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Falta de açaí faz pontos de vendas fecharem e preços subirem em Belém

Problema se repete todos os anos, durante a entressafra. Porém, batedores afirmam que este ano a situação tem sido bem mais complicada

Ivan Duarte e Keila Ferreira

Alimento indispensável na mesa de muitas famílias paraenses, o açaí está escasso em Belém. Alguns pontos de venda precisaram, inclusive, manter as portas fechadas porque não conseguiram o produto. Estamos na entressafra do fruto, por isso, a queda na produção e consequente aumento nos preços já é algo esperado. Porém, quem trabalha no setor afirma que, este ano, a situação tem sido bem mais complicada.

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Dono de um restaurante conhecido por ter o açaí como prato principal no cardápio, Nazareno Alves tem seis pontos de vendas. Na última quinta-feira (30), por não conseguir o quantitativo suficiente para atender a demanda, deixou três deles fechados.

“Todo ano a gente se depara com a falta do açaí e esse ano está mais rigorosa, muita chuva no nosso Estado. O ribeirinho fala que não pode nem muita chuva e nem muito sol, tem que ter um equilíbrio, e isso (excesso de chuva) acaba afetando na produtividade. Além disso, hoje, não é só Belém que consome, o Brasil e o mundo também. Então, está bem escasso, bem caro. E é a lei da oferta e da demanda”, declarou Nazareno.

Ele conta que comprava o açaí, no período da safra, por R$ 30 a 35 reais o paneiro com 14 quilos. “E agora eu já cheguei a comprar até R$ 100”, afirma. O problema começou a se agravar na semana passada.

Nazareno Alves conta ainda que, em 2004, comprava o paneiro de açaí por R$ 5. Mas todos os anos o período da entressafra representada um “sofrimento”, pois além da queda na oferta, os aumentos de preços precisavam ser repassados aos clientes. Percebendo o problema, no ano de 2015 ele resolveu plantar açaí. “Estou trabalhando com as sementes da Embrapa. Tive dificuldades porque não entendia nada da agricultura do açaí e hoje, este ano, eu já me torno autossuficiente, por pelo menos uns seis ou sete meses”, diz o empresário, que possui plantação em Igarapé Açú.  

“Então, a solução para tudo isso é o governo abrir linha de crédito e incentivar os pequenos e médio empresários a plantar açaí, para a gente ter equilíbrio, senão a situação só vai piorar”, declarou, afirmando ainda que muita gente fechou seu estabelecimento porque ficou praticamente inviável trabalhar durante a entressafra.

Chuvas atrapalharam a colheita do açaí

Presidente da Associação dos Batedores de Açaí de Belém e Região Metropolitana, Carlos Noronha reforça que o excesso de chuvas dificultou a colheita. Na capital paraense, a demanda da categoria, segundo ele, é de 15 a 20 mil paneiros por noite. “Hoje só tinha 700 paneiros”, revela. “Se você verificar em Belém, 90% dos pontos de açaí estão fechados”, completou.

Além disso, os preços dispararam. Até semana passada, ele diz que o paneiro custava entre R$ 75 e R$ 80 reais, mas agora custa entre R$ 130 a R$ 140.

"O meu aqui, que estava na faixa de R$ 30 o grosso e R$ 20 reais, foi para R$ 25 o médio e R$ 35 o grosso. Não estou nem trabalhando com o popular. Geralmente, trago 30 ou 35 paneiros. Hoje, só trouxe 25 e consegui porque tenho conhecimento. Aqui na Marambaia, só quem está trabalhando sou eu hoje”.

A expectativa é que a situação comece a se normalizar no final de maio ou início de junho. Na Braz de Aguiar, centro de Belém, um ponto de venda de açaí informou que, nesta sexta-feira, não iria funcionar porque não conseguiu fruto de qualidade, em razão da entressafra.

No estabelecimento de Fábio Vasconcelos, desde o início do período chuvoso o preço do açaí subiu de R$ 16 para R$ 24 (Ivan Duarte / O Liberal)

“Esse nosso período de inverno está sendo muito difícil, a gente não está conseguindo, os barcos não estão trazendo açaí”, declarou o dono de outro ponto de venda, localizado no bairro da cremação. No local, no início do inverno amazônico, o litro do açaí estava custando R$ 16, e hoje está R$ 24.

Preço do açaí pesa no bolso do paraense

O técnico em enfermagem Raimundo Matos, de 53 anos, conta que independentemente do preço, o açaí está presente quase diariamente na mesa da família dele. Mas ele afirma que não tem sido fácil comprar o produto. “O preço ficou um pouco mais caro, dá para se perceber que muitas fábricas estão se preparando para exportar”.

Apesar da alta nos preços, Raimundo Matos não dispensa o açaí (Ivan Duarte / O Liberal)

Produtores

De acordo com Darlene Pantoja, presidente do sindicato dos produtores de Igarapé-Miri, com a pandemia, há cerca de dois anos, os produtores não limparam e deixaram de fazer os procedimentos corretos para a produção do fruto. Por isso, ela diz que o momento atual reflete uma “sequela da covid-19”.

Ainda segundo Darlene, mesmo durante a entressafra, no município de Igaparé-Miri, havia uma grande produção. Esse ano, porém, isso não aconteceu. “Acredito que esse ano está sendo ímpar, diferenciado, pela escassez do produto. O palmito do açaí também está muito escasso, pela falta de limpeza, de grupos de trabalho. Só que esse ano é o momento de melhorar para o ano que vem, muita gente está limpando mais as áreas corretas e dá pra fazer uma produção muito grande”.

No Sindicato, há um trabalho de orientação junto aos produtores rurais de manejo correto, com a divisão das áreas de produção: uma com a produção da safra normal e outra da entressafra.  “Estamos trabalhando aqui a questão ambiental para que a gente possa abrir mais áreas”.

Darlene também não acredita que as exportações tenham tanta influência nessa falta do produto para os consumidores locais. “Mas nós podemos abrir mais, trabalhar esse manejo com mais áreas. A dificuldade de não ter mão de obra foi o que causou isso. De toda a produção do estado do Pará, mais de 60% é consumo interno. As exportações sempre vêm abaixo do consumo interno. A gente tem trabalhado muito a irrigação, de tratar o açaí de terra firme, com muitas travas ainda, dificuldades de financiamento. Trabalhando mais a irrigação, temos uma produção de terra firme o ano todo, e isso é uma coisa que a gente pode melhorar muito.

A produtora rural também acredita que a situação deve começar a se normalizar em junho, com a redução das chuvas. “A chuva diminuindo a gente começa a safra um pouco antes”.

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