Tarifa de Trump ameaça exportações de açaí do Pará para os EUA, segundo setor paraense

Com alíquota de 50% a partir de agosto, produtores temem queda nas vendas, impacto na renda local e encarecimento do fruto no mercado interno; Estados Unidos são os maiores compradores do açaí paraense, com uma participação de 75,4% nas exportações da fruta no estado.

Jéssica Nascimento
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A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto pode causar um forte impacto nas exportações de açaí do Pará — especialmente para o mercado norte-americano, o maior comprador do fruto amazônico. O setor paraense teme perdas financeiras, reestruturações logísticas e aumento no preço do produto para os consumidores paraenses.

De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) levantados pelo Dieese/PA (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), até 2023, 40% do açaí produzido no Pará era destinado aos Estados Unidos. Segundo o supervisor técnico do Dieese, Everson Costa, a nova tarifa deve gerar prejuízos importantes:

“Estamos falando de perda de mercado, principalmente do principal comprador. Isso impacta a renda dos produtores paraenses, e a cadeia produtiva toda sofre.”

Costa ainda alerta que o cenário exige reorganização e diversificação:

“Se os EUA deixam de comprar, temos que buscar outros mercados: Japão, Alemanha, China. Talvez agregar valor ao produto seja uma alternativa.”

Produtores preveem aumento de preços no Pará

Jhoy Gerald Rochinha Jr, diretor da Associação da Cadeia Produtiva do Açaí de Belém (ACPAB), projeta um aumento significativo no preço do fruto também para o consumidor local:

“A preocupação é gigante. As fábricas ainda nem começaram a repassar os aumentos e já sentimos o impacto. O açaí da safra já está custando entre R$ 80 e R$ 120 o paneiro.”

O valor mais alto no Pará, segundo o diretor da  ACPAB, se daria, para além do cenário dos últimos anos, com o crescimento da exportação e questões climáticas, porque haveria uma mudança na relação comercial.

Segundo Jhoy, com a taxa de 50%, as empresas importadoras dos Estados Unidos podem pressionar os exportadores do Pará a vender maior quantidade de açaí por menor preço, desabastecendo ainda mais o mercado local. “Com a taxa, as fábricas vão buscar comprar mais fruto para barganhar o preço e compensar na hora de vender”, explica

Mesmo com a expectativa de uma safra mais abundante este ano, o cenário não é otimista:

“Esse ano é de COP 30, com visibilidade internacional, mas o dólar alto e a tarifa americana vão mexer com toda a cadeia. Quem deve pagar a conta é o consumidor paraense”, alerta.

Indústria cautelosa, mercado em compasso de espera

O consultor agrícola Emerson Menezes, da Amaçaí (Associação dos Produtores de Açaí da Amazônia), reforça o momento de incerteza:

“A exportação vai ser afetada, mas ainda não sabemos a real extensão. Precisamos esperar até o dia 1º de agosto e ver se haverá negociação por parte do governo brasileiro.”

Segundo ele, o aumento da oferta com a chegada da safra pode suavizar os preços, mas tudo dependerá do mercado internacional e das possíveis retaliações diplomáticas.

Agronegócio como alvo de guerra comercial

Para Guilherme Minssen, diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (FAEPA), a medida americana não é apenas econômica, mas carrega um forte viés político:

“A batalha ideológica é uma das pragas modernas das lavouras. Uma tarifa dessa magnitude desequilibra a balança comercial e compromete todo o agronegócio nacional”, declarou.

Fiepa e Sindifrutas: baque na cadeia produtiva

A Federação das Indústrias do Pará (Fiepa) destaca em nota enviada ao Grupo Libera que o açaí responde a 56,49% do volume total de frutas exportadas pelo Pará, sendo, então, o principal produto frutífero da pauta exportadora estadual.

“De acordo o Centro Internacional de Negócios da Fiepa - Fiepa CIN, de janeiro a junho deste ano, foram 15.107 toneladas de açaí exportado pelo Pará, totalizando U$ 57.893.860 (cerca de R$ 321 milhões) ao Estado e uma variação positiva de 64,96% no valor total em comparação ao mesmo período de 2024”, diz a nota.

Os dados do CIN confirmam ainda que os Estados Unidos são os maiores compradores do açaí paraense, com uma participação de 75,4% nas exportações da fruta no Estado. No primeiro semestre de 2025, o Pará exportou ao EUA o equivalente a U$ 43.651.848 ou cerca de R$ 242 milhões.

Denise Acosta, presidente do Sindicato das Indústrias de Frutas e Derivados do Estado do Pará (Sindfrutas), explica, também em nota ao Grupo Liberal, que a taxa “representa um retrocesso em termos de desenvolvimento da indústria. É muito difícil você crescer com uma taxa de 50%, sobretudo quando a gente fala de açaí”.

Denise diz que ao se olhar para a cadeia do açaí, observa-se que se trata de um produto conhecido no mercado mundial, pelo seu valor nutricional, pela sua qualidade.

“O açaí vem de uma cadeia que envolve milhares de famílias de ribeirinhos, produtores, pequenos batedores e indústrias. Então, quando a gente onera excessivamente esses produtos, corre o risco de inviabilizar, de desequilibrar essa cadeia produtiva, porque muitas empresas não vão mais conseguir exportar em virtude dessa taxação tão alta. Isso vai criar um desequilíbrio também no mercado interno interestadual e paraense”, analisa.

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