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Pesquisa aponta desafios para Warao ingressarem no mercado de trabalho

Vulnerabilidade e exploração atravessam relações de trabalho de indígenas refugiados

Fabrício Queiroz
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Dos 605 indígenas Warao que vivem em Belém e Ananindeua, 261 deles estão idade ativa para o trabalho, o equivalente a 46,19% dessa população. Apesar disso, os níveis de empregabilidade entre esses indivíduos ainda são baixos, situação intensificada por questões de ordem educacional, como o domínio limitado da língua portuguesa, mas também atravessada pelo racismo e a xenofobia.

Esses são alguns pontos evidenciados pelos resultados do estudo “Percepções Warao sobre o trabalho”, elaborado Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), lançado nesta segunda-feira, 20, em alusão ao Dia Mundial do Refugiado.

A pesquisa traçou um perfil dos indígenas distribuídos em oito comunidades nos municípios de Belém e Ananindeua, em seguida, ouviu 142 pessoas em uma técnica de abordagem não probabilística a fim de conhecer suas experiências laborais e mapear quais seus interesses e expectativas para inserção no mercado de trabalho.

Quanto à distribuição etária, o estudo mostrou que trata-se de uma população em sua maioria jovem ou adulta. Entre os entrevistados, 21,8% tem entre 20 e 24 anos e outros 21,1% tem entre 35 e 39 anos. Em relação à escolaridade, foi detectado que 39,4% dos entrevistados não concluíram o ensino fundamental, 27,5% não são alfabetizados; 10,6% tem o ensino fundamental completo e 10,6% tem o ensino médio completo. Apenas um dos indígenas entrevistados afirmou possuir o ensino superior completo, enquanto outros seis estão cursando uma graduação. A questão torna-se ainda mais problemática quando se observa que 110 dos entrevistados, equivalente a 77,5%, não tem domínio do idioma português.

Apesar disso, os Warao demonstraram uma grande versatilidade de conhecimentos e de experiências profissionais desenvolvidas tanto na Venezuela quanto no Brasil. Entre as principais modalidades de trabalho realizadas estão: o artesanato, o trabalho rural e a pesca, que integram um conjunto de 39 profissões e ocupações desempenhadas. Nesse ponto, ressalta-se um volume expressivo de indígenas que já relataram ter pedido dinheiro nas ruas, superior a 60% dos participantes, aspecto que demarca a vulnerabilidade dessas populações migrantes, conforme analisa a antropóloga Marlise Rosa, organizadora do diagnóstico.

“Quando se fala da prática de pedir dinheiro nas ruas, nós não estamos falando de uma característica cultural dessa população. Nós estamos falando de uma estratégia que se inscreve numa condição puramente socioeconômica. E as mulheres Warao, especialmente, deixam isso muito claro nesse diagnóstico”, pontua a pesquisadora, que acrescenta: “A gente percebe que se trata de um cenário marcado pela ausência de oportunidade até mesmo com aqueles indígenas que possuem uma larga experiência profissional ou que possuem uma formação educacional. Eles acabam não conseguindo trabalho e sendo vítimas de xenofobia, de racismo e de situações de exploração”.

Para que os Warao tenham melhores condições de ingressar no mercado de trabalho, Marlise Rosa ressalta a importância de ouvi-los para que sejam construídas estratégias com foco em trabalho e educação baseadas em seus interesses e projetos de vida. Além disso, a pesquisa destaca que há atividades produtivas com potencial para estruturação de cadeias de valor que favoreceriam os Warao. São elas: a marcenaria, o artesanato e a pesca.

“Eu agradeço muito que as instituições queiram conhecer um pouco da nossa vida e queiram dar esse apoio para os refugiados aqui de Belém, mas também aos que estão em quase todos os estados do Brasil”, disse Gardênia Cooper, artesã e liderança Warao.

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