Exportação, pasto e consumo reduzido seguram preço da carne bovina em Belém, diz empresário

Valores estabilizaram desde o último recuo e devem seguir assim

Maycon Marte
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Após um aumento no preço da carne bovina, percebido desde o segundo semestre do ano passado, lojistas do setor explicam que os valores recuaram pouco no início deste ano e devem seguir estáveis. As razões que impedem uma redução mais significativa incluem o aumento das exportações, a diminuição do poder de compra dos consumidores e a escassez de pasto. O empresário Roberto Malan, que administra dois açougues em Belém, afirma que, apesar da expectativa de novas exportações entre seus fornecedores, “no momento, a tendência é de estabilidade” nos preços.

Dentre os pontos levantados por Malan, as exportações foram as que mais influenciaram o comportamento dos preços no mercado de carnes da capital paraense. Isso porque, à medida que os criadores se dedicam a atender à demanda de compradores externos, é comum que haja um desabastecimento do mercado interno.

“Teve muita operação interestadual tirando o gado daqui, o pessoal subindo o preço, muita exportação, e aí nós do segmento sofremos muito do segundo semestre do ano passado até o final de janeiro — de setembro a janeiro — quando começou a estabilizar. Veio a chuva agora, melhoraram os pastos, mas começaram algumas exportações novamente, então já aumenta um pouquinho de novo”, detalha o empresário.

A redução do poder de compra entre os consumidores também contribui para pressionar essa estabilidade de preços, na tentativa de atender à demanda e manter as vendas. “Quando sobe muito o preço, o povo segura o consumo de carne, ou então migra para outras proteínas, como frango ou suínos. E foi isso que aconteceu, por isso o preço não aumentou mais”, avalia Malan.

Somado a esse movimento, houve também uma escassez de pasto, utilizado na alimentação do gado. As últimas informações repassadas ao empresário por seus fornecedores indicam que essa questão foi normalizada. Entretanto, o cultivo está ligado ao clima e à aproximação do verão, com chances de temperaturas elevadas por mais tempo. Malan confia na estabilidade atual e não teme, por ora, uma nova escassez tão marcante.

O comportamento dos preços por corte segue a lógica de variação entre carnes mais e menos nobres. Malan explica que os cortes dianteiros, como pá, peito e agulha com osso, costumam ter preços menores em relação aos traseiros, como alcatra, maminha e picanha. Os consumidores podem encontrar valores que vão de R$ 20 a R$ 70.

Dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apontam queda de 1,53% no valor médio das carnes em Belém nos primeiros meses deste ano. A redução mais expressiva entre os cortes foi do filé-mignon, com 6,60%, seguido pelo contrafilé, com 3,19%, e pelos cortes peito e pá, ambos com uma queda média de 3,17%.

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Avaliações técnicas

A partir da pesquisa de preços dos últimos doze meses, realizada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA), é possível perceber uma curva de redução sutil no início deste ano. O valor médio do quilo da carne fechou o último ano em R$ 40,63, chegou a R$ 44,21 em janeiro deste ano e voltou a reduzir gradualmente nos meses seguintes, registrando R$ 42,28 até março.

“Em março, o preço da carne começou a se equilibrar, tanto que, na maioria das capitais pesquisadas, o valor não só se estabilizou como apresentou tendência de queda. Entretanto, isso ainda não é suficiente para compensar os aumentos acumulados no ano e nos últimos doze meses”, avalia o supervisor técnico do Dieese, Everson Cardoso.

Ele projeta, para o levantamento do mês de abril, uma possibilidade de redução e dados positivos. No entanto, ressalta que isso ainda depende das movimentações internas do setor. Especialistas, contudo, contestam essa visão.

Para Francisco Victer, coordenador da Aliança Paraense pela Carne, o cultivo do capim para alimentação do gado não é um problema, mas um movimento comum e previsível, que segue o ciclo anual do cultivo. No caso das exportações, ele também discorda de que elas estejam dificultando a redução nos preços.

“O Pará produz quase um milhão de toneladas de carne por ano e consome, no máximo, 250 mil toneladas, de acordo com o consumo per capita. Ou seja, o estado tem um enorme excedente — praticamente 70% da carne produzida aqui é excedente — que precisa ser escoado para outros estados brasileiros ou para exportação. Portanto, as exportações respondem por cerca de 15% de toda a produção de carne do estado. Assim, elas definitivamente não interferem na oferta e, portanto, não têm impacto sobre o preço da carne”, defende Victer.

Outra característica das exportações é quanto ao consumo. Ele explica que o consumo interno é principalmente sobre os cortes da parte traseira do boi, enquanto os cortes mais exportados são da parte dianteiro. Essa diferença no consumo para cada mercado amenizaria um impacto sobre qualquer desabastecimento.

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