Parlamentares do Pará divergem sobre posição do Brasil em meio à trégua instável entre Irã e Israel
Cessar-fogo mediado por Trump enfrenta impasses e troca de acusações entre os países; entenda

A posição do governo brasileiro diante da escalada do conflito entre Irã, Israel e Estados Unidos repercutiu no Congresso Nacional e dividiu parlamentares do Pará. Enquanto senadores e deputados da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendem que o Brasil mantém uma postura coerente com os princípios históricos da diplomacia, parlamentares da oposição acusam o governo de alinhamento ideológico com regimes autoritários. O debate ocorre em meio a um cessar-fogo instável, anunciado pelo presidente americano Donald Trump na noite de segunda-feira (23), que enfrenta sucessivas acusações de violações entre Irã e Israel.
A controvérsia aumentou após o Ministério das Relações Exteriores divulgar, no domingo (22), uma nota em que condena os ataques a instalações nucleares iranianas e classifica as ações como violações da soberania do Irã e do direito internacional. O texto, assinado pelo Itamaraty, foi republicado nas redes sociais pelo presidente Lula. A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara, presidida por Filipe Barros (PL-PR), chamou a nota de “lamentável” e anunciou que pretende pautar uma moção de apoio a Israel.
No Pará, o senador Beto Faro (PT) defendeu a nota do Itamaraty, que condena os ataques dos EUA e de Israel ao Irã. Para ele, o governo brasileiro agiu corretamente ao reforçar princípios diplomáticos e o direito internacional. “Como é possível, em meio a negociações diplomáticas entre Irã e EUA, o presidente Trump simplesmente mandar lançar 12 super bombas sobre o Irã?”, questionou. Faro destacou que órgãos como a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a inteligência americana negaram que o Irã esteja desenvolvendo armas nucleares.
Ele avalia que a posição brasileira não afeta as relações com os EUA, mas expõe um cenário internacional cada vez mais instável. “Gera desconfianças entre aliados históricos como EUA e Brasil”, disse. Faro também criticou o governo de extrema direita de Israel e afirmou que ações como essas aceleram o redesenho geopolítico global, com o Brasil atuando pelo fortalecimento do BRICS, grupo de países de mercado emergente.
Na mesma linha, o deputado federal Airton Faleiro (PT) disse que a nota do Itamaraty está em sintonia com a tradição diplomática brasileira, marcada pela defesa do diálogo e da solução pacífica de conflitos. “A nota faz um apelo ao cessar das hostilidades e reafirma os princípios que norteiam nossa política externa – a defesa do diálogo, da soberania dos povos e da solução pacífica dos conflitos”, afirmou. Para ele, o Brasil tem legitimidade e equilíbrio para contribuir com a busca pela paz.
Faleiro não acredita que o posicionamento brasileiro afete as relações com os Estados Unidos ou outros países do Ocidente. “Inclusive, os próprios EUA têm atuado por um cessar-fogo”, observou. O parlamentar considera a posição do governo sensata e alinhada aos princípios da Organização das Nações Unidas (ONU) ao lamentar as mortes de civis e criticar o uso desproporcional da força. “É um debate que exige responsabilidade e seriedade”, completou.
Já o deputado federal Delegado Caveira (PL) criticou a manifestação do governo federal. Para ele, o texto demonstra “alinhamento ideológico com regimes autoritários e inimigos da democracia, como o Irã”. O parlamentar afirma que o governo erra ao não condenar o terrorismo e ao atacar aliados históricos do Brasil. “É uma inversão de valores que envergonha o Brasil no cenário internacional”, declarou.
Na visão do deputado, a postura adotada já compromete as relações com os Estados Unidos e Israel. “Isso afasta o Brasil das grandes potências do Ocidente e joga fora o prestígio internacional que levamos quatro anos para conquistar”, disse. Ele defende que o Brasil abandone a neutralidade e se alinhe explicitamente com países democráticos. “Não dá pra ser neutro entre quem defende a liberdade e quem financia o terror”, concluiu.
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Cessar-fogo sob tensão: entenda o cenário internacional
O anúncio de uma trégua no conflito entre Irã e Israel, feito pelo presidente dos Estados Unidos, na noite de segunda-feira (23), trouxe um breve alívio às tensões no Oriente Médio — mas rapidamente deu lugar a incertezas. Segundo a agência Reuters, o cessar-fogo foi negociado com o apoio do Catar, após o Irã sinalizar que aceitaria suspender os ataques, desde que Israel adotasse a mesma postura. No entanto, as horas seguintes foram marcadas por acusações mútuas de descumprimento do acordo e novos relatos de bombardeios.
Na manhã desta terça-feira (24), o Exército iraniano acusou Israel de bombardear seu território, enquanto o governo israelense alegou que o Irã havia lançado novos mísseis. Em meio à troca de acusações, Trump criticou ambas as partes e fez um apelo direto a Israel: “Não jogue suas bombas. Se fizer isso, será uma grande violação”, escreveu nas redes sociais. Mais tarde, reforçou: “O cessar-fogo está em vigor!”.
Diplomacia brasileira acelera movimentações
Em meio à escalada da crise, o Itamaraty adiantou a ida do novo embaixador brasileiro ao Irã. André Veras Guimarães, aprovado pelo Senado no fim de maio, deve chegar a Teerã até o fim da semana por vias terrestres, já que o espaço aéreo iraniano permanece fechado. A embaixada estava sem titular desde o início do ano. O Ministério das Relações Exteriores informou que a operação de repatriação de brasileiros no Irã não foi afetada pela vacância diplomática.
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