Passagens aéreas caras são impasses para crescimento do turismo em Alter do Chão

Altos preços impactaram no número de turistas para o Çairé 2022, Réveillon e Carnaval 2023

Daleth Oliveira
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Considerada o caribe brasileiro, Alter do Chão é uma das regiões mais procuradas por turistas que buscam explorar lugares paradisíacos da Amazônia. A vila fica no município de Santarém, no oeste do Pará, e reúne algumas das mais belas paisagens naturais do Estado com dezenas de praias de água, cachoeira e igarapés que permitem passeios agradáveis tanto no verão, quando os rios estão na vazante, quanto no período das cheias. Entretanto, o local ainda não aproveita todo seu potencial turístico e econômico por conta dos altos preços de passagens aéreas com destino para o Aeroporto Internacional de Santarém Maestro Wilson Fonseca.

O secretário de turismo de Santarém,  Alaércio Cardoso, afirma que os valores têm prejudicado, inclusive datas que tradicionalmente a cidade recebe mais turistas, como no mês de setembro, quando ocorre o Festival do Çairé.

“Os altos valores das passagens aéreas tem afetado muito o turismo em Santarém. O impacto foi tanto que acreditamos que 40% das pessoas que viriam pro Çairé ano passado deixaram de vir por conta dos preços das passagens aéreas tanto de voos que saem daqui do Pará, quanto de outros estados”, conta Cardoso.

Alaércio explica que a situação começou a ficar ruim com a pandemia da covid-19, quando os voos para a cidade foram cancelados. “A pandemia deu uma travada no turismo e o retorno dos voos foi gradativo. Por isso, temos mantido um diálogo com o Ministério do Turismo e com a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) para que possamos pressionar as companhias para que elas voltem com todos os voos com destino para Santarém. Conseguimos recentemente retomar o voo direto de Belo Horizonte para Santarém e agora queremos também os voos de São Paulo, que é de onde recebemos a maioria dos turistas”, relata.

Para o presidente da Associação dos Empreendedores de Turismo em Alter do Chão (Aetha), Ivo Oliveira, os altos preços também prejudicaram o setor no Réveillon e Carnaval 2023.

“Isso foi o principal causador de um final de ano não tão movimentado como gostaríamos e  tínhamos potencial. E isso tem nos afetado até agora, que tivemos baixa procura para o Carnaval. Apesar de ainda estarmos com praias maravilhosas à mostra, pois os rios ainda não subiram, estamos com pouquíssimos hóspedes e turistas por causa do valor absurdo que uma pessoa tem que pagar para vir para Santarém”, aponta o empresário.

Preços de passagens flutuam e quem pesquisa com antecedência, economiza

Ivo pontua que as passagens para Santarém são caras, não importa de onde saia o voo. “Até vindo de Belém, que é a capital do nosso Estado, é uma fortuna para chegar aqui. Então essa logística ficou muito complicada e nós deixamos de vender muitas reservas e movimentar a economia local em detrimento deste fator”, considera o titular da Aetha.

A reportagem de O Liberal realizou uma pesquisa de voos no dia 24 de fevereiro para dois períodos de viagens: do dia 1º ao dia 15 de julho e do dia 1º de janeiro ao dia 15 de janeiro de 2024, para diversos destinos nas férias escolares. No primeiro período, as passagens de ida e volta com destino para Santarém foram as mais caras. Já no segundo, as passagens de Belém rumo à Fortaleza pesaram mais.

Do dia 1º ao dia 15 de julho, de Belém para Santarém, a ida e volta custou R$ 2.129; de Belém para Florianópolis, R$ 1.775; de Belém para Rio de Janeiro, R$ 1.980; de Belém para Fortaleza: R$ 1.028; de Belém para Salinas, R$ 361; de São Paulo para Santarém, R$ 2.126.

Do dia 1º de dezembro ao dia 15 de janeiro de 2024, de Belém para Santarém, a ida e volta custou R$ 748; de Belém para Florianópolis, R$ 1.951; de Belém para Rio de Janeiro, R$ 1.288; de Belém para Fortaleza, R$ 1.567; de Belém para Salinas, R$ 361; de São Paulo para Santarém, R$ 2.841.

Ou seja, em julho, é mais barato para o paraense viajar para Fortaleza que para Santarém ou ir até para mais longe, como Florianópolis e Rio de Janeiro, mesmo com horas de voo e quilômetros de distância a mais. Cenário completamente diferente para as férias escolares de janeiro, quando ir para Santarém é mais em conta que para outros estados. Em ambos períodos, a exceção é no trecho de Belém - Salinas, que estava custando R$ 361.

Entretanto, na semana anterior os preços eram outros. No último dia 17, do dia 1º ao dia 15 de julho, de Belém para Santarém, a ida e volta custou R$ 1.950; de Belém para Florianópolis, R$ 1.683; de Belém para Rio de Janeiro, R$ 1.835; de Belém para Fortaleza: R$ 949; de Belém para Salinas, R$ 657; de São Paulo para Santarém, R$ 1.947.

