CONTINUE EM OLIBERAL.COM
X

Troco premiado: na busca por moedas, empresas paraenses oferecem até açaí; confira

Estabelecimentos comerciais sofrem com a falta de moedas ou cédulas de menor valor para passar troco aos clientes

Elisa Vaz / O Liberal
fonte

A falta de moedas em circulação na economia pode ser preocupante para o governo federal. Isso porque uma nova rodada de impressão resultaria em um alto custo para os cofres públicos. No caso dos empresários, a maior dificuldade é conseguir troco para os clientes – com a falta das moedas, muitos precisam se adequar e criar formas de premiar quem levar dinheiro trocado ao estabelecimento, o chamado “troco premiado”. Nessas campanhas, os consumidores ganham algumas vantagens ao oferecerem suas moedas, como descontos em produtos ou itens gratuitos.

O economista Valfredo de Farias explica que essa escassez no mercado pode ser resultado, principalmente, do que a ciência econômica chama de “entesouramento”, quando as pessoas começam a guardar dinheiro dentro de casa. “Os cofrinhos da vida são um grande dificultador para o comércio, principalmente, que é o setor que mais sofre com a falta dos valores pequenos. Se formos ver em todo o Brasil a quantidade de dinheiro parado em cofres, teremos uma ideia de como isso prejudica o comércio. Esse, provavelmente, é o principal motivo dessa escassez de troco no mercado”, avalia.

Ter dinheiro trocado circulando na economia, seja em moedas ou pequenos valores de papel, como as notas de dois reais, é extremamente importante para o mercado, de acordo com Valfredo, e por isso não deve ficar guardado sem utilidade. O problema, para o economista, é que este é um comportamento cultural e, dificilmente, uma família não terá os porquinhos que servem como sofres, especialmente se houver crianças dentro de casa.

Na opinião de Valfredo, dificilmente o governo federal fará alguma campanha para conscientizar a população a não manter as moedas paradas em casa. Portanto, as soluções devem partir de cada estabelecimento, por conta própria. “Já vi, inclusive, empresas que compram as moedas por um valor mais alto, pedindo moeda de um real e pagando dois de volta, em papel. Moeda virou item de luxo”, comenta. Além disso, o troco premiado também tem sido comum entre os lojistas. O único cuidado que as empresas devem ter, segundo o economista, é com a transparência. Caso a ação envolva um sorteio ou concurso, é preciso deixar tudo às claras.

Empresário troca moedas por açaí

Um dos empresários que atuam com o chamado troco premiado é o proprietário do Point do Açaí, Nazareno Alves. A empresa, que foi fundada em 2004, é uma das mais tradicionais dentro do segmento de alimentação regional, mas enfrenta dificuldades na hora de dar troco aos clientes, segundo ele. Esta já era uma situação que ocorria antes da pandemia da covid-19, mas, com a crise sanitária, foi agravada.

“Antes disso tudo, o movimento era bem maior. Tínhamos mais dois restaurantes que fechamos – um transformamos em delivery, o outro fechou mesmo. Antes havia até sala de espera, agora não tem mais. A crise da moeda começou na pandemia. Claro que já tínhamos dificuldades antes, mas bem menos, piorou muito de lá para cá”, afirma.

Para driblar a falta de troco, o empresário faz uma campanha: recebe as moedas dos clientes e devolve o valor em espécie, e a cada R$ 100 em moedas arrecadadas, a pessoa ganha um litro de açaí. Segundo Nazareno, a ação é sempre publicada nas contas oficiais da empresa nas redes sociais, quando o negócio está "apertado". Mas, há uma regra: só são aceitas moedas de um real e de 50 ou 25 centavos.

“Fazemos isso quando estamos com muita dificuldade para conseguir troco, e quando não encontramos em outras lojas, igrejas e bancos. Até porque há um custo dando esse açaí para o cliente. Mas entendemos que, se não tiver dinheiro trocado, perdemos mais ainda; o cliente fica aborrecido quando não tem troco e podemos até perder aquele consumidor”, comenta o proprietário.

Desde que a pandemia começou, essa campanha tem sido constante, feita de forma alternada, quando há necessidade – mas já existe há um ano e meio. Até agora, o problema do mercado não foi resolvido, e todo mês a empresa lida com a falta de troco. “Temos que nos virar. As pessoas trazem e já damos o açaí, porque a campanha ficou conhecida. Estamos lutando contra esse problema. Para resolver, a saída é continuar com a ação, até porque o dinheiro parou de circular muito e os bancos estão com horários reduzidos ainda”, avalia Nazareno Alves.

Trabalhadores trocam moedas

João Paulo, de 33 anos, quer se livrar das moedas e acaba ajudando estabelecimentos que precisam delas (Cristino Martins / O Liberal)

Enquanto muitos comerciantes precisam de moedas para fazer negócios, outras pessoas só querem se livrar delas. É o caso do guardador de carros João Paulo, de 33 anos. Todos os dias, no final do seu expediente, por volta das 16h, ele vai até um estabelecimento próximo e entrega todas as moedas que recebeu dos motoristas e pega o mesmo valor em espécie. O trabalhador arrecada cerca de R$ 80 a R$ 100 diariamente, em média.

“A dona chegou e falou que se eu tivesse dinheiro trocado era para levar lá. O que eu conseguisse de moeda podia ir trocar. Além de moedas, também dou as notas de dois reais, até as de cinco, não maiores que isso. Mas ela pede mais moedas, que ficam em falta na hora de dar troco”, conta. Segundo ele, alguns motoristas de aplicativos e cobradores de ônibus coletivos também fazem o mesmo pedido, mas, como João já tem um acordo com a empresa, fica sem mais moedas para trocar.

O gestor de marketing Michel Correa, de 43 anos, é outra pessoa que faz essas trocas, mas não por necessidade. Ele diz que quando recebe moedas no troco prefere colocar em alguns potes que tem em casa, em vez de guardar no bolso, carteira ou no carro. Todos os meses, ele consegue encher cerca de três potes, que, juntos, rendem até R$ 240. “Troco em farmácias, mercadinhos, depende. Para mim, é incômodo colocar no bolso, então já deixo um local próprio para isso separado em casa. A minha esposa queria comprar um cofre, mas não tem como quebrar três porquinhos todo mês”, comenta, rindo.

Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞
Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Economia
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM ECONOMIA

MAIS LIDAS EM ECONOMIA