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Profissionais de tecnologia têm salários altos no país, mas Pará ainda enfrenta desafios

Embora o “boom” tecnológico tenha chegado ao Estado, há um entrave na formação de novos trabalhadores e na oferta de remunerações competitivas

Elisa Vaz
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A virada tecnológica no mercado de trabalho é um caminho sem volta. Com cada vez mais tecnologias fazendo parte da rotina, tem crescido a necessidade de mão de obra qualificada que possa dar conta desses avanços e, ainda, sair na frente na criação de novas ferramentas. Tanto é interessante para as empresas terem colaboradores capacitados que uma projeção da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom) mostra que o setor deve criar 797 mil novas vagas até 2025 no país, em média 159 mil por ano. Os salários devem ser até três vezes mais altos que a média nacional, chegando perto dos R$ 30 mil, o que demonstra a ascensão desse segmento no Brasil.

O que as empresas têm feito é preparar a própria mão de obra para que, no futuro, após a conclusão de cursos e capacitações, consigam reter esses profissionais dentro de seus quadros. Quem afirma isso é o presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Pará (ABRH-PA), Júnior Lopes. Segundo ele, existe um "apagão" de profissionais da área de tecnologia no Estado, apesar de a maioria dos nichos do mercado estar evoluindo para um "boom" tecnológico.

"É uma tendência sem volta. Não apenas os profissionais da área atuam com a tecnologia, mas de outros setores também. Trabalhadores de marketing, vendas, recursos humanos, engenharia e outros estão utilizando sistemas tecnológicos e implementando, cada vez mais, processos digitais e automatizados, inteligência artificial e realidade aumentada. Precisamos de especialistas nisso, mas também que os profissionais de outras áreas se atualizem. O mercado paraense não está fora dessa realidade: há uma alta demanda das empresas por profissionais tecnológicos, mas, por outro lado, um apagão de profissionais capacitados para ocupar essas vagas", relata o especialista.

Dentro da tecnologia da informação (TI), o levantamento da Brasscom aponta que a média de salário de uma pessoa que escolhe a carreira de desenvolvedor web, por exemplo, é de R$ 3.093, valor que pode chegar a R$ 9.287 ao evoluir e tornar-se tech lead e a R$ 28.520,96 para posições mais seniores no mercado. O pagamento de salários altos para esses profissionais, de acordo com Lopes, se dá justamente por ser uma mão de obra escassa. No Brasil e no mundo, há uma tendência de valorização dos trabalhadores de tecnologia, que podem garantir boas remunerações ao longo da carreira. No Pará, embora esses salários sejam mais baixos que a média nacional, se destacam em relação aos de outros segmentos.

Empresas do exterior, que pagam em dólar, costumam oferecer salários mais competitivos, o que pode ser uma saída para os profissionais paraenses que são especializados em tecnologia ganharem um valor mais próximo dos R$ 28,5 mil indicados - até porque, nesse setor, o home office é mais comum que em outras áreas. "Com a facilidade do trabalho remoto, é muito fácil uma pessoa atuar para empresas americanas, europeias ou asiáticas, desde que tenha uma boa internet funcionando, seja capacitado e atualizado e tenha noções de outras línguas para prestar esse serviço e receber em dólar. É muito interessante essa conversão e já existem no Pará profissionais atuando com o trabalho remoto, mas vinculados a empresas internacionais", diz Júnior.

Ainda de acordo com o estudo da Brasscom, os caminhos mais interessantes para quem está entrando nessa carreira são nas posições de desenvolvimento web ou mobile, além da área de testes: desenvolvedor web/fullstack, desenvolvedor front-end, desenvolvedor back-end, desenvolvedor mobile e analista de testes. Todos esses, além dos especialistas em programação, são profissionais que têm se destacado não apenas no país, mas no Estado do Pará também, diz o presidente da ABRH-PA.

Experiência

Atuando como Product Owner (PO) em uma instituição pública, Amanda Nunes é formada em rede de computadores e tem vasta experiência na área de tecnologia. Ela começou a carreira trabalhando em uma indústria no Pará, onde entrou como analista de sistemas, passou para encarregada e, depois, para a coordenação, implantando sistemas e melhorando os processos internos na área de tecnologia.

Em seguida, Amanda foi trabalhar em outra indústria e seguiu o mesmo caminho, chegando à coordenação na área de tecnologia, que englobava sistema, telefonia, processos internos, infraestrutura, rede de internet e computadores e outros setores. O profissional da área de sistemas, em que ela atuou por mais tempo dentro do segmento tecnológico, é a pessoa que está entre o desenvolvedor e o stakeholder. Hoje, onde a especialista trabalha, Amanda desenvolve softwares para a instituição e trabalha com a melhoria de sistemas e dos desenvolvimentos.

