No Dia da Cachaça, algumas histórias da queridinha do Brasil

Bebida nacional enfrentou preconceitos para virar produto artesanal vencedor de concursos

Cínthia Gatti / O Liberal
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A cachaça é uma das bebidas mais consumidas no Brasil e ganha espaço no mundo. Aqui no País possui história de resistência, popularização e até de superação de preconceitos. O mercado enfrentou uma grave crise e queda na produção com o avanço da pandemia. Contudo, no Dia Nacional da Cachaça, no dia 13 de setembro, é possível comemorar alguns avanços no setor. A expectativa é que o destilado alcance novos mercados.

A cachaça é produzida a partir da cana de açúcar. Uma bebida tipicamente brasileira e uma das mais consumidas no Brasil e no mundo. O setor da cachaça possui 7% de participação do mercado brasileiro de bebidas alcoólicas, em volume, enquanto a cerveja, primeira colocada, detém 87%. A cachaça representa mais de 72% do mercado de destilados.

A produção cresceu muito nos últimos 10 anos, mas o cenário começou a mudar com o avanço da pandemia. De acordo com dados do Comex Stat, compilados pelo Instituto Brasileiro da Cachaça – IBRAC. O Brasil exportou 5,57 milhões de litros da bebida em 2020, número 23,9% menor do que em 2019, quando foram vendidos 7,33 milhões de litros. Esse volume representou um faturamento para o setor de US$ 9,5 milhões em 2020 – 34,8% menor do que os US$ 14,6 milhões do ano anterior.

Omilto Quaresma, empresário e produtor da cachaça Indiazinha, em Abaetetuba, conta que com o fechamento de bares e restaurantes a queda na comercialização chegou há quase 70%.

“Os bares e restaurantes fecharam, mas acreditávamos que os supermercados iriam suprimir a demanda e a venda das bebidas. Porém, não foi o que aconteceu. Tivemos que reduzir a produção e a queda foi considerável de mais de 70% do faturamento”, relata.

A destilaria da Amazônia produz cerca de 250 mil litros de cachaça por ano e repassa uma tradição de mais de 200 anos da região, que já foi conhecida no passado como polo produtor do destilado na região Norte. A produção do Omilto é tipicamente artesanal de alambique. Na fazenda é produzida a cana de açúcar e no alambique a fermentação da bebida, ainda o processo de engarrafamento e comercialização. Atualmente, a cachaça indiazinha é exportada para todos os Estados do Brasil, além de outros países como República Tcheca, Inglaterra e Estado Unidos. Para o empresário, a cachaça ainda precisa conquistar o paladar do cliente no mercado exterior, mas esbarra na falta de incentivo para o pequeno produtor.

Artesanal

“O que acontece é que o Brasil hoje exporta cachaça industrializada. Quando o consumidor do mercado externo experimenta, ele não se sente atraído, isso seria bem diferente se fosse uma cachaça artesanal. Temos no Brasil cachaças artesanais que ganharam grandes concursos e premiações competindo com bebidas mundialmente famosas. É essa cachaça que temos que mandar pra fora, de qualidade e com a nossa identidade, a cachaça tipicamente artesanal.”, completa.

A diversificação da produção dos destilados a partir da cachaça também é um diferencial da cachaça amazônica. Bebidas produzidas com a base de cachaça com sabores de jambu, açaí e guaraná, por exemplo, por serem produtos típicos da região, têm caído no gosto do consumidor. De acordo com o produtor, a expectativa é de que a bebida alcance nos próximos anos o mercado externo com mais força.

“É igual o açaí há 10 anos: começou tímido, hoje esse produto da Amazônia é encontrado no mundo inteiro, seja como sorvete, bebida. Virou um sabor conhecido. Estou convicto de que assim será com a cachaça brasileira”, projeta.

Preconceito

A criação do Dia Nacional da Cachaça foi uma iniciativa do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), instituída em junho de 2009. Um projeto de lei do deputado Valdir Colatto e que foi aprovado pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, em outubro de 2010, com o objetivo de oficializar a data.

Legalização

Como a maioria dos acontecimentos no Brasil, a importância da cachaça no país só foi reconhecida após uma revolta popular contra as imposições da Coroa portuguesa, conhecida como "Revolta da Cachaça", ocorrida no Rio de Janeiro. Isso porque, à época, a produção da cachaça no país era proibida. Portugal queria substituir a cachaça pela aguardente bagaceira, típica do país Lusitano. Em 13 de setembro de 1661 que a cachaça passou a ser oficialmente liberada para a fabricação e venda no Brasil.

Por muito tempo a cachaça foi considerada uma bebida apenas popular e consumida basicamente por pessoas com baixo poder aquisitivo, por conta do valor de comercialização acessível. Essa conotação referente ao consumo de cachaça por um determinado grupo social fez com que preconceitos fossem aferidos implicitamente. Como o termo pejorativo “cachaceiro”, referindo-se aos alcoólicos. De acordo com o sommelier Abdias Lima, cachaceiro é o apreciador da cachaça.

“O termo cachaceiro é preconceituoso! A cachaça é uma bebida nobre e desenvolvida a partir de um processo artesanal muito tradicional, não perde para nenhuma outra bebida. Recentemente, a cachaça vem ganhando mais espaço nos menus de grandes restaurantes mundo afora, com a caipirinha. Além disso adicionando gengibre, limão, vinho por exemplo, é possível criar drinks com conceitos inovadores”, relata.

O sommelier ainda acrescenta que vários ditos populares conferidos à cachaça, embora a maioria das pessoas não entenda, além da questão cultural, carrega saberes relacionados à degustação da bebida.

“Tomar a cachaça para abrir o apetite, todo mundo já ouviu isso. Embora muitos acreditem que não passa de uma expressão popular, o shot de cachaça antes de ingerir o alimento faz abrir o palato e torna ele mais apurado para sentir o sabor da refeição.”, completa.

Curiosidades

•          A cachaça tem em média 40% de teor alcoólico e, atualmente, é definida como um produto cultural brasileiro.

•          A bebida tem vários sinônimos e alguns deles bastante curiosos como mata-bicho, branquinha, parati, bicha, "água que passarinho não bebe", marvada, veneno, boa, etc.

•          Salinas, município da região norte do estado de Minas Gerais, é conhecido como a "capital nacional da cachaça".

Produção no Pará

De acordo com o mapa da cachaça de 2019, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em 2019, no Brasil, havia 894 (oitocentos e noventa e quatro) produtores de cachaça no Brasil registrados no Mapa. O Estado de Minas Gerais ocupa a primeira posição, onde o número de produtores registrados é quase o triplo do segundo colocado, São Paulo.

Só na região Sudeste, são 622 estabelecimentos registrados. A região Norte conta com somente nove produtores, com a menor parcela, de 1%, são 14 marcas de cachaça registradas.

De acordo com o produtor Omilto Quaresma, o Norte não acompanhou as outras regiões no quesito evolução tecnológica, principalmente na produção de cana-de-açúcar.

“Enquanto o Sudeste investiu em maquinário para a produção da cana-de-açúcar, isso não ocorreu aqui, bem como a extensão da cultura. Além disso, as destilarias do Norte ainda produzem de forma artesanal, e conta, em sua maioria, com pequenos produtores”, afirma Omilto.

No Brasil existem hoje cerca de 3.050 tipos diferentes de cachaça. No Pará são 174 tipos diferentes do destilado.

 

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