Turismo em Belém deve movimentar R$ 11,6 bilhões em 2025, diz FBHA
Os dados foram comentados pelo presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), Alexandre Sampaio de Abreu, em entrevista ao Grupo Liberal
O setor de hospedagem e alimentação em Belém projeta um crescimento expressivo em 2025, com expectativa de movimentar mais de R$ 11 bilhões, impulsionado principalmente pela realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) e pela expansão da infraestrutura turística da cidade. O crescimento representa não apenas uma retomada do turismo pós-pandemia, mas também um reflexo direto dos investimentos feitos nos últimos anos para profissionalizar e modernizar a rede hoteleira e gastronômica da capital paraense.
Em 2024, o faturamento do setor em Belém foi de R$ 7,3 bilhões, correspondendo a 46,44% do total arrecadado no estado. Desde 2019, logo após o período crítico da pandemia, o turismo na capital apresentou um crescimento acumulado de 33,4%, o que evidencia a recuperação vigorosa da atividade econômica local. Esses dados foram comentados pelo presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), Alexandre Sampaio de Abreu, em entrevista ao Grupo Liberal, na qual ele destacou o impacto da COP 30, do Círio de Nazaré e as propostas defendidas pela entidade junto ao governo federal.
Segundo Sampaio, a COP 30 representa uma oportunidade estratégica para consolidar o turismo amazônico e colocar Belém no radar de eventos internacionais de grande porte. "Belém está super bem. A COP 30 representa uma grande oportunidade para consolidar o turismo na Amazônia e mostrar ao mundo a capacidade da região de receber eventos internacionais de grande porte", afirmou.
O presidente da FBHA detalhou ainda que o turismo não cresce apenas nos setores de hospedagem e alimentação, mas em toda a cadeia turística, incluindo eventos, cruzeiros e aviação regional. Apesar de alguns desafios, ele observou um crescimento significativo em todos os aspectos: número de clientes, realização de eventos, ocupação hoteleira e movimento em restaurantes. As agências de viagem também se beneficiam desse cenário, com aumento expressivo no ciclo de viagens que favorece tanto operadoras quanto agentes de turismo.
O movimentação de visitantes internacionais também apresenta resultados positivos. De acordo com o entrevistado, a Embratur especula que o Brasil deve receber cerca de 7 milhões de visitantes estrangeiros até o final de 2025, impulsionando ainda mais a movimentação econômica. "Talvez não cheguemos a 10 milhões, mas este último trimestre, que concentra as pré-compras para as festas de fim de ano, deve consolidar um saldo positivo", acrescentou Sampaio.
Leia a entrevista completa:
Quais foram os principais avanços registrados neste ano em termos de ocupação hoteleira, geração de empregos e faturamento?
Alexandre Sampaio de Abreu: Na verdade, o turismo está experimentando um crescimento não só no setor de hospedagem e alimentação, mas também em toda a cadeia turística — como eventos, o segmento de cruzeiros e a aviação regional. Apesar de alguns percalços, o setor vive um momento bastante auspicioso, com crescimento significativo em todas as áreas: número de clientes, realização de eventos, ocupação de hotéis e até o movimento em restaurantes, impulsionado pela alimentação fora do lar.
As agências de viagem também vivem um bom momento. O ciclo de viagens tem crescido de maneira significativa, o que beneficia tanto as operadoras quanto as agências. O turismo receptivo internacional está em alta — segundo a Embratur, o país deve atingir 7 milhões de visitantes antes do fim do ano. Talvez não cheguemos aos 10 milhões, mas este último trimestre, que concentra as pré-compras para as festas de fim de ano, deve consolidar um saldo positivo.
No caso de Belém, a receita turística de 2024 foi de R$ 7,3 bilhões, representando 46,44% do faturamento do setor no estado. A taxa real de crescimento, entre 2019 e 2024, foi de 33,4%. Há uma projeção para este ano, impulsionada pela COP, de R$ 11,6 bilhões em receitas. É o que esperamos alcançar.
Quais são os maiores desafios que o setor ainda enfrenta?
O setor de alimentação e hospedagem tem desafios específicos. Um deles é a qualificação da mão de obra — embora isso venha melhorando. Outro ponto é a infraestrutura: precisamos ampliar a malha aérea, especialmente com voos diretos para a Região Norte, o que facilitaria o acesso de turistas nacionais e internacionais.
Além disso, há desafios ligados aos custos operacionais e à burocracia, que ainda pesam para os empresários, principalmente os de pequeno e médio porte.
Quais são as principais propostas defendidas pela FBHA neste momento junto ao governo federal e aos estados?
A Federação tem trabalhado para fortalecer o diálogo com o poder público em torno de três eixos: desburocratização, qualificação e competitividade. Buscamos reduzir a carga de obrigações acessórias e simplificar a vida das empresas do setor. Também temos pautado a ampliação de programas de capacitação profissional e o fortalecimento das parcerias entre o Ministério do Turismo e o Sistema S, especialmente o Senac.
Outro ponto é o apoio ao turismo receptivo e às micro e pequenas empresas, que representam a grande maioria dos empreendimentos de hospedagem e alimentação no país.
Há alguma demanda específica do setor em relação à tributação, regulamentação trabalhista ou crédito para pequenas empresas?
