Debate sobre a discriminação racial no futebol cresce; FPF e Remo manifestam compromisso na causa Recentemente, o lateral Sávio foi alvo de injuria racial nas redes sociais, o que reacendeu a importância de debater o tema Aila Beatriz Inete 06.07.25 7h00 MPPA fez ação no Re-Pa contra o racismo (Rodrigo Reis / MPPA) O jogador Sávio, lateral do Remo, foi alvo de um comentário de cunho racista nas redes sociais após o clássico Re-Pa, ocorrido no dia 21 de junho, válido pela Série B do Campeonato Brasileiro. O time e o atleta se manifestaram contra o preconceito e tomaram as medidas legais cabíveis. O caso reacendeu, mais uma vez, a discussão sobre o racismo no futebol. ASSISTA No último dia 3 de julho foi celebrado o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, e o advogado e vice-presidente da Federação Paraense de Futebol (FPF), André Cavalcante, falou sobre o assunto em entrevista ao Núcleo de Esportes de O Liberal. Ele afirmou que a FPF tem acompanhado o caso envolvendo o lateral azulino e se esforçado para promover conscientização nos estádios. Mesmo que a passos lentos, segundo ele, as discussões e a atenção ao problema estão avançando. "No futebol paraense, graças a Deus, não temos uma constância de episódios racistas. Logicamente, já houve algumas questões. Neste campeonato, houve, salvo engano, na fase final, um episódio no Mangueirão, em que um torcedor foi encaminhado para a delegacia que cuida dessas questões. Lá mesmo foi feito o boletim de ocorrência, foram tomadas as primeiras providências, ele ficou inclusive detido e só saiu posteriormente com uma decisão judicial", ressaltou André. O vice-presidente também destacou que o combate ao crime no ambiente esportivo envolve diversos órgãos, como a Defensoria Pública, as polícias Civil e Militar, e o Ministério Público, e que essas instituições têm desempenhado um bom papel de forma integrada. "Toda essa estrutura mostra que o assunto é tratado com muita seriedade. Logicamente, quando essa questão passa também para o lado esportivo, há uma série de procedimentos, como, por exemplo, o árbitro relatar na súmula que houve uma manifestação racista. Existe um protocolo da própria CBF que determina a paralisação ou até a suspensão da partida em caso de continuidade das ofensas. Então, vejo que o tema é tratado com seriedade, não só pela federação, mas por todo o ecossistema do futebol brasileiro. Esperamos que isso se mantenha para que se passe um recado muito claro à sociedade brasileira: esse tipo de atitude preconceituosa não será tolerado", afirmou o dirigente. André Cavalcante destaca ações da FPF (Cristino Martins / O Liberal) A reportagem procurou Remo e Paysandu, hoje os principais representantes do estado no cenário nacional, para saber o posicionamento das equipes sobre o assunto. O time bicolor não retornou à solicitação, mas o presidente azulino, Antônio Carlos Teixeira, o Tonhão, falou sobre o tema e ressaltou que acredita que os esforços estão sendo satisfatórios neste momento e que o "problema está no caráter das pessoas". "A CBF ou o clube não podem ser responsabilizados e culpados por determinadas atitudes. As campanhas circulam, são realizadas, mas, infelizmente, sempre há um ou outro mal-educado que vai de encontro a esse processo", declarou. Responsabilidade De acordo com dados do Observatório da Discriminação Racial no Futebol — organização que publica relatórios anuais desde 2014 —, em 2023 foram registrados 136 casos de racismo no futebol brasileiro, um crescimento de quase 40% em comparação com 2022. O Pará registrou apenas um caso. Segundo Tonhão, o Remo não tolera qualquer tipo de comportamento preconceituoso, seja de torcedores do clube ou de adversários. O dirigente destacou que o clube firmou o compromisso de realizar campanhas nas redes sociais e nos estádios. Além disso, afirmou que a equipe possui um protocolo de acolhimento e oferece consultoria jurídica a atletas e funcionários vítimas desse tipo de crime. "O Remo entende que, pela sua importância junto à sociedade, é dever do