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Tudo isso está em pleno crescimento, na avaliação da profissional, e em uma velocidade até dez vezes maior que a vista nos últimos anos, até impulsionada pela pandemia da covid-19. “Fomos apresentados ao trabalho remoto, as pessoas ficaram trabalhando de casa, com smartphone na mão, fazendo reuniões online e virtuais, e no Pará conseguimos enxergar em algumas empresas esse crescimento, elas já estão trabalhando dessa forma. Porém, na maioria das vezes, o presencial ainda é mais comum, muitos empresários não conseguem enxergar a necessidade da tecnologia dentro das empresas, ainda veem como um ‘custo’ investir na área tecnológica e não como investimento mesmo”, afirma.

Esse atraso, na opinião de Amanda, faz os profissionais paraenses quererem deixar o mercado local para trabalhar em outros Estados e países, onde é possível ver mais avanços na área tecnológica e empresas que realmente investem no segmento. Apesar disso, quem tem interesse em trabalhar com a tecnologia já busca qualificação, mesmo no Pará, e tem investido em cursos remotos. “As empresas não querem perder os profissionais que possuem qualificação; quem tem um pouquinho de experiência no mercado está sendo segurado pelas empresas e as pessoas com pouca experiência estão sendo contratadas com a expectativa de adquirir esse conhecimento rápido e conseguir um cargo e um crescimento melhor, mas com toda aquela dificuldade”.

Quanto à remuneração, Amanda diz que a realidade do Norte ainda é muito aquém de outras regiões do país, como Sul e Sudeste, e até do mundo. No Nordeste, segundo ela, a margem salarial ainda é um pouco maior, e esse é outro motivo pelo qual os profissionais capacitados querem sair do Pará. Até quem não tem formação tem buscado se qualificar o máximo possível com a intenção de prestar serviço para empresas de fora, ganhando em dólar ou euro, ou mesmo se mudar. “Acho que não tem um paraense que trabalhe na área tecnológica que, de fato, não tenha pensado em sair do Estado para trabalhar fora ou remotamente para uma empresa de fora. Existe uma diferença entre um coordenador ou analista que trabalha na região Sul ou Sudeste, que ganha X, e o mesmo cargo na região Norte, que ganha três vezes menos”, argumenta a especialista.

Desafios

Um dos maiores gargalos para quem trabalha na área tecnológica, na opinião de Amanda Nunes, é garantir investimentos. Em sua experiência, “convencer” as empresas a focarem nesse segmento é um processo “doloroso”. “Trabalhei em algumas indústrias no Pará e toda vez, quando falávamos da necessidade de investimentos em tecnologia, era um parto conseguir o orçamento e investir. É um trabalho fazer elas aderirem à tecnologia para que os processos internos cresçam e se organizem, convencer uma pessoa a comprar a ideia de algo que não é visível, que não é concreto”, conta.

Além disso, a constante capacitação também é um desafio, já que a tecnologia está em evolução e crescimento. “A tecnologia não é só uma rede social e um aplicativo de comunicação. Tecnologia vai muito além disso, temos inteligências artificiais crescendo muito, já trabalhando para nós, substituindo pessoas. Tem coisas que achávamos que ia acontecer em 2030, em 2050, mas já estão acontecendo agora”, destaca a profissional.

O presidente da ABRH-PA, Júnior Lopes, acredita as empresas possam ajustar sua força de trabalho e trazer pessoas com essas habilidades digitais para o time, por meio de ferramentas que ajudam a estimular, instigar ou direcionar o negócio no sentido de ter profissionais com competências desenvolvendo projetos cada vez mais tecnológicos. Um exemplo é a disponibilização de cursos de graduação, pós-graduação e outras capacitações paralelas pela própria empresa, que ensinem sobre o uso da tecnologia. Outra possibilidade é firmar parceria com startups para desenvolver soluções tecnológicas para o negócio.

“Isso tudo pode possibilitar um foco no desenvolvimento de habilidades necessárias para que os profissionais estejam preparados para lidar com esse movimento da digitalização. É fundamental, no entanto, que a empresa tenha uma cultura organizacional. Não adianta nada ela ter os melhores sistemas, softwares e equipamentos se os colaboradores não estão preparados para lidar com essa tecnologia e se eles não têm internalizada essa cultura da digitalização”, avalia o especialista.

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