Sim. O setor ainda sofre com uma carga tributária elevada e complexa. Há uma demanda antiga pela revisão de tributos que afetam diretamente hotéis e restaurantes, especialmente os ligados à folha de pagamento e à prestação de serviços.
Também defendemos linhas de crédito específicas para pequenas e médias empresas, com juros compatíveis com a realidade do setor, que é intensivo em mão de obra. Além disso, é importante garantir segurança jurídica nas relações trabalhistas e modernizar legislações que ainda não acompanharam as novas dinâmicas do turismo e da hospitalidade.
Como o senhor avalia o cenário atual da hotelaria e da gastronomia na Região Norte, especialmente no Pará?
A gastronomia paraense é icônica — já conhecida em todo o Brasil, com chefs renomados e insumos locais que ultrapassam as fronteiras da região. O setor de restaurantes vem crescendo, especialmente no segmento de jantares e lazer.
Em relação à hotelaria, Belém vive um bom momento, com novos empreendimentos e uma maior profissionalização. A COP 30, inclusive, acelerou esse processo, ampliando a oferta e modernizando a rede hoteleira.
E o Círio de Nazaré, que é um dos maiores eventos religiosos do país, também tem um grande peso para o turismo na região. Como o setor tem se preparado para esse período e quais os resultados observados neste ano?
O Círio é um evento de enorme relevância, que impacta diretamente toda a cadeia turística — desde os meios de hospedagem até o setor de alimentação e transporte. A hotelaria em Belém se prepara com bastante antecedência, e o índice de ocupação costuma ser altíssimo nesse período, muitas vezes alcançando a totalidade dos leitos disponíveis. É um momento em que a cidade respira fé, cultura e turismo, e isso se reflete na movimentação econômica.
Além da rede hoteleira, bares e restaurantes registram aumento expressivo de público, e os serviços de receptivo, como transporte e guias turísticos, também se beneficiam. A cada ano, o Círio reforça a importância de Belém como destino religioso e cultural, e a expectativa é que, com a aproximação da COP 30, a visibilidade internacional do evento cresça ainda mais.
Quais são as principais dificuldades enfrentadas pelos empresários da região — infraestrutura, qualificação de mão de obra, logística, custos operacionais?
Todos esses fatores pesam. A malha aérea ainda é limitada, o que restringe o acesso de turistas e encarece a operação. A logística na Amazônia é desafiadora — os custos de transporte e abastecimento são mais altos, o que se reflete nos preços finais.
A qualificação de mão de obra também é um ponto sensível. Apesar dos avanços, ainda há carência de profissionais treinados em hotelaria, turismo e gastronomia. E, claro, os custos operacionais — energia, impostos e insumos — impactam diretamente a rentabilidade dos negócios.
Como a realização da COP 30 em Belém tem impactado o setor de hospedagem e alimentação na região?
A COP tem sido um divisor de águas. Fomos convocados pela Casa Civil, em Brasília, para discutir o aumento dos preços hoteleiros, mas a situação acabou se acomodando após o apelo do governo e da sociedade para que o evento permanecesse em Belém. Muitos moradores ofereceram suas casas e quartos por meio de plataformas de hospedagem, e isso ajudou a equilibrar o mercado.
As soluções encontradas — como os dois navios e a inauguração de novos hotéis — ajudaram a mitigar o problema e ampliar a capacidade de hospedagem. Hoje, temos uma percepção de que o setor está mais organizado e preparado.
A COP pode deixar um legado econômico duradouro para o turismo e a hotelaria na Amazônia?
Com certeza. A Amazônia é o último grande bioma de interesse mundial, e a COP traz uma vitrine sem precedentes. A realização do evento em Belém vai atrair muitos visitantes no pós-COP e fortalecer o turismo sustentável.
Além disso, o Ministério do Turismo e o Governo Federal têm se empenhado em melhorar a estrutura da cidade para receber bem os visitantes. A nova oferta hoteleira, a gastronomia paraense e a diversidade cultural e religiosa de Belém são diferenciais que devem consolidar a capital como um destino turístico internacional.
O grande desafio, como já disse, é a malha aérea. Mas acredito que o sucesso da COP vai despertar o interesse de investidores e empresas aéreas, o que deve gerar novas conexões e oportunidades.
No mês passado, o Ministério do Turismo alterou regras envolvendo check-in e check-out, estabelecendo que o tempo utilizado para limpeza dos quartos estará contido no preço da diária e não poderá exceder três horas. Como a Federação avalia essas regras?
Houve um pouco de confusão sobre isso, mas é importante esclarecer que essa questão decorre de uma redação ampla da Lei Geral do Turismo. No mundo inteiro, há um intervalo entre a saída e a entrada de hóspedes para que o quarto seja limpo e preparado.
O padrão internacional é esse — saída até o meio-dia e entrada a partir das 15h, podendo variar conforme a estrutura do hotel. Isso é absolutamente normal. Não há razão para polêmica ou para legislações municipais tentarem regular o tema, já que a competência é federal, do Ministério do Turismo.
Estamos todos torcendo para que a COP seja um sucesso — e acredito que será. Ela trará grandes decisões e resultados positivos não apenas para o meio ambiente, mas também para o turismo e a economia como um todo.
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