CONTINUE EM OLIBERAL.COM
X

Crise do açaí persiste com chegada do verão amazônico e acende alerta sobre abastecimento no Pará

Especialistas apontam que, mesmo com boa expectativa de colheita, exportação e falta de política pública seguem pressionando o consumo local no Pará

Gabriel da Mota
fonte

O verão amazônico marca o início de uma nova safra de açaí no Pará, mas os desafios estruturais no abastecimento interno do fruto ainda preocupam produtores, pesquisadores e economistas. Mesmo com o aumento da oferta previsto para os próximos meses, o mercado segue pressionado por altos preços, ausência de estoques reguladores e desequilíbrio entre consumo local e exportação.

“A competição acontece do meio para o final da safra, porque todos começam a precisar do fruto, o que acaba desbalanceando um pouquinho essa disputa”, diz Nathiel Moraes, diretor de pesquisas do Instituto Açaí é Nosso. Ele reforça que o problema não é apenas climático. “Durante o pico da safra, não. Tem muita demanda e muita oferta”, pontua.

image Nathiel Moraes, diretor de pesquisas do Instituto Açaí é Nosso (Ozéas Santos / Alepa)

A avaliação é compartilhada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese/PA). “A crise do açaí tem uma relação direta com a exportação, os atravessadores e a falta de política pública”, aponta Everson Costa, supervisor técnico do órgão. Para ele, a ausência de ferramentas como o congelamento artesanal impede uma resposta equilibrada à entressafra. “O estoque regula preço em períodos de menor oferta. Quando você tem um estoque, você devolve isso para o mercado e pode trabalhar com preços mais equilibrados”, defende.

Costa informa que os preços devem cair no segundo semestre, mas não com a mesma força com que sobem.

“A gente consegue perceber quedas de 10% a 15% em alguns casos. Já passou da hora do estado do Pará ter um organismo, um órgão público, algo que possa ter uma fala e uma linha direta de ação para esse produto”, frisa.

image Everson Costa, supervisor técnico do Dieese/PA (Divulgação)

Entre as soluções propostas, Moraes cita o avanço de pesquisas tecnológicas. “Temos uma pesquisa que desenvolveu um biogel que protege o fruto do açaí por uma safra inteira”, relata. Ele também defende o que chama de “defeso do açaí”, para garantir a demanda interna. “Isso impediria que houvesse aumentos abusivos”, menciona.

A expectativa positiva para a nova safra, no entanto, é real.

“Esperamos que os impactos que aconteceram nas últimas duas entressafras não prejudiquem essa safra”, comenta Moraes.

Apesar do otimismo, ele alerta para a instabilidade do clima. “Estamos em junho, ainda está tendo muitas chuvas. Isso é bom para um lado, mas também é ruim para o outro”, pondera.

As mudanças no regime de chuvas e sol impactam diretamente o ciclo da palmeira. “Aquelas [regiões] que conseguirem ter o melhor manejo e o menor estresse hídrico, são as que vão ter melhor produtividade”, explica. Entre as áreas com boas perspectivas, ele cita o Baixo Tocantins, o Marajó e o Acará.

No campo, verão amazônico reaquece a produção rural e favorece a logística

Enquanto isso, a chegada do verão amazônico também movimenta o restante do setor agropecuário. “Esse período afeta bastante a rotina do planejamento, tanto na agricultura como na pecuária”, explica Guilherme Minssen, diretor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa). “Na agricultura, nós começamos a preparar as safras que vão se colher já no final do ano. Na pecuária, estamos colhendo os últimos bezerros nascidos depois do inverno no Marajó. E é agora que começa a parte da inseminação na grande maioria dos locais”, detalha.

image Guilherme Minssen, diretor técnico da Faepa (Wagner Santana / Arquivo O Liberal)

Segundo Minssen, a previsão de produção é otimista. “A estimativa é muito boa. O campo paraense está bastante motivado para trabalhar”, afirma. Ele informa que os dados detalhados da safra ainda estão sendo colhidos pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap). Na pecuária, destaca-se também a retomada dos leilões de cavalo no estado neste mês de junho.

No caso do açaí, a Faepa aposta em inovações para impulsionar a produtividade. “Principalmente o açaibot, que é um robô para apanhar açaí e começou a ser apresentado no Festival do Açaí, no Hangar. Essa é a grande novidade: a próxima safra já vai ser apanhada por robô”, garante.

image 'Açaibot' é um robô apanhador de açaí que deve ser a grande novidade da safra em 2025 (Divulgação / Açaí Kaa)

O equipamento foi desenvolvido por uma empresa paraense de inovação e é o primeiro robô desenvolvido para a colheita mecanizada do açaí em larga escala. Operado por controle remoto, o açaibot é capaz de colher mais de 100 cachos em uma manhã, multiplicando a produtividade em até 10 vezes, além de reduzir o risco de acidentes causados pela peconha, método tradicional de extração do fruto.

Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞
Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Economia
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM ECONOMIA

MAIS LIDAS EM ECONOMIA