CONTINUE EM OLIBERAL.COM
X

Desastres climáticos no Pará somam prejuízos de R$ 900 mi em 2023

Recursos para prevenção de desastres é inferior ao valor dos prejuízos

Maycon Marte
fonte

Entre enchentes, queimadas e secas severas, os prejuízos em infraestrutura e serviços devido a desastres naturais nos municípios do Pará totalizam um prejuízo de cerca de R$ 900 milhões só no ano de 2023. Desse total, os números estão divididos em três modalidades: danos materiais, prejuízos públicos e privados. Os dados são do Atlas Digital de Desastres no Brasil, plataforma que utiliza informações do Ministério de Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR).

Assim como demonstra o Atlas Digital, no Pará, o município de Itaituba, sudoeste paraense, teve no acumulado de 2023, 14.216 pessoas desabrigadas e desalojadas. A mesma cidade também apresentou um número de quase 62 mil pessoas afetadas pelos mesmos eventos. Na soma de afetados, desabrigados e desalojados para o mesmo período analisado, outros destaques são os municípios de Cametá (58.250), Baião (47.686) e Marabá (22.852).

Em um levantamento dos últimos dez anos (2013 a 2023), realizado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), o estado do Pará reportou 1.252 desastres. O estudo também destaca que a maioria dos decretos emitidos pelos municípios, em todo o Brasil, são principalmente devido a situações de seca (41%) e chuvas intensas (27%). Segundo a CNM, as cidades de Oriximiná e Parauapebas, estão entre as que apresentaram desastres recorrentes, com 135 e 109 decretos de anormalidade respectivamente.

Em toda a série histórica, o Pará apresentou 48 mil pessoas desabrigadas por desastres, tendo nos anos de 2018 e 2020, os piores índices, com 10.254 e 11.050 respectivamente. Os dados consideram desabrigados todas as pessoas que precisaram de acolhimento local, estadual ou federal.

Quanto ao número de óbitos, a região de Parauapebas também segue com o maior percentual em relação às demais. De acordo com o Atlas Digital, o município do sudeste paraense apresentou no último ano, 9 mortes decorrentes de desastres climáticos. Seguido de Belém com um único registro.

Tipos de desastres

Em todo o estado, os estragos decorrentes de desastres em 2023 se concentram em chuvas intensas e inundações. O Atlas de Desastres no Brasil destaca entre desabrigados e desalojados, quase 97 mil pessoas, o equivalente a 86,09% no acumulado do último ano. As inundações levaram mais de 13 mil paraenses a precisarem de abrigo, seguida da erosão, que prejudicou a rotina de 685 pessoas (0,13%), no estado.

De acordo com os protocolos emitidos pelos municípios, foram registrados 71 casos relacionados a chuvas intensas, representando 38% do total. Estiagem e seca contabilizam 23,5%, com 43 registros. Seguidos por desastres decorrentes de erosões (6%) e incêndios (5,46%).

VEJA MAIS

image Brasil tem que "criar cidades resilientes", diz Marina Silva após inundações no RS
Para ministra do Meio Ambiente, o mundo não está preparado para desastres naturais

image Tragédia no RS entra para a lista de maiores desastres naturais do Brasil; veja a lista
Outros cinco eventos catastróficos causados por fortes chuvas foram registrados no Brasil

Economia afetada

Como informa o estudo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), de 2013 a 2023, “os prejuízos causados por desastres foram de R$ 401,3 bilhões”. São R$ 2.088 milhões de reais em prejuízos somente no estado do Pará, com destaque para o ano de 2021, com um registro de R$ 590 milhões, segundo a entidade. Números que refletem diretamente nas atividades econômicas desempenhadas no estado.

“Perdemos muitos produtores, a grande maioria em gado de leite”. O relato é de Guilherme Minssen, zootecnista e diretor na Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa). O especialista observa que a aceleração e a intensificação de eventos anteriormente naturais, estão potencializando desastres climáticos e prejudicando produções de diferentes culturas e a criação de gado no estado. “Vai crescendo a população, tu vai tendo mais urbanização, mais área que vão sendo incluídas para moradia e trabalho”, enfatiza.

