Preço da cesta básica cai, mas comidas típicas não reduzem valor
Nas ruas de Belém, a tradição de saborear os pratos parece transcender o valor

Com a queda no preço de itens da cesta básica paraense, em agosto passado, pela terceira vez no ano, houve redução no custo total da cesta de alimentos, especialmente do arroz (a farinha também teve baixa). Mas será que essa redução nos insumos é suficiente para diminuir o preço da alimentação de rua em Belém, neste segundo semestre, marcado pelas demandas do Círio e em ano de COP 30? Fomos às ruas conferir como isso impacta nos preços das comidas típicas de Belém. Confira:
“A comida típica de rua, em Belém, é acessível, mas não baixou de preço, não”, disse Nilton Alves, técnico de enfermagem, enquanto saboreava um prato de vatapá no ponto de venda da travessa Francisco Monteiro, esquina com a rua Roso Danin, no bairro de Canudos, na noite da quinta-feira, 11, deste mês de setembro.
O técnico de enfermagem Nilton Alves notou, de fato, que alguns produtos da cesta básica tiveram queda de preço nos supermercados, mas afirmou que a redução não chegou à alimentação fora do lar. “Ovos, queijo, leite, a farinha também baixou de preço, mas isso não se refletiu na alimentação de rua. Os preços se mantiveram porque, acho que os donos (dos estabelecimentos comerciais) têm outros insumos que aumentaram. Eles usam dendê, camarão e tudo isso aí”, afirmou.
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A análise simples de Nilton Alves sobre a manutenção dos preços foi praticamente a mesma feita pelo empreendedor Nilson Duarte, dono do ‘Tacacá do Nilson’, onde Alves se deleitava com o vatapá.
Nilson Duarte contou que mantém um ponto de comidas do Pará há 35 anos em Canudos. Somente no mesmo local, já são 20 anos. Ele vende o prato de vatapá por R$ 22, o de caruru por R$ 20, a maniçoba por R$ 25, além de porções menores, com preços mais em conta. A porção de vatapá sai a R$ 17; maniçoba, R$ 20; arroz paraense, R$ 17; arroz com salada, R$ 17; lasanha, R$ 17; e torta salgada, R$ 17. Nilson ainda vende sobremesas, como fatias de bolo de chocolate e bolo podre, a R$ 8.
‘Tendência é de aumento dos preços’, diz comerciante
"A minha expectativa é de que os preços diminuam mais", disse Duarte, referindo-se à possibilidade de reduzir o valor final ao consumidor. “É porque tem outros produtos que puxam a despesa para cima. Por exemplo, nós temos o tucupi e, com o Círio se aproximando, tucupi, jambu e camarão sobem de preço. Quer dizer, não compensa. O preço da farinha e do arroz diminuiu, mas o valor varia muito de mercados, de marca e de armazéns, de um para o outro”, ponderou o tradicional empreendedor de Canudos.
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), instituição de pesquisa, assessoria e educação do movimento sindical, divulgou em agosto que a maioria dos 12 produtos básicos que compõem a cesta de alimentos dos paraenses apresentou recuo de preços. Os destaques foram tomate, café, banana, açúcar, arroz, farinha de mandioca, carne bovina e manteiga.
Clientes fidelizados pelo paladar em Canudos
“Frequentamos aqui já há um bom tempo e todas as comidas dele são boas. Eu gosto da maniçoba. Hoje experimentei a lasanha paraense, que ainda não tinha provado. Muito bom esse prato, agora vamos comer bolo podre", disse a autônoma Josiane Silva, acompanhada da filha Franciane e do neto Miguel, de 3 anos, no ponto de vendas de Nilson Duarte.
A família mora na Terra Firme e vai até Canudos com a meta específica de comer comidas típicas paraenses. "A nossa culinária é boa. Eu creio que muitos têm interesse em saber o gosto, porque é comentado, é muito falado fora, e muitos vêm com essa curiosidade", disse Josiane.
Sobre o preço dos pratos, Josiane opinou: "Olha, os valores estão encaixando com o nosso custo de vida. Para nós, está tranquilo, não tenho do que reclamar". A filha dela, Franciane, também acha o preço justo. "Para mim, o valor está supervalendo a pena. Eu gosto quando tem aquele fim de tarde, depois da chuva, pede um tacacá. E o primeiro lugar que a gente sempre pensa é o Tacacá do Nilson, com certeza", afirmou, ao lado do filho Miguel. "Ele amou o bolo", disse sobre a escolha da criança naquela noite.
Por sua vez, o comerciante Nilson Duarte deu exemplos da rotina dele. “Eu tenho que comprar arroz. O que eu comprava lá na frente (supermercado em Canudos) estava a 5 reais; hoje, eu compro a 3,99, 3,50. A farinha diminuiu de preço, o feijão também. Mas, em compensação, nós, que trabalhamos com comidas típicas, temos de comprar camarão, tucupi, jambu e goma sem redução de preço. E, com a aproximação do Círio, a tendência é que esses produtos aumentem mais ainda”, afirmou.
'Vendas de comidas típicas estão aquecidas’, afirma vendedor
Sobre a percepção de maior movimento de clientes em seu estabelecimento, Duarte não negou o ótimo momento das vendas. “Eu já senti essa diferença sim. Nós temos recebido clientes paulistas, cariocas, gente de Goiás, baianos. Com esses acontecimentos, eventos na cidade, o Círio, COP30, isso está atraindo mais gente para Belém. Isso é bom para nós.”
"O paraense consome nossas comidas regionais o ano todo. Mas, quando vai se aproximando o Círio, a gente percebe que a demanda aumenta 50%, 60%. É um ano bom e estou otimista que fique melhor ainda, que a gente aumente mais 40%, 50% (o volume de vendas), quem sabe chegar a 100% até o final do ano. Perfeito. Eu mantenho 12 pessoas. Nós trabalhamos de quinta a segunda-feira, das 16h30 às 22h30”, contou Duarte.
Se depender de clientes como a analista de RH Gláucia Coelho, as vendas de Nilson Duarte vão crescer ainda mais. Na noite de 11 deste mês, ela estreou no ponto do comerciante. “Vim pela primeira vez. Eu amo vatapá. Amo também o tacacá. Fiquei na dúvida, mas vou provar o vatapá e, se conseguir ainda, tomar o tacacá, ele será a minha segunda opção", contou sorrindo.
Agosto/2025 Julho/2025
Valor da Cesta Básica – R$ 687,30 R$ 696,23
Valor atual compromete quase metade do atual Salário Mínimo de R$ 1.518,00.
Fonte: Dieese Pará.
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