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Além da farda: descubra como é a vida em família na fronteira amazônica

Militares e suas famílias vivem rotina de dedicação e sacrifício em Clevelândia do Norte, no extremo norte do Brasil, onde a missão ultrapassa o profissional e se transforma em vocação

Wesley Costa

No extremo norte do Brasil, onde a selva se mistura com o silêncio das águas do rio Oiapoque, a vida militar ganha novos contornos. Distante dos grandes centros urbanos, a Companhia Especial de Fronteira de Clevelândia do Norte, ligada ao 34º Batalhão de Infantaria de Selva (34º BIS), abriga cerca de 467 moradores, distribuídos em 133 domicílios. Homens e mulheres que, longe da comodidade das capitais, fazem da farda não apenas uma profissão, mas um verdadeiro sacerdócio.

Localizado no município de Oiapoque, no Amapá, o distrito de Clevelândia do Norte ocupa posição estratégica na divisa com a Guiana Francesa. Ali, militares de diversas partes do Brasil se revezam em missões contínuas de vigilância e proteção da fronteira. Além de zelar pela soberania nacional, o Exército atua com poder de polícia, integrando forças com instituições como a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e demais agências de fiscalização, em operações terrestres e fluviais.

image Fiscalização no Oiapoque em parceria com a PRF (Foto: Wagner Santana | O Liberal)

A CEF/34º BIS tem raízes históricas que remontam a 1940, quando a antiga Colônia Penal Agrícola de Clevelândia do Norte foi transformada em Colônia Militar. Com o passar dos anos, a unidade evoluiu para o que hoje é a Companhia Especial de Fronteira, completando mais de 80 anos de presença contínua na defesa da faixa de fronteira brasileira — uma trajetória marcada por resiliência, patriotismo e presença estratégica na Amazônia Oriental.

Morador elogia ações de fiscalização militar

A vida no distrito é marcada por um cotidiano simples, mas essencial. Adilson Pessoa dos Santos, morador local vindo de Altamira (PA), há 20 anos atua no transporte fluvial de passageiros para comunidades ribeirinhas. Suas embarcações cruzam diariamente o rio Oiapoque e, segundo ele, o apoio às ações de fiscalização militar é bem-vindo.

“Aqui a gente vê muita coisa. Não acho ruim as abordagens deles (do Exército), não. Eles estão sempre por aqui, e a gente se sente mais seguro com a presença deles”, relata.

image Adilson Pessoa dos Santos opina sobre a presença militar na região (Foto: Wagner Santana | O Liberal)

O acesso à Clevelândia do Norte é limitado, mas funcional. O trajeto pode ser feito por via terrestre, a cerca de 5 a 10 minutos de carro a partir da sede de Oiapoque, ou por embarcações que realizam a travessia do rio em 15 a 20 minutos. Em alguns pontos, o rio Oiapoque chega a ter até 1 quilômetro de largura, reforçando a sensação de isolamento geográfico e, ao mesmo tempo, de conexão com a natureza.

image Fiscalização no Rio Oiapoque (Foto: Wagner Santana | O Liberal)

Militar fala sobre a atuação e vida na Amazônia

Mas, para além das ações estratégicas, existe a vida que pulsa nos bastidores do quartel. Um exemplo disso é o sargento Macieira, que há cerca de um ano vive em Clevelândia com a esposa, Carolina Souza, e o filho Caíque, de apenas 5 anos. Vindos de uma trajetória militar com passagens por estados como Mato Grosso do Sul e regiões do Nordeste, a família encontrou na floresta amazônica um novo lar — e um novo ritmo de vida.

image Segundo sargento Macieira, junto da esposa Karolina Souza e do filho Caíque (Foto: Wagner Santana | O Liberal)

“Já servi em vários cantos do Brasil. Nós militares temos diversas missões, e isso consome muito do nosso tempo com a família. Aqui em Clevelândia do Norte também enfrentamos desafios, mas estar próximo dos meus é o que mais me motiva”, afirma o sargento, com olhar sereno diante da vastidão verde que cerca sua rotina.

Apesar das limitações de infraestrutura e do isolamento natural, Carolina destaca os benefícios de criar um filho nesse cenário.

“Para quem tem filhos, aqui temos uma qualidade de vida superior. Nosso filho é criado livre, pode brincar e viver com uma segurança que em uma cidade grande jamais teria. Viver em sintonia com a natureza supera todas as dificuldades”, conta.

Oiapoque

De fato, a vida em Clevelândia do Norte é singular. A convivência entre civis e militares, em um ambiente que mistura rio, floresta e uma fronteira internacional ativa, faz do local um raro exemplo de integração e resiliência. Ali, a missão de defender o território nacional se entrelaça com os gestos cotidianos: uma criança correndo solta, uma família reunida, uma farda que se veste com orgulho — não apenas por dever, mas por vocação.

Mais do que uma base militar, Clevelândia do Norte é um símbolo silencioso da dedicação de homens e mulheres que, muitas vezes longe dos holofotes, mantêm a bandeira do Brasil hasteada com firmeza — dia após dia, missão após missão.

Serviço:

Essa é a terceira e última reportagem de uma série dos veículos do Grupo Liberal. Confira:

Série Operação Ágata - fronteira no Norte do Brasil

» 1ª reportagem - Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque:

- Publicada no O Liberal e no Amazônia da segunda-feira, 4 de agosto

- Já disponível no portal O Liberal.com

- Exibido na segunda-feira (4/8), no programa Comando + Liberal, da Liberal +. E já disponível no Youtube, no canal de O Liberal (www.youtube.com/@OLiberalPA)

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» 2ª reportagem - Terra Indígena Waiãpi:

- Publicada no O Liberal e no Amazônia da terça-feira (5 agosto)

- Já disponível no portal O Liberal.com

- Exibido na terça-feira (5/8), no programa Comando + Liberal, da Liberal +. E já disponível no Youtube, no canal de O Liberal (www.youtube.com/@OLiberalPA)

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» 3ª reportagem - distrito de Clevelândia do Norte, no Amapá:

- Jornais O Liberal e Amazônia - quarta-feira (6 de agosto)

- Programa Comando + Liberal, da Liberal + (FM 98.9 e no Youtube) – quarta-feira (6 de agosto) - 14h

- Portal OLiberal.com - quarta-feira (6 de agosto) - 15h

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