Pará pode aumentar exportações em até 50% com novas rotas para o Pacífico, indicam economistas
Infraestrutura logística inédita deve reduzir custos, acelerar o acesso ao mercado asiático e impulsionar setores como mineração, agronegócio e madeira
Com a previsão de inauguração da primeira das cinco rotas de integração entre o Brasil e países vizinhos já em 2025 — a chamada Rota Amazônica — e a conclusão da Rota 3 até 2027, o Pará desponta como um dos estados que mais podem ampliar a competitividade no comércio exterior. Economistas ouvidos pelo Grupo Liberal afirmam que a nova ligação direta ao Pacífico pode elevar as exportações paraenses em até 50% no médio prazo, especialmente para o mercado asiático.
Segundo Mário Tito, doutor em Relações Internacionais, a implementação das novas rotas logísticas que conectam o Brasil ao Pacífico pode representar uma verdadeira revolução para a competitividade do Pará no comércio internacional. Tito destacou que a falta de infraestrutura adequada sempre foi um dos principais obstáculos para a região, especialmente no que se refere ao escoamento da produção. Com as rotas de integração propostas, ele vê uma oportunidade de reposicionar o Pará e a Amazônia, ao proporcionar uma redução nos custos logísticos e facilitar o acesso a mercados estratégicos, como o asiático.
Para Everson Costa, supervisor técnico do Dieese/PA, as novas rotas logísticas que conectam o Pará aos mercados do Pacífico terão um impacto direto e significativo na economia estadual, principalmente na geração de empregos e na circulação de renda. A implementação das Rotas 2 e 3, segundo ele, oferece uma oportunidade única de superar esses obstáculos, reduzindo os custos logísticos e possibilitando um crescimento acelerado nos setores estratégicos, como o agronegócio, a indústria e a mineração.
Rotas para o Pacífico devem reposicionar o Pará no comércio internacional
O projeto federal prevê cinco corredores logísticos interligando o território brasileiro a países como Peru, Colômbia e Equador. A Rota 2, primeira a entrar em operação, conectará a Região Norte diretamente à tríplice fronteira — abrindo um novo caminho hidrológico e terrestre até o Pacífico.
Para o economista Nélio Bordalo, membro do Corecon PA-AP (Conselho Regional de Economia do Pará e Amapá), o impacto tende a ser imediato nos setores que já lideram as exportações paraenses.
“A operação plena da Rota Amazônica tende a reduzir significativamente os custos logísticos e o tempo de escoamento dos minérios para portos de saída rumo à Ásia, aumentando a competitividade frente a concorrentes que dependem do Atlântico”, afirma.
O economista Genardo Oliveira concorda e reforça que a mineração deve ser o setor mais beneficiado.
“O Pará é o maior exportador brasileiro de ferro, cobre, bauxita e manganês. Com acesso mais rápido ao Pacífico, esses produtos chegam com menor custo aos principais compradores, como a China”, explica.
Bordalo acredita que, nos próximos dois a cinco anos, é razoável esperar um crescimento consistente das exportações de grãos e produtos agrícolas via portos do Pará, dado o histórico recente e os investimentos logísticos.
“Um crescimento adicional de 10% a 30% no volume exportado (em relação ao patamar 2024) seria plausível, se as rotas estiverem funcionando plenamente e com boa demanda internacional, embora isso seja uma estimativa conservadora e especulativa”, projetou.
Agronegócio e madeira também devem ganhar espaço no mercado asiático
Além dos minérios, o agronegócio paraense — que exporta soja, milho, carne bovina e bois vivos — deve encontrar nas novas rotas um novo impulso competitivo.
Segundo Bordalo, “a integração via Rota Amazônica e Rota 3 pode reduzir sensivelmente os custos de frete e o tempo de transporte, favorecendo produtos agrícolas quando há demanda internacional elevada”.
Oliveira acrescenta que a diminuição do tempo de transporte pode fortalecer ainda mais o posicionamento do Pará no agronegócio.
“Produtos como soja e carne poderão acessar portos do Pacífico com menor custo, ampliando a competitividade frente a exportadores de outros continentes”, diz.
O setor madeireiro e de produtos florestais — que enfrentou retração em 2025 — também aparece como candidato à recuperação. “Se a logística for mais eficiente, há potencial de retomada das exportações de madeira, celulose e derivados, com maior acesso a mercados asiáticos”, avalia Bordalo.