Já no dia 1º de janeiro ao dia 15 de janeiro de 2024, de Belém para Santarém, a ida e volta custou R$ 2.158,46; de Belém para Florianópolis, R$ 1.915,43; de Belém para Rio de Janeiro, R$ 3.245,98; de Belém para Fortaleza, R$ 1.851; de Belém para Salinas, R$ 720; de São Paulo para Santarém, R$ 2.991,58.

Logo, é visível como os preços flutuam dependendo do dia pesquisado e por isso, é essencial pesquisar e ter paciência para encontrar preços que caibam no bolso, visto que em uma semana, por exemplo, as passagens de Belém para Santarém em janeiro de 2024 ficaram mais de R$ 1000 mais baratas.

image É mais barato para o paraense desembarcar em Fortaleza que no Aeroporto de Santarém (Divulgação/Infraero)

Sobre essa discrepância de valores e distância, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) esclarece que os preços das passagens aéreas oscilam a todo instante em função de diversos fatores que afetam o mercado e que exercem diferentes forças, sendo elas “oscilação do preço internacional do barril de petróleo; oscilação da taxa de câmbio; estratégias concorrenciais das empresas aéreas, incluindo ações promocionais; comportamento da demanda; densidade da demanda na rota; composição da malha aérea; grau de concorrência; distância; sazonalidade; antecedência da compra da passagem em relação à data do voo; condições contratuais para remarcação e cancelamento da passagem; horário do voo; dia da semana do voo; aeroporto de embarque e desembarque; restrições operacionais da infraestrutura aeroportuária; escalas e conexões do voo; refeição a bordo; canal de comercialização da passagem; escolha do assento; franquia para despacho de bagagem; e outros”.

“Dito isso, é importante destacar que, segundo dados da Anac, o preço médio da tarifa Belém para Santarém, entre janeiro e novembro de 2022, foi de R$ 613,16, enquanto o preço médio da tarifa Belém para Florianópolis foi de R$ 758,16”, completa a Agência.

Investimentos

A ministra do Turismo Daniela Carneiro disse à reportagem de O Liberal que busca a democratização do acesso da população à aviação civil, solucionando o problema dos altos preços. “Já recebi representantes do setor e de órgãos do governo federal para identificar gargalos e buscar soluções que permitam a redução do preço das passagens. Esta é uma das minhas prioridades. Também, junto com o Ministério de Portos e Aeroportos, vamos estudar formas de desenvolver a aviação regional, ampliando a conectividade aérea pelo país”, garante.

image Ministra do Turismo, Daniela Carneiro, afirmou que o Governo Federal está investindo R$ 27,9 milhões em projetos no Pará (Pedro França/MTur)

“O Pará é um estado belíssimo, que já se destaca como um importante destino turístico, mas que tem um potencial ainda maior. Então, o nosso esforço será de fortalecer o turismo no nosso país, incluindo o Pará, para que este potencial seja, de fato, alcançado e desenvolvido em sua plenitude. Lançamos um Plano de Ação do Ministério do Turismo para os primeiros 100 dias do governo Lula e que engloba eixos como a estruturação de destinos, a democratização do acesso da população à aviação civil, a sustentabilidade e o diálogo com entidades representativas do setor”, continua a ministra do Turismo.

No caso da estruturação de destinos, Daniela Carneiro afirmou que o Governo Federal está investindo R$ 27,9 milhões em projetos no Pará, envolvendo obras como a construção de praças, de portais, pavimentação e a reforma de orlas. Santarém, especificamente, conta com R$ 4,4 milhões apenas para a pavimentação do acesso à Orla do Rio Tapajós.

“No quesito sustentabilidade, atento ao potencial amazônico, criamos na estrutura do Ministério do Turismo uma coordenação de Desenvolvimento Sustentável e Mudanças Climáticas. Também estamos desenvolvendo um curso de extensão sobre turismo responsável e sustentabilidade para gestores públicos, que poderão agir como multiplicadores. Outro eixo de destaque é o diálogo, permitindo que estados, incluindo o Pará, exponham demandas e possamos construir soluções conjuntas, sob o lema de união e reconstrução”, finaliza a ministra.

Expectativa de crescimento

No Brasil, a expectativa para o setor de turismo em 2023 é de um crescimento de 53,6% em comparação a 2023. Esta projeção foi realizada com base nos resultados do terceiro trimestre de 2022, momento no qual mais da metade das empresas entrevistadas afirmou ter elevado em 100% (ou mais) o faturamento, em relação com o mesmo período do ano passado.

Os dados são animadores para as empresas e para toda a economia, pois o setor, além de representar uma importante atividade, apresenta grande capacidade de empregabilidade. As informações fazem parte do boletim da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), com a Federação do Comércio Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

Em Santarém, esse aumento deve ser em torno de 25%, afirma o secretário de Turismo municipal. “Nossa expectativa é crescer em torno de 20 a 25%. Isso já é muita coisa porque assim, a gente já recupera basicamente tudo o que nós já perdemos com a pandemia, pois ainda não conseguimos voltar a receber o mesmo número de antes da pandemia, mas acreditamos que este ano, vamos conseguir”, finaliza Alaecio.

Em 2022, 2156 decolagens foram realizadas com destino à Santarém. Em 2021, 2091. Em 2020, foram 1630. Em 2019, 2587. Os dados são da Anac.

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