clube combater todo e qualquer tipo de preconceito. Infelizmente, o racismo ainda se faz presente no esporte — e no contexto estadual não é diferente. Neste mês, um caso aconteceu contra nosso lateral Sávio, quando um torcedor adversário o chamou de "macaco", utilizando uma figura na internet. Imediatamente, o departamento jurídico foi acionado e todas as medidas cabíveis foram tomadas", afirmou o presidente azulino. Presidente azulino ressalta compromisso no combate contra a discriminação racial (Samara Miranda / Remo) Observatório No ano seguinte à posse, o presidente da FPF, Ricardo Gluck Paul, colocou em prática o projeto de tornar o Parazão temático, abordando causas sociais relevantes como homofobia, meio ambiente e racismo. O resultado agradou à instituição e, segundo os dirigentes, os esforços continuam. André revelou que, além de estimular os clubes a realizarem ações de conscientização, a FPF criou, neste ano, um observatório inclusivo. A ideia é que o grupo analise o cenário social do futebol, envolvendo questões como racismo, homofobia e outros temas, propondo ações concretas de combate a essas práticas. "É uma situação que precisa ser aprimorada, mas foi uma semente plantada. A ideia é que a gente tenha esse observatório permanente, formado não só por pessoas da federação, mas de outros órgãos, como o Ministério Público, que possam contribuir nessa questão, não só em relação ao racismo, mas a qualquer outra situação que envolva causas sociais", explicou. Punições aos clubes Do outro lado, uma das discussões mais polêmicas gira em torno da possibilidade de punições mais severas aos clubes cujos torcedores ou jogadores cometam atos racistas. Apesar de algumas equipes apoiarem a medida, outras são contrárias. O vice-presidente da FPF defende que as punições sejam aplicadas diretamente aos indivíduos responsáveis, e não às instituições. No entanto, reconhece o caráter educativo das sanções aos clubes. "Tenho uma impressão pessoal de que os CNPJs (clubes) não cometem o crime. Quem comete é o CPF (a pessoa). Tenho muito cuidado com essa questão de punir o clube por conta de situações causadas por terceiros. Tenho certeza de que nenhum clube orienta seus atletas ou torcedores a cometer atos racistas. E aí, de repente, o sujeito comete um ato desses que pode influenciar diretamente uma classificação, até mesmo um rebaixamento, colocando em risco o investimento e o trabalho de muitas pessoas", argumentou. "Mas, por outro lado, essas punições acabam sendo muito pedagógicas. Isso, por exemplo, fez com que diminuíssem muito as brigas em estádios, o arremesso de objetos no campo, as invasões. Então, se serviu para esse fim educativo nessas questões, creio que, em relação ao racismo, também pode servir. E, nesse ponto, sou totalmente a favor", completou. FPF realizou campanhas em 2024 (Divulgação / FPF) O presidente azulino também se manifestou contrário à punição aos clubes, defendendo que as sanções sejam direcionadas apenas ao autor da ofensa. "Como dirigente, digo que é impossível controlar o comportamento de alguém lá no último andar da arquibancada fazendo um gesto ou imitação ofensiva — e o clube ser penalizado por isso. Educação vem de casa, e as leis existem para serem cumpridas com rigor. A pessoa, sendo severamente punida, certamente pensará duas vezes antes de repetir a atitude, servindo de exemplo para que outros não cometam os mesmos erros", concluiu. Apesar de o problema não ser novo e das discussões terem avançado ao longo dos anos, o episódio envolvendo o lateral Sávio evidencia que o racismo ainda persiste como uma ferida no futebol brasileiro. A mobilização de clubes, federações e entidades jurídicas é essencial, mas não será suficiente se não houver, também, uma transformação cultural profunda. Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞 Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave esportes futebol remo racismo COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Esportes . 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