Para Oliveira, as rotas oferecem ainda oportunidade para cadeias mais sustentáveis.
“A bioeconomia amazônica pode ganhar força, com exportações de óleos essenciais, fitoterápicos e alimentos nativos, produtos de alto valor agregado e grande demanda na Ásia”, destaca.
Rota 3 deve impulsionar investimentos e ampliar emprego no Pará
A Rota 3, prevista para 2027 e considerada a mais estratégica para o Pará, conectará centros produtores do estado a áreas de fronteira, ampliando a capacidade de escoamento de commodities. Para Oliveira, o impacto será estrutural.
“A Rota 3 deve atrair investimentos em portos, hidrovias e armazenagem, com efeitos diretos no PIB e na geração de empregos”, afirma.
Bordalo ressalta que o benefício de longo prazo dependerá de mais que logística. “Exportar apenas matéria-prima mantém o Pará vulnerável a flutuações internacionais. Para ganhos sustentáveis, será preciso investir em beneficiamento e agregação de valor”, pondera.
O membro do Corecon PA/AP analisa que, se o Pará conseguir agregar valor (bioeconomia, manufaturados, mineração metálica), e se a Rota 3 ampliar a conectividade com grandes regiões produtoras, o salto pode ser maior.
“Talvez um crescimento de 30% a 50% em valor exportado em médio prazo. Contudo, tudo depende de variáveis como demanda externa, eficiência logística, infraestrutura portuária, e fatores ambientais - nível dos rios, regularidade da navegação, custos de transporte”, projeta o economista.
Integração logística e acesso mais rápido ao mercado asiático
Segundo Mário Tito, Doutor em Relações Internacionais, a ausência de infraestrutura adequada sempre foi um dos principais entraves para a competitividade amazônica no comércio exterior.
“Um dos gargalos da Amazônia, no que se diz respeito ao comércio internacional, se dá exatamente pela ausência de modais que possam não só diminuir custos, como também facilitar o escoamento da produção”, afirma.
Para ele, as rotas de integração propostas pelo governo podem reposicionar a região ao criar vantagens competitivas no cenário internacional. “Se a gente vai pegar a rota de integração sul-americana, isso pode sim, de alguma forma, colocar o Pará e a Amazônia como um todo em vantagem competitiva”, explica.
O especialista ressalta que a otimização dos modais — combinando trechos rodoviários, fluviais e marítimos — tende a reduzir custos logísticos e a agilizar o transporte de cargas.
“O que mais se procura no comércio internacional são essas vantagens competitivas: a diminuição de custo, a melhoria do transporte dos produtos e uma integração que seja regional”, observa.
Segundo ele, essa articulação continental “facilita muito o processo de escoamento da produção e a melhoria nas condições de competitividade.”
Tito também destaca que as novas rotas aproximam fisicamente a Amazônia do eixo econômico mais dinâmico do planeta.
“É um caminho menor para a Ásia. O mercado asiático tem se aquecido muito. A hegemonia do mundo passa pela Ásia. Então, quanto mais você puder acessar de maneira mais rápida e mais otimizada o comércio asiático, melhor para quem está oferecendo produtos”, diz.
Além disso, ele lembra que existe uma demanda crescente por produtos amazônicos, mas que esses bens não podem perder competitividade devido à dificuldade logística histórica da região. Por isso, avalia positivamente o esforço de integração.
“Vejo de maneira muito positiva os projetos que buscam a implementação dessa rota sul-americana, seja para o atendimento dos países vizinhos — especialmente Bolívia, Equador, Peru, Chile e Argentina —, mas também pensando além, na perspectiva asiática”, conclui.
Setor agropecuário prevê salto nas exportações com novas rotas de integração
Para Guilherme Minssen, diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), as novas vias de integração podem transformar profundamente a competitividade do agronegócio paraense.
“A rota ‘bioceânica’ ligando o Atlântico ao Pacífico deve ser uma revolução espetacular para o Brasil”, afirma.
Ele destaca que a ligação terrestre entre as áreas de produção do agronegócio brasileiro e os portos chilenos representa uma mudança estrutural no custo e no tempo de transporte internacional.
