Redução do diesel ainda não alivia custo do frete e preço dos alimentos no Pará
Apesar da queda de R$ 0,16 anunciada pela Petrobras, representantes do estado reclamam da falta de impacto prático; economista aponta que efeito pode demorar semanas.

A redução no preço do diesel anunciada pela Petrobras nesta segunda-feira (5/05) — de R$ 0,16 por litro, chegando a R$ 3,27 — ainda não provocou mudanças reais nos custos do transporte e, consequentemente, nos preços dos alimentos no Pará. Representantes do setor de transportes, economia e abastecimento afirmam que o impacto, quando ocorrer, será tardio e limitado por fatores como a ausência de fiscalização, a distância dos grandes centros e a estrutura tributária do estado.
Caminhoneiros: “Redução não chega nas bombas”
Para Eurico Tadeu, representante do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos do Pará (Sindicam), o anúncio da Petrobras tem pouco efeito prático para os profissionais da estrada.
“Infelizmente, a redução é baixa. Não chega ao caminhoneiro. Os postos fazem o que querem e não há fiscalização da AMP (Agência Nacional de Controle de Combustível)”, critica.
Tadeu também aponta que, no Pará, os caminhoneiros enfrentam uma realidade mais dura do que em outras regiões do país. “Como não temos indústria, não temos carga para retornar. Os custos aqui são maiores e a política de ICMS varia de estado para estado, o que também dificulta padronizar o valor do frete.”
Ceasa: expectativa é de impacto nas próximas semanas
Já na Central de Abastecimento do Pará (Ceasa), a expectativa é que a redução no diesel possa beneficiar o consumidor — mas ainda não houve reflexos.
“Ainda não começamos a sentir essa queda. Mas, com certeza, ela pode baratear o transporte e, consequentemente, os produtos, principalmente aqueles que vêm de outras regiões do país”, explica Denivaldo Pinheiro, diretor técnico da entidade.
Ele ressalta que quase 80% dos alimentos comercializados na Ceasa vêm de fora do estado, como das regiões Nordeste, Sudeste e Sul. “Se o transporte fica mais barato, o impacto no preço final pode ser positivo, mas só nas próximas semanas”, prevê.
Supermercados: redução não chega ao consumidor
Na ponta final da cadeia, os supermercados também não têm registrado diminuição no preço dos produtos. Jorge Portugal, vice-presidente da Associação Paraense de Supermercados (Aspas), é categórico:
“A redução anunciada não está sendo sentida nas bombas. Às vezes, os preços até aumentam, mesmo com a queda anunciada pela Petrobras.”
Segundo ele, seria natural esperar impacto no valor do frete — um dos principais componentes do custo final dos produtos —, mas isso não está ocorrendo. “Essa redução é tão pequena que não consegue influenciar o preço do transporte, e muito menos o dos alimentos.”
Economista: efeito existe, mas demora e depende da cadeia logística
O economista Pablo Damasceno, do Conselho Regional de Economia do Pará e Amapá (Corecon PA/AP), avalia que a redução do diesel deve ter maior impacto no Pará do que em outras regiões, devido à dependência do transporte rodoviário e à distância dos grandes centros.
“A cadeia logística envolve frete, remuneração de motoristas, estoques e vários outros custos. Por isso, há um delay de até dois meses para o consumidor sentir a diferença no bolso”, explica.
Damasceno destaca ainda que, por ser um estado importador, o Pará sofre mais com a variação do diesel.
“Produtos como óleo, margarina e manteiga vêm de fora. Quase tudo da cesta básica depende do transporte rodoviário. A exceção talvez seja o arroz, com alguma produção local.”
Além disso, ele lembra que fatores externos, como o turismo impulsionado pela proximidade da COP 30, têm mantido a inflação elevada na capital. “Esse fluxo de visitantes pressiona a economia local e dilui qualquer impacto direto da queda do combustível”, finaliza.
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