O que é enriquecimento de urânio e por que isso importa no atual conflito entre Israel e Irã?
Embora o Irã alegue fins civis para seu programa nuclear, Israel e Estados Unidos desconfiam, especialmente após revelações de atividades não declaradas

Na madrugada desta sexta-feira (13), no horário local — ainda noite de quinta-feira (12) no Brasil —, Israel lançou uma série de ataques contra o Irã, alegando ter atingido com precisão um centro de pesquisas de enriquecimento de urânio. Em resposta, o governo israelense declarou estado de emergência, diante da possibilidade de retaliação.
O episódio reacende o debate global sobre o enriquecimento de urânio, um processo central tanto para a produção de energia quanto para fins militares. Mas, afinal, o que é esse processo e por que ele gera tanta preocupação?
O que é o urânio e para que serve
O urânio é um elemento químico, de símbolo U, descoberto em 1789 pelo alemão Martin Klaproth. Foi o primeiro elemento em que se identificou a radioatividade, e sua aplicação ao longo dos séculos tornou-se estratégica em diversos setores.
Ele é utilizado principalmente como combustível em usinas nucleares para geração de energia elétrica e, em níveis mais altos de pureza, pode ser empregado na fabricação de armamentos nucleares — como bombas atômicas e, em menor escala, bombas de hidrogênio. Também serve como fonte de energia para reatores de submarinos nucleares.
As maiores reservas conhecidas de urânio estão concentradas na Austrália (31%), Cazaquistão (12%), Canadá (9%) e Rússia (9%). Em 2009, a produção mundial do mineral alcançou cerca de 50 mil toneladas, com destaque para os mesmos países, além da Namíbia e do Níger.
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Enriquecimento de urânio: o que é e como funciona
O urânio encontrado na natureza não está pronto para uso direto em reatores ou armas nucleares. Ele é composto por diferentes versões do mesmo elemento, chamadas isótopos. A mais abundante é o U-238, que representa mais de 99% do total. Já o U-235, necessário para gerar energia ou ser utilizado em armamentos, aparece em proporção muito menor — menos de 1%.
Para tornar o urânio útil nesses contextos, é preciso aumentar a concentração de U-235. Esse processo é chamado de enriquecimento. A técnica mais comum é a ultracentrifugação, que consiste em girar o material em alta velocidade para separar os isótopos mais leves (como o U-235) dos mais pesados (como o U-238).
Reatores nucleares utilizam urânio com cerca de 3% de U-235. Já as armas nucleares exigem níveis muito mais elevados — cerca de 95%. Submarinos movidos a energia nuclear, por sua vez, operam com urânio enriquecido a pelo menos 20%.
O domínio brasileiro da tecnologia
O Brasil é um dos poucos países que dominam a tecnologia de enriquecimento de urânio. Por meio da Marinha e em parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), da USP, o país desenvolveu sua própria tecnologia baseada em ultracentrífugas.
A unidade industrial das Indústrias Nucleares do Brasil (INB) fornece urânio enriquecido para abastecer as usinas de Angra 1 e 2, gerando uma economia de cerca de US$ 10 milhões por ano — o equivalente a 35% dos custos desse processo, que ainda é parcialmente realizado no exterior. A longo prazo, a meta é aumentar a capacidade de enriquecimento no país, mas esse avanço depende da construção de novas usinas, como Angra 3.
Por que isso importa no contexto atual?
Centros de enriquecimento de urânio, como o supostamente atingido por Israel, são considerados infraestruturas sensíveis, pois podem ser utilizados para fins pacíficos — como a geração de energia — ou militares. Por isso, são alvos frequentes de tensões diplomáticas e de monitoramento por parte de agências internacionais.
Embora o Irã afirme que seu programa nuclear tem fins exclusivamente civis, países como Israel e os Estados Unidos expressam desconfiança, sobretudo após revelações de atividades nucleares não declaradas no passado.
O ataque israelense ao centro de pesquisas iraniano eleva os riscos de uma escalada no Oriente Médio e reacende os temores sobre o uso da energia nuclear como ferramenta geopolítica.
*Thaline Silva, estagiária de jornalismo, sob supervisão de Keila Ferreira, coordenadora do núcleo de Política e Economia
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