Percentual de consumidores paraenses com dívidas chega a 78,5%, mostra pesquisa
Realizado pela Fecomércio-PA, o estudo mostra que cartão de crédito é o principal tipo de dívida no Pará

A população paraense está mais endividada, pelo que aponta a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Federação do Comércio do Pará (Fecomércio-PA). Segundo o levantamento, o percentual de pessoas com dívidas no Estado passou de 65,2% em março para 78,5% em abril. Na comparação com abril do ano passado, a alta foi similar: naquela época, o percentual era de 66,5%.
Segundo o economista Sérgio Melo, o reajuste representa, em grande parte, o maior uso do crédito pelos consumidores, considerando que a taxa Selic, que regula os juros do mercado, vem reduzindo gradualmente desde 2023, passando de 13,75% ao ano para os atuais 10,5% ao ano. “As famílias possuem inúmeras necessidades de financiamento, e o arrefecimento dos juros contribui para o aumento da demanda por crédito que estavam represadas”, afirma.
Uma explicação importante é que os endividados são aqueles com dívidas a pagar, ou seja, que têm financiamentos, empréstimos ou faturas no cartão de crédito, mas dentro do prazo, enquanto os inadimplentes são aqueles que têm contas em atraso. Neste último caso, o percentual no Pará era de 25,9% em março e passou para 28,6% em abril, de acordo com a Peic. Em abril do ano passado, a taxa era de 27,1%.
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Mesmo com a diminuição da Selic no Brasil, o percentual ainda se encontra em um patamar elevado, considerando o que se observa no restante do mundo, de acordo com Sérgio. “Ela deixa alto também o risco de inadimplência dos tomadores, considerando que a atividade econômica não atinge altos níveis por conta dos juros elevados. O processo de controle da inflação e diminuição da taxa básica de juros da economia somado à maior educação financeira da população resulta em uma melhora no quadro geral de inadimplência”, explica o especialista.
Cartão de crédito
O levantamento mostra os principais tipos de dívidas dos paraenses. O cartão de crédito é o que tem o percentual mais elevado. Em abril do ano passado, a taxa era de 84,7%, e passou para 87,1% em abril deste ano. Para o economista, no cenário de hoje é esperado um aumento dos gastos com cartão de crédito, considerando que é o meio de pagamento que não incorre em uma cobrança direta de juros, facilitando o financiamento de necessidades das famílias. “Ainda assim, é fundamental maior conscientização sobre os riscos do uso indevido do cartão de crédito para o controle do endividamento”, alerta ele.
Entre os principais cuidados que Sérgio indica para quem está endividado ou inadimplente e quer organizar as finanças está a realização de um levantamento completo das dívidas, conhecendo o total devido, as taxas de juros envolvidas e os prazos de pagamento. Além disso, o consumidor deve priorizar o pagamento de dívidas com juros mais altos, como cartão de crédito e cheque especial. Outra opção é negociar prazos e valores de pagamento com credores, pois muitos podem oferecer melhores condições nesses casos; além de evitar novas dívidas enquanto estiver quitando as atuais e fazer um controle financeiro dos gastos, com um orçamento mensal bem detalhado e registrado em planilhas, aplicativos ou outras formas de organização.
De forma geral, Sérgio Melo acredita que, para as pessoas terem mais tranquilidade financeira, é necessário que a economia apresente um crescimento sustentável, com geração de empregos, aumento da renda e controle da inflação. “Nesta esteira, a redução da taxa de juros Selic também é um fator fundamental para o melhor desempenho da economia”, avalia. Fora isso, é importante uma evolução da estrutura produtiva brasileira que venha garantir empregos de melhor qualidade e níveis maiores de renda.
Endividamento e inadimplência no Pará
Endividados
- Abril/23: 66,5%
- Mar/24: 65,2%
- Abril/24: 78,5%
Inadimplentes
- Abril/23: 27,1%
- Mar/24: 25,9%
- Abril/24: 28,6%
Nível de endividamento
- Muito endividado: 17,2%
- Mais ou menos endividado: 28,9%
- Pouco endividado: 32,4%
- Não tem dívidas desse tipo: 21,4%
- Não sabe ou não respondeu: 0,1%
Tempo de pagamento em atraso
- Até 30 dias: 22,8%
- De 30 a 90 dias: 29,1%
- Acima de 90 dias: 47,4%
- Não sabe ou não respondeu: 0,7%
- Tempo médio em dias: 64
Parcela da renda familiar comprometida com dívida
- Menos de 10%: 21,1%
- De 11% a 50%: 56,2%
- Superior a 50%: 20,7%
- Não sabe ou não respondeu: 2%
- Média: 30,2%
Principais tipos de dívida
- Cartão de crédito: 87,1%
- Cheque especial: 4,1%
- Cheque pré-datado: 0,7%
- Crédito consignado: 6,4%
- Crédito pessoal: 10,1%
- Carnês : 16,2%
- Financiamento de carro: 8,9%
- Financiamento de casa: 8,7%
- Outras dívidas: 2,7%
Fonte: Peic, da Fecomércio-PA
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