Fim do embargo chinês traz alívio para pecuária paraense e expectativa de carne mais barata

Expectativa é de melhorias em 2022, com estabilidade nas exportações e até redução no preço da carne bovina

Eduardo Laviano / O Liberal
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O embargo chinês à carne bovina brasileira foi finalizado no último dia 15 (quarta-feira) e já anima o setor agropecuário paraense, que estima um período de estabilidade e até uma redução dos preços ao consumidor, um horizonte de alívio após a carne vermelha ter somado inflação acima dos 20% no Pará segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. 

Francisco Victer preside a Aliança Paraense pela Carne e utiliza alguns números para dimensionar o impacto do embargo para a economia paraense: em 2020, quase 75% das nossas exportações de carne bovina tiveram como destino a China.

Segundo ele, desde o dia 4 de setembro, quando o embargo iniciou, houve uma queda de 20% no preço da arroba do boi que estava entre R$ 300 e R$ 310 reais e chegou ao valor mínimo de R$ 245 reais.

"Isso acabou tendo repercussão do preço da carne ao varejo, com cortes de segunda que estavam acima dos R$ 23 e R$ 24 reais o quilo e caíram para a casa dos R$ 17.  O que nós percebemos, é que durante este período, houve escassez de cortes nobres como filé mignon, alcatra, mais desejados pelas classes A e B, já que houve uma grande quantidade de bovinos para a China que não foram abatidos. O mercado vem estabilizando e estamos na fase final de um ciclo de escassez e com mais oferta de animais para o abate em 2022, com mais oferta de gado, carne e com melhoria na produtividade. Isso ajuda nesse enfrentamento de maior oferta, com tendência de acomodação nos preços e redução no preço das carnes, para o consumidor que luta tanto para manter a sua dieta alimentar ou comer seu churrasco no fim de semana. Vemos isso de forma muito animada", afirma.

Novos mercados

Victer avalia que as lições que o embargo deixa orbitam na importância de conquistar novos mercados, para que o Pará não dependa apenas de um único comprador gigante, como a China, já que três terços da produção do ano passado foi destinada para lá. 

"As primeiras notícias que chegaram é que já não tinha mais bezerro para vender. Diminuiu consideravelmente a oferta, pois quem tinha bezerro para vender quis esperar para botar um novo preço. E também as ofertas de frigorífico, que começaram a comprar em muito mais quantidade. Quando amanheceu a quarta-feira no Pará, amanhecemos com outro preço e novas negociações de boi, bezerro, novilha e vacas em todo o Estado", relata o zootecnista Guilherme Minssen, diretor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará, sobre o fim do embargo após mais de três meses de impasse por conta de dois casos suspeitos de síndrome da vaca louca nos produtos recebidos pelo país asiático.

Alívio para o setor econômico paraense

Minssen afirma que a notícia é um alívio para o setor e que o impacto na economia paraense deve ser imediato. Ele conta que a posição de destaque que o Pará adquiriu no setor agropecuário é resultado de um processo histórico demorado e suado, já que foi a última região do Brasil a entrar no ramo, construído a base de muito trabalho. Por conta disso, o embargo obviamente assustou todos os produtores, mas as expectativas são de melhorias para 2022.

"Hoje, temos o terceiro maior rebanho no Estado do Pará. Esse destaque que teve agora na comercialização foi imediato porque o mundo está voltado agora para o Brasil. No mundo pós-pandemia, todos os países olham para o Brasil e para o mercado da carne daqui. O Brasil hoje alimenta 1,3 bilhão de pessoas, com 9% da sua área. Temos a carne mais barata do planeta e, no Brasil, a carne mais barata está no Pará", diz ele, que também é leiloeiro rural. 

China é responsável por mais da metade da compra de carne no Brasil

Até setembro deste ano, a China foi responsável por comprar 56% da carne bovina brasileira exportada. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Frigoríficos, o volume de exportações de carne bovina brasileira caiu 43% no mês de outubro quando comparado ao mesmo período de 2020, o que dá uma dimensão do impacto do embargo.

Segundo a Administração Geral de Alfândegas da China, os lotes de carne bovina com o certificado emitido entre os dias 4 de setembro e 14 de dezembro não serão aceitos. Porém, se uma carne tiver sido produzida na semana passada e certificada depois de 14 de dezembro, por exemplo, estará liberada para exportação rumo aos chineses.

Dejair dos Santos trabalha há mais de 40 anos na feira da Pedreira vendendo diversos tipos de carne. Ele disse que acompanhou o noticiário em relação ao embargo chinês, mas que na ponta o preço pouco foi influenciado pela queda nas exportações, já que o consumo no mercado local está abaixo do que foi em outros anos por conta da inflação. A expectativa dele é que com o Brasil virando a página do embargo, os produtos possam chegar mais baratos para os varejistas.

"Até o momento não teve queda de preço para nós, do fornecedor para quem revende. Tivemos que trabalhar normalmente com a defasagem que teve na exportação. Os comerciantes pequenos trabalham com dificuldade aqui no Brasil, dificilmente temos benefício de alguma coisa. Mas é bom falar que não é só carne que está cara. Quando você chega no peixe, no hortifruti, tudo está cara. Mas o brasileiro é acostumado a desafios. Este do embargo foi um. Agora tem a questão da inflação, que o problema não é só a carne vermelha. Temos que sair dessa, acho que tem que baixar o preço sim", diz.

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