Escassez de contêineres prejudica economia paraense

Crise mundial de falta do produto tem gerado atrasos e altos custos para quem trabalha com exportação e importação, da madeira ao açaí

O Liberal

A escassez de contêineres que tem sido observada em em todo o mundo também impactou o Pará. Na última semana, a coluna Repórter 70 do jornal O Liberal relatou que boa parte do setor madeireiro do estado voltou a utilizar o embarque de cargas soltas nos porões do navio, como alternativa a falta de contêineres.

A solução temporária gera ainda um entrave burocrático: na noite da última quinta-feira (10) um navio que iria levar produtos de madeira para o exterior nesse formato, saiu com apenas 80% das cargas previstas, pois o restante delas não obteve a emissão da autorização de exportação em tempo hábil por parte dos órgãos ambientais e teve que ser retirada momentos antes de o navio zarpar.

Setor madeireiro 

Eduardo Leão preside a Associação das Indústrias Exportadoras de Madeiras do Estado do Pará e afirma que o setor florestal tem sofrida com a falta de contêiner no mercado, assim com o booking, termo usado para definir a janela para que portos recebam os navios no exterior.

Ele afirma que dezenas de empresas paraenses atualmente possuem cargas suficiente para encher entre 30 e 40 contêineres, mas estão com as mercadorias paradas justamente pela falta do produto no mercado. 

"Mais ou menos no final de 2020 e início de 2021 tivemos uma queda abrupta no envio de cargas para o exterior. Ultimamente, houve uma melhora no booking, com nossos principais importadores, Estados Unidos e Europa, com janelas abertas para recebimento de cargas, no entanto, a dificuldade permanece sendo a falta de contêiner. Uma alternativa que encontramos para driblar essa crise foi a volta do embarque de carga solta em porões e decks de navio, que era um modal comum há cerca de 15 anos. Então voltamos a fazer isso. Por volta de outubro a novembro, conseguimos conversar e mobilizar algumas empresas de logística e acabamos de enviar a primeira carga para o exterior nesse formato. O que foi um alívio, pois desafoga um pouco dessa pressão", afirma. 

Pandemia é principal causa

Boa parte da responsabilidade por este problema é da pandemia de covid-19, que causou uma redução na produção de contêineres em 2020 e no início de 2021. Quando o mercado reaqueceu, os contêineres disponíveis não supriram a demanda da economia mundial.

Com muita demanda e pouca oferta, os preços dispararam. Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) atestou que, entre janeiro de 2021 e setembro de 2021, o preço do frete em dólar de um contêiner destinado aos Estados Unidos subiu em 433%. Já para a costa oeste da América do Sul, a alta foi de 510%. Já os contêineres provenientes da Ásia encareceram 446% no mesmo período. 

Exportações de açaí 

As exportações de açaí também foram impactadas pela crise. Marcelo Silva é gerente de exportação da Goola, empresa referência do setor no Pará, e define a situação como "crítica e muito difícil".

A empresa exporta principalmente para os mercados estadunidense, europeu e australiano e lembra que os dois problemas estão correlacionados: a escassez do equipamento e os altos preços do frete. 

"O custo do frete chegou a subir 120% para alguns destinos ou até mais que isso. Por exemplo, o frete até a Austrália custava em média U$ 5.600 e hoje está na casa dos U$ 15 mil. Atualmente essa questão tem melhorado bastante desde o último trimestre de 2021 e primeiro trimestre de 2022. O que existe é a possibilidade, que já tem algumas empresas no Canadá que usam este método, do formato de embarque chamado LCL, com carga fracionada, que você consegue consolidar múltiplas cargas com a mesma conservação de temperatura, ou seja produtos congelados em geral. Já o segundo método é o uso do modal terrestre, mas que só pode ser utilizado para exportações dentro da América do Sul", conta.

Alternativas bem sucedidas

Davison Marcos é diretor executivo da Dcomex Consultoria, especializada em serviços aduaneiros, e lembra que vários avisos de congestionamentos de portos surgiram em todos os continentes desde o ínicio da pandemia e que com o Pará não foi diferente. 

"Tivemos vários navios fundeados em quarentena para atracar em nossos portos, por conseguinte atrasando a logística de reposicionamentos de container vazio ao setor de exportação e atrasos nas entregas para os Importadores", afirma.

Ele ressalta que o maior prejuízo costuma ser a quebra de contrato entre exportadores e importadores, já que o não cumprimento de prazos é sinônimo de falta de produto para o mercado consumidor. Marcos observa que vários fóruns estão sendo provocados pelo setor produtivo com apoio das federações e associações comerciais em busca de alternativas de escoamento, dentre elas a troca do modal logístico de navios Full Container para os Navios Multi Purpose que dispensam a necessidade de utilizar os contêineres.

"O setor florestal já conseguiu com êxito seu primeiro embarque no porto de Belém e no setor mineral esta mudança já está ocorrendo paulatinamente nos navios graneileiros  que operam no porto de Vila do Conde. Outro movimento é a opção de embarcar em portos do Nordeste e Sudeste, cujo abastecimento de contêiner se encontra com maior disponibilidade", afirma. 

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