Segundo Indicador de Reincidência, 83,48% dos negativados em maio de 2025 já foram inadimplentes
De acordo com o levantamento feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), tempo médio de reincidência é de aproximadamente dois meses

Segundo o Indicador de Reincidência da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), divulgado na última quinta-feira (26), 83,48% do total de negativações em todo o Brasil correspondem a devedores reincidentes, que são referentes a pessoas que já constaram no cadastro de inadimplentes nos últimos 12 meses. Segundo Nélio Bordalo Filho, economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia dos Estados do Pará e Amapá (CORECON PA/AP), a reincidência elevada no cadastro de inadimplentes reflete os impactos do cenário macroeconômico atual sobre o comportamento financeiro da população brasileira.
Segundo o levantamento, o tempo médio de reincidência é de aproximadamente dois meses. O indicador aponta que o período entre o vencimento de uma dívida e outra é de 71,1 dias. Entre o número total de devedores reincidentes, 62,98% foram de consumidores que ainda não tinham pagado dívidas antigas até maio. O quantitativo de pessoas que haviam saído do cadastro nos últimos 12 meses e retornaram, entretanto, é de 20,5%.
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Bordalo avalia que, além de revelar que existe um número elevado de pessoas que voltaram a atrasar as contas, os dados mostram a dificuldade de muitos brasileiros em manter o nome limpo por um período prolongado. “Esse fenômeno está diretamente ligado ao ambiente de juros elevados, que encarecem o crédito e tornam as renegociações menos acessíveis. Com a taxa básica Selic em patamar elevado por longos períodos, o custo das dívidas rotativas, como cartão de crédito e cheque especial, permanece alto, dificultando a quitação integral”, explicou o economista.
A inflação acumulada, ainda segundo Nélio, mesmo que em desaceleração, continua afetando o poder de compra da população. A redução de orçamentos familiares, por exemplo, leva muitos consumidores a priorizar despesas básicas em comparação ao pagamento de dívidas.
A pesquisa também aponta que, nos últimos 12 meses, encerrados em maio de 2025, o Brasil apresentou queda de de ‐0,04% no número de devedores reincidentes. A faixa-etária com participação mais expressiva em maio foi a de 30 a 39 anos, representando 25,62%. Do total de reincidentes, mulheres representaram 54,49% e homens 45,51%.
Recuperação de crédito
De acordo com o Indicador de Reincidência, houve queda de -11,92% no número de consumidores que saíram da lista de negativados. A principal queda foi no quantitativo de consumidores que levaram de 4 a 5 anos para efetuarem o pagamento de todas suas dívidas, com ‐13,79%. Na região Norte, 6,29 milhões de pessoas recuperaram o crédito por valor total pago, o que corresponde a 45,21% da população adulta. É o segundo maior índice percentual do país, atrás somente do Centro-Oeste, com 46,12% da população adulta.
Bordalo avalia que a alta taxa de recuperação reflete, em paralelo, uma busca ativa por limpar o nome e uma realidade de fragilidade financeira da região. “A taxa de endividamento mais elevada e o acesso limitado ao crédito formal no Norte do país indicam que o uso de crédito ocorre principalmente para a subsistência, e não para investimento ou consumo planejado. Ou seja, famílias utilizam crédito como complemento de renda e, uma vez quitadas as dívidas, voltam a se endividar para cobrir gastos básicos. Esses dados revelam um desequilíbrio estrutural, em que o endividamento é constante e sistêmico, e a recuperação, embora expressiva, não sustenta uma melhora duradoura na saúde financeira”, pontuou o economista.
Segundo a pesquisa, em maio de 2025, a média de valor pago na soma de todas as dívidas foi de R$ 2.108,70, com quase 60% do total de pessoas com crédito recuperado pagaram até R$ 500 nas dívidas que possuíam.
Soluções
Para romper o ciclo de reincidência, segundo Nélio Bordalo, uma das possibilidades é adotar atitudes individuais e institucionais. Entre elas, por exemplo, está o início da organização e planejamento financeiro, que inclui consumir com orçamento já definido, evitando renegociações sem planejamento e criando reserva mínima para situações de emergências.
Em relação às renegociações, é aconselhável que o consumidor busque condições com prazos mais longos, juros menores e cobrança de apenas dívidas existentes, evitando que o débito retorne rapidamente. Desenvolvimento de produtos financeiros com informações claras e taxas justas também podem auxiliar o consumidor a utilizar o crédito de forma estratégica, e não emergencial.
Outros auxílios, segundo o economista, também incluem programas de capacitação e acompanhamento. “Apoio de entidades como CNDL, SPC e organizações não governamentais, que oferecem orientação e acompanhamento financeiro, auxiliam no amadurecimento do comportamento financeiro e evitam recaídas”, concluiu.
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