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Tarifaço de Trump pode ameaçar empregos e renda no Pará, alerta especialista

Por decisão do presidente dos EUA, o Brasil estará sujeito a uma tarifa de 50% a partir de 1º de agosto

Eva Pires | Especial para O Liberal

A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode ter reflexos diretos na economia do Pará a partir do próximo dia 1º de agosto. A medida, que representa mais que o dobro da alíquota prevista para outros parceiros comerciais dos Estados Unidos, atinge setores estratégicos para o estado, como a mineração e a agropecuária. Para o economista Douglas Alencar, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), o tarifaço pode provocar retração nas exportações, com impacto na produção, no emprego e na renda dos paraenses

Trump confirmou, no domingo (27), que a nova política comercial será aplicada conforme planejado, sem exceções para o Brasil. No dia seguinte, voltou a afirmar que pretende adotar tarifas entre 15% e 20% para países que se recusarem a firmar acordos comerciais com Washington. No caso brasileiro, a alíquota foi fixada em 50%, em meio ao que o governo federal classifica como “falta de disposição política para negociação”. Em nota divulgada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Brasil afirma que está tentando diálogo desde o anúncio das medidas, de forma “técnica, sem contaminação ideológica”.

No curto prazo, o Pará pode sentir os primeiros impactos com a retração nas exportações de produtos que têm forte peso na balança comercial do estado. É o caso da extração de minério de ferro e do agronegócio. Segundo Douglas Alencar, a queda no volume exportado pode levar à redução da produção nessas cadeias, o que afeta diretamente a geração de empregos e o nível de renda em regiões dependentes dessas atividades econômicas.

Em relação ao açaí, produto com forte ligação à agricultura familiar e presença marcante na cultura e na economia paraense, ele avalia que uma eventual desvalorização no mercado internacional pode comprometer a renda de pequenos produtores e enfraquecer a atividade econômica em cadeias produtivas locais. Já no caso dos minérios, a diminuição da receita das empresas tende a impactar investimentos futuros e a manutenção de postos de trabalho.

Diante da perspectiva de menor demanda dos EUA, exportadores devem tentar redirecionar a produção a outros mercados ou ao consumo interno. “Os efeitos podem se prolongar. Os empresários irão tentar manter suas produções, mas o impacto não seria desprezível. O que Trump está fazendo é inédito, entramos em um campo de muita incerteza”, avalia. Por outro lado, do ponto de vista dos consumidores, o especialista reforça que a queda de preços pode significar um alívio temporário no custo de vida e aumento do poder de compra da população.

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Redirecionamento e diversificação de mercado 

O redirecionamento, ainda que necessário, enfrenta entraves logísticos e comerciais. O economista explica que, mesmo com a urgência de escoar a produção — especialmente de alimentos perecíveis —, será preciso negociar novos contratos, adaptar rotas de transporte e cumprir exigências sanitárias e regulatórias de países que não estavam no radar comercial imediato do Brasil. Essas etapas podem dificultar uma resposta rápida e eficiente do setor produtivo.

O poder de barganha do Brasil frente ao governo norte-americano também é considerado reduzido. O país não figura entre os fornecedores estratégicos de insumos para os EUA — como acontece com exportadores de tecnologia ou semicondutores — e tampouco possui ativos relevantes na economia americana, como títulos da dívida pública. Essa posição de desvantagem torna mais difícil a reversão da medida, pelo menos no curto prazo.

Apesar dos impactos negativos, o cenário pode abrir espaço para uma reflexão sobre a dependência brasileira em relação a poucos mercados compradores. No contexto paraense, o momento é visto pelo especialista como oportunidade para acelerar a diversificação da pauta de exportações e fortalecer a industrialização local — um processo que exige tempo, planejamento e política comercial ativa. Alencar destaca que há potencial para estruturar um plano de desenvolvimento focado na bioeconomia e em setores industriais que valorizem os ativos naturais da Amazônia, com geração de empregos qualificados e mais estabilidade econômica.

A adoção de incentivos fiscais, a criação de linhas especiais de crédito via Banpará e a modernização dos distritos industriais são algumas das estratégias que poderiam ser adotadas. “Retomar o planejamento estratégico com foco no desenvolvimento industrial e econômico regional pode reduzir vulnerabilidades externas e gerar empregos de maior qualidade”, conclui o economista.

Faepa alerta para impacto do tarifaço em carnes, frutas e peixes do Pará

O setor agropecuário também acompanha com preocupação os desdobramentos do tarifaço norte-americano. De acordo com Guilherme Minssen, diretor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), praticamente todos os produtos do campo podem ser afetados, com destaque para carnes bovinas, frutas e peixes, que têm maior presença no mercado internacional. Ele afirma que, apesar da tensão, o açaí não deve sofrer com excedente, já que a demanda interna é elevada. O diretor afirma que a Faepa está atuando em articulação com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) para mitigar as perdas do setor e prospectar novos mercados para os produtores locais.

Para a federação, o momento é delicado e expõe a vulnerabilidade de quem trabalha no campo diante de decisões com forte viés político. “O agro exportou US$ 82 bilhões só no primeiro semestre de 2025. Quase metade de tudo que o Brasil vendeu ao mundo veio do campo”, destaca Minssen. Ele enfatiza que a Faepa lamenta a influência geopolítica sobre o comércio exterior e reforça que o foco agora é manter a competitividade dos produtos paraenses mesmo em um cenário desfavorável.

Fiepa se posiciona

A Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) declarou estar acompanhando com atenção a possibilidade de o governo dos Estados Unidos adotar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. Em nota enviada ao Grupo Liberal, a entidade afirmou que a situação exige “responsabilidade, articulação estratégica e atuação conjunta dos setores público e privado”, sobretudo diante dos riscos concretos que tais medidas podem trazer para cadeias produtivas integradas, tanto no Brasil quanto nos EUA.

Segundo a Fiepa, o caminho para soluções sustentáveis passa necessariamente pelo “diálogo bilateral” e pela coordenação entre os setores empresariais dos dois países. “O Pará é hoje um dos principais polos exportadores do Brasil, com uma indústria que fornece insumos essenciais a diversos mercados internacionais, inclusive aos EUA”, ressaltou a federação.

A entidade também destacou que a imposição dessas tarifas pode comprometer contratos, afetar empregos e reduzir a competitividade das empresas paraenses, principalmente aquelas ligadas aos setores de base mineral, metalúrgico e agroindustrial.

A nota ainda menciona que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) deve enviar uma missão empresarial aos Estados Unidos, com o objetivo de negociar questões de interesse comercial e tentar evitar prejuízos maiores ao setor produtivo nacional.

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