Turismo religioso tem potencial de impulsionar a economia do Pará

Belém, Santarém, Bragança e Vigia são os principais destinos buscados pelos turistas

Fabrício Queiroz

Considerado a maior procissão religiosa do Brasil, o Círio de Nazaré costuma atrair um grande número de romeiros e de turistas para a capital paraense. Somente em 2022, foram cerca de 50 mil turistas brasileiros e estrangeiros, que movimentaram US$ 19,1 milhões, segundo estimativas da Secretaria de Estado de Turismo (Setur) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA). Porém, outras celebrações realizadas no estado tem potencial para atrair visitantes, como é o caso da Festa do Çairé, realizada em Alter do Chão, no oeste paraense; a Marujada de São Benedito em Bragança, além dos inúmeros círios dos demais municípios.

Apesar da diversidade e dos atrativos desses festejos, o segmento do turismo religioso ainda não consegue impulsionar a atividade econômica na maioria das cidades. O setor da hotelaria, por exemplo, não alcança a lotação máxima, além de que enfrenta dificuldades com a pouca oferta de leitos em muitas regiões, conforme avaliação de Tony Santiago, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Pará (ABIH-PA).

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“Essa frequência não consegue chegar a 100%. Ainda não são eventos que transformam a hotelaria e levam a um marco de 100%, mas, a cada ano que passa, com uma divulgação mais intensiva e prévia, a gente consegue chegar a um percentual maior de hospedagem. As ocupações dessas festas religiosas têm cerca 70% de taxa de ocupação”, afirma o dirigente. Ele destaca que, além da capital, os municípios de Santarém e Bragança são os mais procurados.

Segundo Santiago, a representatividade do turismo religioso também é baixa no país, onde mais de 70% da movimentação é estimulada pelo segmento de sol e praia. Mesmo assim, ele considera que é possível incentivar a atividade com a adoção de medidas por parte dos diferentes agentes envolvidos.

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“No caso da iniciativa privada, temos que ter um diálogo maior na questão dos voos porque não adianta ter disponibilidade de hotéis se não vai ter voo suficiente para vir para Belém porque hoje o nosso gargalo é a tarifa aérea que está extremamente cara e, com isso, temos visto um aumento do turismo rodoviário. E a gente vê também a falta de condições para colocar esses ônibus nos lugares que eles possam estacionar para atender os seus passageiros. Tem muito o que se fazer para que atraia mais gente”, analisa o empresário, que acrescenta ainda seria possível aproveitar ainda mais o impacto do Círio de Nazaré, caso a programasse fosse estendida.

“A gente precisa ter uma programação de acolhimento a caravanas durante o ano todo. Deveríamos ter uma programação maior do Círio. A trasladação poderia ser uma semana antes, não na véspera. É um tema difícil e delicado, eu sei, mas acontece tudo num final de semana, então é um desperdício de as pessoas não poderem ver a trasladação ou a romaria fluvial separadamente, assim como todas as demais romarias”, opina Tony.

Grupo de fieis atua no apoio ao turismo

Além dos setores econômicos, o turismo religioso tem se tornado um tema de referência para grupos ligados à igreja. Desde 2014, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) incentiva a formação de pastorais do turismo (Pastur) em todo o Brasil. Alinhado a esse movimento, a Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, conta desde então com sua própria Pastur visando o atendimento dos milhões de devotos.

“A pastoral do turismo é uma ação evangelizadora dentro do mundo do turismo. Nós abrangemos todas as pessoas que estão envolvidas na atividade turística, não somente o turista, mas também os trabalhadores que fazem parte do serviço turístico dentro de uma determinada localidade”, conta Jane Jaques, membro da Pastur do Brasil e autora de um livro que aponta a importância desse movimento no país.

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Entre as ações desenvolvidas estão os serviços de acolhimento de romeiros e a oferta de visitas guiadas ao templo e a espaços, como o Memória de Nazaré, localizado no estacionamento da Basílica. Da mesma forma, atuam os grupos semelhantes que já se consolidaram na Catedral da Sé e no município de Vigia, que tem se destacado por promover ações de fomento ao turismo e que trazem contribuições para os templos e a economia local.

No mesmo sentido, os voluntários e membros prestam informações para incentivar o aspecto devocional dos visitantes. “A Pastur veio a somar não somente na parte de informar o visitante sobre a história e a religiosidade, mas também poder aproximar esse visitante do encontro com Deus. Muitas vezes o turista vem em busca da arquitetura, da culinária e da cultura, mas dentro da Pastur ele procura se envolver dentro das celebrações, da santa missa e passa a procurar uma vigília ou uma espiritualidade que permite ele se aproximar de Deus”, afirma Jane Jaques.

Para ela, a formação e atuação desses grupos nas diferentes igrejas e municípios pode representar um ganho para o setor e para a promoção da fé. “Nós temos mais de sete igrejas históricas no centro histórico de Belém. A medida que você tem pessoas dentro dessas igrejas que estão com uma mentalidade voltada para o desenvolvimento do turismo, a gente consegue abranger um serviço bem maior na cidade e no estado, fazendo com que esses espaços possam desenvolver programações e atividades que sejam voltadas para o turismo, não só para quem tá visitando, mas também para a comunidade que reside no entorno, como comerciantes, feirantes e ambulantes”, ressalta.

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