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Casos de racismo contra torcedor e jogador do Remo reacendem debate sobre combate no futebol

Episódios foram registrados na semana que antecedeu o Dia da Consciência Negra e são uma demonstração de que o combate ao racismo enfrenta grandes desafios no esporte

Aila Beatriz Inete

Na última semana, mais um caso de racismo e injúria racial foi registrado no futebol brasileiro, e ambos foram direcionados contra atletas e torcedores do Remo, que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro. O episódio ocorreu durante o jogo do Leão Azul contra o Avaí-SC, no sábado (15), válido pela 37ª rodada, na arquibancada do estádio da Ressacada.

Em um vídeo divulgado nas redes sociais, uma mulher, apontada como ex-conselheira do clube, apareceu proferindo ofensas de cunho racista e xenofóbico contra torcedores paraenses. Além disso, o jogador azulino Reynaldo foi alvo de uma ofensa racista em um áudio divulgado nas redes sociais.

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Os dois casos, que ocorreram próximo ao Dia da Consciência Negra, data que representa a luta e resistência da população negra contra a discriminação racial, são uma amostra de que, mesmo com a evolução do debate sobre o racismo no futebol, o problema ainda está longe de ser erradicado e levanta a questão do papel do esporte no combate à discriminação racial.

"O racismo é um defeito da sociedade. Essas pessoas têm que ser enfrentadas com coragem. Tem que haver algo até contraditório, que é a intolerância à intolerância. Primeiro, é entender que, infelizmente, ninguém está livre disso. Esses casos vão continuar existindo e temos que agir com coragem e ser intolerantes com esses casos", declarou o presidente da Federação Paraense de Futebol (FPF) e vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em entrevista ao Núcleo de Esportes de O Liberal.

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Conforme dados do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, em 2023 foram registrados 136 casos de racismo no futebol brasileiro, um crescimento de quase 40% em comparação com 2022. O Pará registrou apenas um caso. Em 2025, pelo menos três casos contra atletas que jogam em clubes paraenses e torcedores já foram registrados.

Na entrevista, Gluck Paul destacou que a pauta antirracista é tratada com seriedade pela CBF e FPF e que a instituição máxima do futebol tenta combater o crime por meio de campanhas.

Além disso, Ricardo apontou que no futebol brasileiro é utilizado o protocolo antirracista criado pela FIFA, que consiste em paralisar o jogo, fazer o registro do caso e levar o caso às instituições competentes para investigar e punir os autores.

"Existe um protocolo da FIFA. Acho que não cabe um próprio, porque o da FIFA é muito bom. Tem sido praticado no mundo todo. Durante o jogo, é um protocolo muito importante", apontou o presidente da FPF.

Posicionamento

Tanto Remo quanto Avaí-SC se pronunciaram sobre o caso envolvendo os ataques sofridos pelo torcedor na Ressacada. O clube catarinense informou que a torcedora foi identificada e teve suas atividades relacionadas ao time suspensas, e que irá investigar o caso para aplicar as punições cabíveis.

O Remo disse, por meio de nota, que o episódio foi uma "clara manifestação de racismo e intolerância, e não pode ficar impune" e que o clube não "tolera qualquer forma de discriminação ou preconceito e exige a punição dos envolvidos".

Sobre o caso contra o zagueiro Reynaldo, o time lamentou o ataque e disse que vai tomar as medidas cabíveis.

Até quando?

Ambos os casos são um sinal de que o assunto não deve ser banalizado. O racismo é crime e, mesmo que a pauta no futebol já esteja sendo levada com mais afinco há alguns anos, as ações parecem não ser o suficiente.

Ricardo afirmou que é preciso comprometimento das instituições e clubes no enfrentamento ao racismo. O dirigente disse que vai acompanhar de perto o caso envolvendo a torcedora do Avaí para exigir a responsabilização da autora.

"É preciso enfrentar, assumir uma posição", destacou. "É levar até o final, cobrar a responsabilidade criminal dessas pessoas e acompanhar até o desfecho. Não se pode jogar isso para debaixo do tapete. Esse caso do Avaí vamos acompanhar até o final, e essa pessoa precisa ser responsabilizada", disse.

"Sabemos que existem pessoas boas e más, mas as pessoas más têm que ter medo da maldade; têm que perceber que não vão encontrar ambiente para isso, porque serão punidas e responsabilizadas. É preciso combater com coragem esse tipo de violência", concluiu Ricardo Gluck Paul.