“Esta via, que atravessa o país na sua área exportadora do agronegócio e passa pelo Paraguai, pela Argentina e pelo Chile, tem no ano de 2026 sua possível conclusão, fazendo de nossa integração regional — do porto de Santos até os portos de Iquique e Antofagasta, no Chile — uma realidade”, explica.
Segundo Minssen, a redução de custos logísticos tende a ampliar tanto o volume quanto o valor das exportações agropecuárias do Pará, além de reforçar a presença do Brasil nos mercados asiáticos, que hoje concentram grande parte da demanda mundial por alimentos.
“Vamos fazer a maior integração regional, com mais importação e exportação de produtos do Brasil com os países vizinhos, com um custo bem mais viável”, diz.
Para o dirigente, a abertura das novas rotas — incluindo a futura Rota 3, de forte interesse para o Pará — representa uma oportunidade histórica para o estado ganhar agilidade, competitividade e acesso direto aos mercados do outro lado do Pacífico.
Dieese vê geração de empregos e efeitos diretos na economia paraense
Para Everson Costa, supervisor técnico do Dieese/PA (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), os impactos das novas rotas devem ser amplos e atingir diferentes setores da economia estadual.
“Vai ter impactos na geração de emprego. Se você gera mais emprego, você aumenta também a circulação de renda. Isso é importante para o Estado, é importante para a Amazônia, porque você traz efeitos diretos na economia estadual do Pará”, afirma.
Costa destaca que o Pará convive há décadas com desafios logísticos que encarecem a produção e limitam sua competitividade. A implementação das Rotas 2 e 3, segundo ele, é uma oportunidade para romper esse ciclo.
“Em um estado continental como o Pará, essas rotas reduzem os custos logísticos. Nós temos esse desafio há décadas: fazer com que aquilo que é produzido aqui possa ter um custo logístico menor”, explica.
O supervisor técnico avalia que os impactos positivos devem surgir ainda no curto prazo, especialmente na fase de obras.
“A gente está falando de impactos diretos na construção, na ampliação e na manutenção de rodovias e portos. Não à toa o Estado agora tem, inclusive, pedágios — uma prática que deve ser ampliada para dar conta dessa malha viária gigante”, afirma.
Com o aumento do fluxo de cargas e serviços, outros segmentos também devem sentir o impulso. “Você vai precisar de mais transportadoras, de um serviço de apoio; aumenta a demanda em setores como alimentação, comércio, serviços e hospedagem. No curto prazo, isso será muito benéfico”, avalia.
A médio e longo prazo, Costa acredita que os corredores logísticos fortalecerão atividades estratégicas da economia paraense.
“Agronegócio, indústria, avanço da pesca, desenvolvimento da bioeconomia pós-COP 30 — todos esses segmentos devem ser ampliados, com tendência de formalização dos empregos”, afirma.
Ele também aponta regiões específicas que devem sentir os maiores impactos.
“A região Oeste, com Santarém e seus portos logísticos, deve ser bastante beneficiada. A Região Metropolitana de Belém continua sendo o grande centro de serviços logísticos e financeiros, podendo fortalecer uma logística mais industrial e portuária. Em Marabá e Parauapebas, mineração e siderurgia também serão favorecidas”, explica.
Para Costa, o conjunto desses fatores abre espaço para um ciclo de dinamização econômica. “A gente passa a ter mais possibilidades de ampliar a produção, diminuir custos, ter preços mais competitivos, gerar mais emprego e internalizar mais resultados. Isso melhora a circulação de renda e a própria cidadania da população”, conclui.
Rotas de integração
- Rota da Ilha das Guianas, que inclui integralmente os estados de Amapá e Roraima e partes do território do Amazonas e do Pará, articulada com a Guiana, a Guiana Francesa, o Suriname e a Venezuela;
- Rota Multimodal Manta-Manaus, contemplando inteiramente o estado Amazonas e partes dos territórios de Roraima, Pará e Amapá, interligada por via fluvial à Colômbia, Peru e Equador;
- Rota do Quadrante Rondon, formado pelos estados do Acre e Rondônia e por toda a porção oeste de Mato Grosso, conectada com Bolívia e Peru;
- Rota de Capricórnio, desde os estados de Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina, ligada, por múltiplas vias, a Paraguai, Argentina e Chile; e
- Rota Porto Alegre-Coquimbo, abrangendo o Rio Grande do Sul, integrada à Argentina, Uruguai e Chile.
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