Pará depende de outros Estados para alimentar a população

Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais do município de Soure afirma que Estado deveria investir na produção de arroz em subprodutos da mandioca

Natália Mello
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A maioria dos produtos da cesta básica paraense continua sendo importada de outros Estados, segundo o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Soure, Hildegardo Nunes, membro da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa). O ex-vice governador do Estado e ex-titular da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap) afirma que o Estado deveria investir, por exemplo, na produção de arroz e em subprodutos da mandioca.

“No Pará, ainda dependemos de forma muito forte da importação de outros Estados, dadas as condições do nosso clima e do nosso solo. Há certos produtos que temos dificuldade de produzir, por conta disso, na região norte amazônica. A produção de batata, cenoura e cebola, por exemplo, isso somos dependentes quase integralmente. Feijão, a gente produz bastante o caupi, conhecido como da colônia, diria até que a gente tem uma autossuficiência. Mas o preto e o marrom, que chamamos de carioca, esse também, na sua maioria, é importado”, detalha Hildegardo. O produtor reforça que a produção desse feijão existe, no Pará, em pontos específicos, como Monte Alegre e Alenquer, além de algumas experiências no nordeste paraense.

Feijão

Quanto ao arroz, Hildegardo lembra que o Pará avançou consideravelmente e, de 100% antes importado do Rio Grande do Sul, hoje o estado produz 20%, reduzindo a importação para 80%. O cultivo se destaca no arquipélago do Marajó.

“E você tem a produção de arroz de sequeiro, que é uma cultura rústica, em que se prepara uma área que era pasto e depois converte para soja. Ou seja, no primeiro ano faz com o arroz, que entra como cultura complementar para cultura de soja e milho, e depois isso traz um volume de produção considerável para o Pará, para o nosso mercado interno. Então, potencial nós temos, precisamos investir nessa produção, porque podemos ser autossuficientes de arroz”, diz.

Hildegardo, que também já foi deputado estadual, idealizou um projeto chamado “cinturão verde de produção”, voltado para a produção de hortifrúti dentro da região metropolitana de Belém. A ideia era incentivar a produção de frutas e verduras, especialmente por serem mais perecíveis, para garantir um produto de mais qualidade para o consumidor e maior rentabilidade para os produtores.

“Quanto mais perto do consumidor essa produção, melhor será o resultado para o consumidor, porque é um produto mais fresco, além de ser bom para o produtor, que passa a reduzir as perdas de lucro com transporte e armazenagem. A ideia é promover o autoabastecimento em frutas e verduras, principalmente folhosas, como couve, alface, cariru, cheiro verde, cebolinha, além das frutas, como mamão, banana, melancia, e que poderiam acessar o mercado”, explica.

Repolho é importado

Esse mercado de produção de folhosas é, hoje, forte em Santa Isabel do Pará e Santo Antônio do Tauá, os dois municípios responsáveis, praticamente, por todo o abastecimento da RMB. Por condições naturais, Hildegardo lembra que outras verduras nunca poderão contribuir com a autossuficiência do Estado para a produção de hortifrúti, como é o caso do repolho, que é importado.

“Acho que a grande estratégia é sermos não só autossuficientes, como termos excedentes naquilo que a gente produz com qualidade e quantidade. Por exemplo, o Pará é bom em mandioca, então por que não investir e incrementar a produção de subprodutos dela? Laranja, a gente está bom de produção. O Pará é o único polo produtor isento de pragas, temos Ourém, Capitão Poço, Irituia. O Pará pode se especializar ainda mais na produção e laranjas”, disse.

Outra fruta que já foi referência nacional é o mamão, devido à produção de Castanhal, mas a atividade perdeu muita força por algumas crises de mercado. Também foi citado o abacaxi, que hoje o Pará detém a segunda maior produção do Brasil, com destaque para o município de Floresta do Araguaia. “Fora que ao lado de Belém tem Salvaterra, que tem o que considero um dos melhores abacaxis de mesa do Brasil. Aí temos uma diferença para o abacaxi de indústria, porque não é tão grande, mas é de sabor inigualável. Então, por que não trabalhar um aproveitamento em doces e compotas”, questiona.

Safra paraense em 2022

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a safra paraense de cereais, leguminosas e oleaginosas deve alcançar 3,88 milhões toneladas em 2022, produção maior que o ano anterior (3,53 milhões de toneladas), de acordo com a estimativa de abril do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgado em maio. Com essa produção, o Pará é o segundo maior produtor de cereais, leguminosas e oleaginosas da região Norte, atrás de Tocantins (5,35 milhões de toneladas) e na frente de Rondônia (3,32 milhões de toneladas).

Os destaques são a produção de mandioca, com cerca de 4,11 milhões de toneladas, estimativa maior que a produção do ano passado (4,06 milhões de toneladas). Apesar de ser o estado que mais produz mandioca do Brasil, o rendimento médio (quantidade produzida por cada hectare) ainda é baixo: pouco mais de 14 toneladas por hectare, ficando, nesse aspecto, em 16º lugar no ranking das 27 unidades da federação. Esses são dados da estimativa de setembro do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgado hoje (12) pelo IBGE.

Outro destaque é a soja com aumento de sua produção em relação à safra do ano anterior (2,23 e 2,53 milhões de toneladas respectivamente) e cana de açúcar com aumento de 1,06 milhões para 1,23 milhões de toneladas em relação ao ano anterior.

Safra brasileira tem alta na sua produção

A safra brasileira de cereais, leguminosas e oleaginosas deve alcançar 261,5 milhões toneladas em 2022, de acordo com a estimativa de abril do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA). Este valor é 3,3% acima (ou 8,3 milhões de toneladas) da safra obtida em 2021 (253,2 milhões) e 1% acima da estimativa de março (2,5 milhões).

“A safra de verão nas lavouras do Centro-sul do país sofreu com questões climáticas, o que levou à redução de estimativas de produção. Mas com o retorno das chuvas em janeiro, houve recuperação de algumas lavouras”, explica o gerente da pesquisa, Carlos Barradas.

Principal commodity do país, a soja teve a colheita praticamente finalizada nos principais estados produtores, e apresentou aumento 2% no volume de grãos em comparação com março. Ainda assim, a produção nacional deve atingir 118,5 milhões de toneladas, uma redução de 12,2% na comparação com 2021. “Como dito anteriormente, é uma safra marcada por efeitos climáticos adversos, com registro de forte estiagem durante o desenvolvimento da cultura”, justifica Carlos Barradas analista da pesquisa. Na região Sul, a mais afetada pela questão do clima, a estimativa de redução no rendimento médio da soja já alcança 46,2% na comparação com o ano anterior.

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