Mesmo com a presença digital e online de vendas livros, livrarias de Belém resistem no mercado

A preferência do consumidor ainda é pelos exemplares impressos; pesquisa do SNEL mostra que o setor fechou o ano de 2022 com alta de 2,98%

Camila Azevedo
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A presença das novas tecnologias e diferentes formatos de leitura não tem sido motivo para afastar os clientes das livrarias de Belém, que sentem uma melhora no volume de livros vendidos. A preferência ainda é pelas obras físicas. O levantamento mais recente divulgado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) mostra que o setor fechou o ano de 2022 com alta de 2,98%, se comparado a 2021, arrecadando cerca de R$ 2,54 bilhões em receita com a venda de 58,61 milhões de exemplares.

A alta vem após o cenário visto com a pandemia em 2020, período em que muitas livrarias - assim como outros estabelecimentos - passaram, em média, quatro meses fechados. A internet e as vendas pelas redes sociais foram alavancadas e o setor no âmbito físico perdeu 20% de movimentação, conforme dados da Associação Nacional das Livrarias (ANL). A recuperação ocorreu em 2021, quando os parâmetros chegaram a níveis vistos em 2019, fechando o ano com um acréscimo de 30%.

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Recuperação

Dados de 2013 da ANL indicam que, em Belém, 30 livrarias estavam abertas. Em 2022, houve pouca alteração: o número ficou em 31. O ano passado também foi vantajoso para uma varejista do ramo localizada em shopping da cidade. Edilene Reis, gerente da loja, diz que a recuperação foi sentida com um grande crescimento de vendas. “Crescemos em várias áreas em relação aos anos anteriores : infantojuvenil, quadrinhos e HQ. Chegando a um crescimento de quase 30%. Um resultado muito bom”, analisa.

image Os livros voltados para o público infantojuvenil são a preferência do consumidor e os que mais vendem nas livrarias (Sidney Oliveira / O Liberal)

O movimento de saída dos produtos foi superior aos anos anteriores e notaram um fôlego a mais depois da pandemia. “Foram tempos difíceis para todo mundo; tivemos que fechar por alguns meses, mas conseguimos manter o número de funcionários e, quando abrimos, fomos nos recuperando aos poucos, tendo um resultado positivo posteriormente. Agora, em 2023, já começou bem. As expectativas para este ano são muito boas. Os jovens estão lendo bastante, escolhendo seus próprios livros, e isso impulsiona esse gênero”, completa Edilene.

"Concorrência desleal" tem sido o grande problema das varejista

Apesar das novas tecnologias, os livros físicos não têm perdido tanto espaço de venda para os e-books. Marcus Teles, presidente da ANL, explica que a queda de um para outro é bem pouca. “As pessoas estão preferindo ler impresso. Em 2020, os livros digitais chegaram a 6% de público, hoje deve estar em 6,5%. O livro impresso continua vendendo quase 94% do total. Nos países mais desenvolvidos, os livros digitais não chegam a 20% da média. Tivemos outros problemas, algumas livrarias sentiram a pandemia, entraram no aperto e fecharam”.

Marcus aponta que o motivo para o fechamento de algumas livrarias está relacionado a uma "concorrência desleal" sentida pelas empresas. “Algumas lojas entram no Brasil pelo livro e usam o livro como chamarisco [atrativo] para crescer rápido, vendendo, às vezes, até abaixo do custo. Isso é proibido e tem sido danoso para o mercado. Na União Europeia, 60% dos países fizeram uma lei para proibir essa concorrência desleal. No Brasil, tem uma lei no congresso para proibir, mas está parada”, afirma.

Com isso, a Associação achou que o número de livrarias tinha diminuído no país, mas, o que mudou foi o comportamento delas. “Entre abril de 2021 e o final de 2022, abriram mais livrarias do que fecharam. O que diminuiu foi o número de grandes livrarias. Porém, abriram algumas menores. Assim, o número total não caiu no Brasil. As grandes livrarias diminuíram um pouco a área, de 110 foi para 50 e algumas fecharam, abriram outras, houve uma certa substituição. O problema maior, na verdade, é essa concorrência desleal”, destaca Marcus.

Mudança no hábito do consumidor é notada

Mesmo que a migração para os livros digitais não seja uma realidade tão aparente, a ANL sente que o consumidor tem mudado alguns costumes. “As pessoas estão lendo mais. Mais clássicos foram vendidos. São 200 mil títulos à venda e cerca de 14 mil novos no ano. O que a gente notou, também, que cresceu mais, foram livros infantis, mais notadamente juvenis, a venda de quadrinhos e mangás, algumas áreas cresceram mais que outras. A venda de livros didáticos diminuiu, porque algumas escolas adotam o sistema virtual”, ressalta.

Leitor não abre mão dos livros impressos

Para o advogado e mestrando em filosofia Bráulio Rodrigues, a tecnologia oferecida nos tablets é um complemento. A experiência de ter o livro em mãos não é substituída. “O livro físico, para mim, é mais prático. Eu não viajo tanto com livro, então, não preciso me preocupar com peso e com volume. Tem um conforto maior, porque a leitura não é só ler as palavras, mas envolve uma experiência que passa até pela relação tátil, sentir o livro, cada página. Isso é ainda mais confortável e até mais eficaz, consigo memorizar, aprender melhor”, relata.

image Mesmo com a possibilidade de conseguir livros no formato virtual, o advogado Bráulio Rodrigues não abre da experiência física das edições (Cristino Martins / O Liberal)

A opção feita pelos e-books é mais quando um material dos estudos de mestrado não é encontrado de forma fácil ou, dependendo do preço, ficam mais acessível na versão digital. “O tablet, por mais que você possa simular essa experiência, para mim, não é a mesma coisa. Eu utilizo para ter acesso a materiais que são difíceis de encontrar, esgotados, são caros, livros de língua estrangeira que difíceis de adquirir no Brasil e, se conseguir, o preço é exorbitante. No mais, ele é um acessório, o objeto principal acaba sendo o livro físico”.

Preço alto é sentido

Em média, Bráulio comprava dois livros por mês. Com a pandemia, o volume de leituras cresceu, sendo facilitado por edições que já tinham sido adquiridas. Porém, no último ano, ele sentiu um aumento nos preços, o que também resultou na diminuição desse consumo. “Tem livro que eu comprava há dois anos atrás por R$ 50. Agora, o mesmo livro custa R$ 70, em média. É um aumento muito expressivo. Posso verificar que isso fez com que eu tivesse um controle maior na hora de comprar”, completa o advogado.

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