Jogadores de futsal recebem apoio moral após ação truculenta de policiais

Atletas de futsal do time do Fênix/Vila do Conde, em Barcarena, foram vítimas de uma abordagem policial truculenta no último dia 28, quando retornavam do município de Tomé-Açu, onde haviam participado de uma competição. Entre eles estavam os gêmeos Samuel e Salomão, que denunciaram ter sido vítimas de constrangimento e atribuíram os excessos da ação dos militares ao fato de serem os únicos negros e tatuados do grupo. Segundo eles, os policiais foram acionados após uma denúncia anônima feita por passageiro (s) do ônibus intermunicipal em que viajavam por terem sido vistos como elementos suspeitos.

Ainda de acordo com os atletas, durante toda a abordagem os policiais foram agressivo e não deram chance de explicação aos atletas. Os irmãos e um terceiro jogador do time, também negro e tatuado, foram retirados do ônibus e conduzidos à delegacia de Tomé-Açu. Como nada foi comprovado contra eles, foram liberados em seguida. Contudo, declararam, a humilhação foi inevitável.

Entenda o caso

Uma das vítimas, que pediu para não ter o nome revelado, contou que tudo começou quando passageiros do ônibus desconfiaram dos jovens por conta da aparência. "O ônibus andou uns dez quilômetros e parou. Os policiais entraram e falaram para levantarmos e sairmos porque tinham recebido uma denúncia de que elementos estavam colocando medo em passageiros. Num grupo de quatro amigos, os PMs só revistaram os três negros do grupo, meu amigo (de cor branca) não passou qualquer constrangimento. Eu, meu irmão e o outro jogador, que somos negros e temos tatuagem, fomos os alvos. Aí eu falei: 'porque não vão fazer revista nele?', mas, o policial disse que não precisava e justificou a minha abordagem por eu estar levando um mochilão. Só que eu estava com uma mala, foi quando eu disse que ele podia revistar pois não éramos ladrões", contou.

Ainda de acordo com os jovens, os PMs continuaram a revista. "Eram três policiais, um deles era sargento e o mais difícil de lidar. Terminaram as revistas e não encontraram nada. Meu irmão perguntou: 'por quê vocês fizeram isso. Foi constrangedor'. E eu também falei que era muita humilhação. Então meu irmão disse que conhecia os direitos dele, foi o suficiente para o policial mandar ele entrar na viatura dizendo que ele tinha desacatado autoridade. Segurei meu irmão para impedir e, no final, acabamos sendo levados os três para a delegacia", relatou. O episódio foi registrado em vídeo e publicado na internet.

Apoio

Em nota divulgada nas redes sociais, a Federação de Futebol de Salão do Pará (Fefuspa) expressou sua solidariedade aos jovens:

"A Fefuspa vem, através desta nota, se solidarizar aos seus atletas Salomão e Samuel Coutinho pelo ocorrido nesta manhã de segunda-feira (28). infelizmente, em todos os meios da sociedade existem os bons profissionais e os ruins. Sabemos da boa índole dos irmãos que vêem no futsal uma porta de sustento de suas famílias e jamais podem ser considerados ou tachados de marginais. A Fefuspa repudia qualquer ato de discriminação e esperamos que a justiça seja feita. Queremos aqui deixar os nossos sinceros votos de estima e sucesso a vocês e que esse ocorrido seja superado, pois vocês são o orgulho de nosso esporte. Toda a família futsal paraense está com vocês".

O técnico Jean Carlos (Jean Carioca), do Fênix/Vila do Conde, saiu em favor dos jogadores, afirmando conhecer bem os atletas. " Foram meus atletas na divisão de base do Paysandu e agora estão comigo no Fênix. Não são de bagunça e a gente lamenta o fato ocorrido com eles. Quanto mais se faz campanha contra o racismo, mais fatos acontecem envolvendo discriminação racial. Isso é triste demais", relata.