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Tarifa dos EUA ameaça exportações do Pará e pode gerar desemprego em massa, aponta economista

Setores de mineração e metalurgia, como o alumínio de Barcarena, devem ser os mais impactados. Para professor da Uepa, medida pode afetar renda, empregos e arrecadação nas cidades mineradoras.

Gabi Gutierrez
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A nova tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros, imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve provocar demissões em massa no Pará, especialmente em cidades como Barcarena, Parauapebas e Marabá, onde se concentram as atividades de mineração e metalurgia. A medida entra em vigor a partir de 1º de agosto e ameaça a continuidade de exportações estratégicas, como o alumínio primário produzido em Barcarena.

De acordo com o economista Heriberto Pena, pesquisador e pós-doutor pela Universidade do Estado do Pará (Uepa), o impacto será direto na economia local. “O alumínio será um dos mais afetados, com as exportações praticamente inviabilizadas. Isso vai atingir empresas, trabalhadores e o comércio. O efeito vai além da indústria: chega ao bolso do consumidor”, afirma.

Exportações em risco e cidades vulneráveis

Somente no primeiro semestre de 2024, o Pará exportou mais de US$ 10 bilhões para os EUA. Com a nova taxação, esse fluxo tende a cair drasticamente. O efeito imediato deve ser a queda na arrecadação dos municípios, redução nos royalties da mineração e aumento do desemprego. A consequência direta, segundo Heriberto, é a retração da economia local, aumento da informalidade e menor circulação de dinheiro nos mercados regionais.

“Mesmo com inflação geral sob controle, os preços de insumos atrelados ao dólar — como o alumínio — tendem a subir, afetando setores como a construção civil e a indústria”, alerta.

Fiepa critica tarifa e alerta para alta do IOF

Em nota, a Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) criticou duramente a nova política de Trump e também o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) adotado pelo governo federal, que deve encarecer ainda mais os financiamentos produtivos.

“O aumento da tributação sobre operações de crédito prejudica especialmente regiões como o Pará, onde a baixa densidade de capital exige maior acesso a financiamentos para viabilizar a produção”, afirma a entidade. A projeção é de que o novo IOF represente um impacto de R$ 145 milhões apenas para indústrias e agroindústrias que usam crédito do FNO (Fundo Constitucional do Norte) em 2025.

Multilateralismo pode ser saída, diz professor de relações internacionais

Para o professor de Relações Internacionais Mário Tito Almeida, a taxação de Trump não é apenas econômica, mas tem fundo político e geopolítico. “Essa decisão marca uma crise na relação entre Brasil e Estados Unidos. A justificativa econômica não se sustenta, já que os EUA vendem mais para o Brasil do que compram. A motivação está ligada ao cenário político brasileiro e à disputa hegemônica global”, analisa.

Segundo ele, a ascensão do Sul Global e a atuação do Brasil em blocos como os BRICS incomodam a hegemonia americana. “A recente reunião dos BRICS no Brasil mostrou a força do bloco, inclusive com planos de novas rotas comerciais e alternativas ao dólar. A reação de Trump tenta frear esse avanço”, explica.

Ainda assim, Tito acredita que o multilateralismo adotado pela política externa brasileira pode ajudar o país a reduzir os impactos. “O governo Lula tem buscado novos acordos com países da Ásia e do Sul Global. As viagens recentes ao Japão e ao Vietnã renderam acordos comerciais importantes, que podem absorver parte da produção brasileira afetada pela tarifa”, avalia.

Redirecionar exportações é viável, mas demanda tempo

Apesar das oportunidades em novos mercados, o redirecionamento das exportações não acontece do dia para a noite. “Há custos logísticos, renegociação de contratos e necessidade de adaptar estruturas. Enquanto isso, seria importante que o mercado interno absorvesse parte dessa produção para reduzir perdas no curto prazo”, aponta Tito.

Ele também defende uma atuação articulada entre governo federal, associações comerciais e empresas exportadoras, para evitar danos maiores à balança comercial, ao emprego e ao consumo interno.

Especialista alerta para perda de competitividade global

O contador e mestre em negócios internacionais André Charone reforça que a tarifa dos EUA torna os produtos brasileiros menos competitivos. “É como disputar uma corrida com 50% de desvantagem. Já temos o custo Brasil elevado e agora esse adicional inviabiliza muitas vendas para os EUA”, afirma.

Charone alerta que países com acordos comerciais vantajosos, como México, Canadá e Colômbia, devem ocupar o espaço do Brasil no mercado americano. Como alternativa, ele propõe diversificação dos destinos comerciais e melhoria da infraestrutura logística, especialmente nos portos de Vila do Conde e Itaqui.

O que pode ser feito no curto prazo

Heriberto e Charone apontam que, embora o governo federal tenha limitações fiscais para oferecer desonerações ou incentivos, há o que pode ser feito localmente. Isso inclui:

  • Estímulo a crédito facilitado via Banco da Amazônia;

  • Desburocratização de processos de exportação;

  • Investimentos em infraestrutura portuária e rodoviária;

  • Apoio técnico a empresas para readequação de contratos comerciais.

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Economia
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