Minssen ainda menciona, como impactos dos desastres, o desabastecimento de alguns produtos nas Centrais de Abastecimento. “Um desastre dessas proporções, claro que vai afetar todo o mercado, nós já temos dados agora principalmente da Ceasa de São Paulo com desabastecimento, a Ceasa de Belém também tem alguns produtos que vem do sul, que já está faltando, a cebola, o alho, o tomate e alguns produtos que vêm de lá, como também outros produtos menores de laticínios e produtos embutidos”, exemplifica.

image Eventos climáticos extremos se tornarão mais frequentes no Brasil, alertam especialistas
País registrou 1.161 desastres naturais no ano passado, mais de três por dia, em média

image Prainha e São Geraldo do Araguaia recebem visitas técnicas para prevenir desastres naturais
Trabalho, a cargo do Serviço Geológico do Brasil (SGB), está programado para começar nesta segunda (19) em dez municípios de AL, MG, PA, PE e SC

Em um grande efeito dominó, a escalada de impactos decorrentes desses desastres atinge, em seguida, os setores da indústria, que recebem por sua vez o saldo negativo das produções mais baixas nesse cenário. O presidente da Comissão de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), Deryck Martins, considera essa realidade e aponta esforços da entidade para prevenir e avançar no que diz respeito à agenda climática. “A necessidade de uma combinação de esforços. A federação das indústrias está atenta à agenda climática e participa de diversos fóruns. Temos indústrias que tem feito inventário de emissões, para tentar diminuir sua pegada de carbono, como forma de contribuir com todo esse esforço”, explica.

A conta não fecha

O levantamento dos dez últimos anos da CNM chama atenção aos repasses de verbas do Governo Federal para prevenção a desastres. De acordo com a entidade, dos R$ 8,2 bilhões autorizados aos municípios, apenas R$ 6,6 bilhões foram empenhados. Desse montante, “o governo federal efetivamente pagou R$ 4,9 bilhões aos municípios para ações de proteção e defesa civil, o que representa 73,9% do valor dos R$ 6,6 bilhões empenhados”, esclarece a Confederação.

No caso do Pará, o valor empenhado para gestão de riscos e prevenção a desastres foi de R$ 481.652.974, entretanto, o valor efetivamente pago corresponde a R$ 388.941.638, o equivalente a 80,7%. O mesmo estudo, identificou ainda uma redução no valor de recursos destinados ao tema pelo Governo, no período de 2013 a 2023. A CNM alerta que ao longo dos 10 anos, “os valores pagos pela União não passaram dos 40% do que sempre foi autorizado para ações de defesa civil”.

Nesse cenário, a Confederação pontua que os valores pagos para estas ações são consideravelmente inferiores aos valores em prejuízos causados pelos desastres climáticos. Comparando os R$ 4,9 bilhões pagos pela União e os R$ 401,3 bilhões em prejuízos causados por desastres, como esclarece a entidade, “os recursos que foram pagos pela União representam apenas 1,2% dos prejuízos contabilizados ao longo de dez anos”.

Os números podem ser maiores

Um ponto relevante destacado pela especialista Lianna Anderson, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), diz respeito à contagem de dados. Segundo ela, os números catalogados pelas plataformas é seguramente maior, isso se deve às particularidades de muitos municípios, que eventualmente possuem estruturas precárias - em especial durante desastres climáticos. “Pela forma como essa base de dados é construída, esses números são subestimados”, afirma.

“Para que um município faça tal decretação (dos desastres) você precisa ter ao menos uma defesa civil ali com pessoas qualificadas que tenham a capacidade de preencher os formulários e fazer essa decretação”, explica a especialista.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Economia
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM ECONOMIA

MAIS LIDAS EM ECONOMIA