblina, mas na verdade é uma fumaça muito forte, muito tóxica. A gente começou a notar que essa fumaça está cada vez mais forte”, detalhou.
Pelo levantamento realizado pelo grupo, são mais de 30 focos de incêndio, isso contando apenas até o dia 11 deste mês, sendo que apenas cinco haviam sido controlados e a cada dia surgem novos focos de incêndio, de acordo com Claudiane. A professora disse ainda que existe muito conflito de terras na região e por isso ela acha que os focos de incêndio são criminosos.
Dada a situação, o grupo “Breves Pede Socorro” passou a se mobilizar. Técnicos, engenheiros ambientais, engenheiros florestais e outros profissionais ajudaram o movimento a elaborar um documento para protocolar junto aos órgãos. Porém, ela lembrou que falta transparência para divulgar o que está sendo feito para lidar com essa crise na cidade, e que a população cobra medidas urgentes. “O efetivo que está enfrentando o fogo não é suficiente para acabar, tanto que nós estamos há vários dias e a situação só tem piorado”.
Em nota enviada à reportagem, a Prefeitura de Breves informou que está trabalhando na prevenção, fiscalização e combate às queimadas no município, de forma intensiva, por meio da operação “Patrulha do Meio Ambiente”, ao lado da Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e Defensoria Pública.
Portel está coberta por fumaça
Já no município de Portel, imagens mostram os rios cobertos por fumaça, além de pontos urbanos também vivendo a mesma situação. O Grupo Liberal entrou em contato com a Prefeitura da cidade, mas até o momento, não obteve resposta.
Segundo um morador, que preferiu não se identificar, a situação começou no final de outubro, mas, nesta semana, a fumaça se intensificou no município, junto com o cheiro forte de queimada. “É mais perceptível durante a noite. De dia, fica só o cheiro de queimado, porque a fumaça se camufla e não aparece tanto. Mas, durante a noite, a gente consegue perceber mais”, contou.
O morador disse que um representante da Prefeitura explicou à população que este é o período de queimadas. Em um áudio enviado por ele ao Grupo Liberal, uma pessoa não identificada diz que “o povo do campo, o pessoal que tem pasto, o pessoal que prepara a área para plantar mandioca, costuma fazer um preparo de área, que a gente chama de preparo da área tradicional, que a roçagem, e nesse período agora eles fazem a queima”.
Porém, o denunciante tem achado a proporção das queimadas muito grande. “Dizem que os ribeirinhos que plantam mandioca fazem o preparo queimando a terra para a plantação, mas percebemos que não se trata somente deles, também são os fazendeiros. Agora tem grandes empresários que estão investindo em fazendas para cá. Estão queimando sem controle, só os ribeirinhos com suas roças não fariam esse estrago todo”, relatou.
Ainda de acordo com ele, nenhuma medida foi tomada para cessar as queimadas no município, e os moradores não receberam resposta da Prefeitura sobre isso. O que tem ocorrido também, segundo o denunciante, é o aumento de problemas respiratórios na cidade. Ela tem uma criança que é asmática e que tem tido mais crises. Ao levá-la ao hospital, outras pessoas estavam com o mesmo sintoma.
O Grupo Liberal também entrou em contato com o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e aguarda resposta.
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