Nobre Chef traz ancestralidade ribeirinha, elementos surpresa e exotismo à mesa de Belém
Com ingredientes amazônicos e carnes exóticas, Nobre Chef leva a culinária paraense a eventos de destaque e prepara a abertura de novo restaurante na capital

Da mesa ribeirinha ao prato sofisticado, Ricardo Nobre transforma ingredientes amazônicos em experiências gastronômicas únicas. Conhecido como Nobre Chef, é o nome por trás do Nobre Gourmet — empresa que atua com eventos e buffets personalizados, unindo gastronomia regional a toques exóticos, ancestralidade ribeirinha e elementos surpresa. Com 14 anos de trajetória na cozinha, ele se tornou um dos grandes nomes da gastronomia regional, especialmente no segmento das chamadas “carnes exóticas”, como jacaré, rã, avestruz, javali e cordeiro.
O chef tem se destacado em feiras, festivais, palestras e diversos eventos, sempre colocando em foco a riqueza da gastronomia amazônica. Em maio, participou de um bate-papo nas Estações das Docas, em Belém, onde discutiu a gastronomia exótica e ancestral da região. O aumento da demanda pelo seu trabalho impulsionou a abertura de um restaurante regional, prevista para agosto deste ano. Autor de uma das paellas mais famosas do Pará, ele é especialista no uso de mariscos e proteínas típicas da região, unindo criatividade e respeito pelas tradições locais. Além disso, é idealizador do Festival Amazon Exotic, que já realizou duas edições de sucesso e deve voltar a acontecer ainda neste ano.
Chef faz releituras com insumos amazônicos
Entre os pratos autorais de sucesso, destacam-se a Paella Amazônica, prato original da Espanha com proteínas locais: camarão cinza, caranguejo, pirarucu, aviú, camarão-pitu e mexilhão. Outro destaque é o Ribeirinho Paraense, uma releitura do arroz paraense com camarão cinza, pirarucu fresco e jacaré defumado. Ainda, há o filé de pirarucu com crosta doce de cupuaçu: “uma mistura de doce e salgado que surpreende”, define o chef.
Nobre também aposta em releituras criativas: faz hambúrgueres, pizzas e churrascos com toques regionais. “Hambúrguer sempre tem que ter maionese de chicória, chimichurri de vinagreira ou refogado de jambu”, diz.
Gastronomia amazônica em ascensão
Com 22 anos de experiência na área comercial, Ricardo começou cozinhando para diretores de empresas e executivos de multinacionais como forma de recepção na própria casa. De raízes portuguesas, foi criado na casa do avô, nas décadas de 1970 e 1980, cercado por colaboradores descendentes de indígenas, que preparavam comidas de caça. Ele também cita o pai como uma das principais referências culinárias.
Hoje, ele reflete sobre a ascensão da gastronomia paraense e o orgulho de fazer parte desse movimento. Segundo o chef, até poucos anos atrás, não era comum ver restaurantes investindo com força na culinária típica da região. Havia os pratos tradicionais, mas faltavam estabelecimentos que valorizassem essa identidade de forma estruturada. Agora, com grandes casas dedicadas à cozinha local, ele vê a gastronomia paraense conquistando o espaço que merece. “Nossa culinária foi considerada recentemente a sétima melhor do mundo. Temos variedade de peixes, insumos, aromas, sabores, frutas… não tem como comparar”, defende.
Uma das experiências mais marcantes em sua trajetória foi receber a diretoria de um importante clube de futebol paulista. No cardápio, o destaque ficou para o tacacá de jacaré, servido com a carne em cubos como ingrediente principal. O prato foi o mais comentado da noite. “Nossa gastronomia já chama atenção por si só, mas quando colocamos um elemento surpresa que as pessoas não conhecem, mexe com a imaginação. Eles amaram”, lembra.
Carne de caça e os desafios da legalidade e regularização
No Brasil, a caça de animais silvestres é proibida, salvo em situações específicas previstas e autorizadas pela legislação. Por isso, o consumo de carne de caça deve ser feito apenas a partir de fontes legalizadas, que possuam documentação adequada e cumpram rigorosos padrões de inspeção sanitária, garantindo assim a segurança alimentar e o respeito ao meio ambiente. No Nobre Gourmet, o chef reforça que todas as carnes exóticas — como jacaré, rã e coelho — são provenientes exclusivamente de criatórios e abatedouros autorizados.
Por outro lado, ele também observa os entraves e desvalorização do produto legalizado. Enquanto no interior a carne de jacaré ilegal pode custar R$ 30, chega a pagar até R$ 140 o quilo em fornecedores regularizados. Para ele, o Pará tem grande potencial para criar e abater animais de forma legal, mas ainda enfrenta muita burocracia. Muitas vezes o produtor consegue registrar o criatório, mas não o abatedouro — o que inviabiliza o processo.
Da Amazônia para o mundo: COP 30 e referências ribeirinhas
Os pratos do Nobre Chef têm ganhado destaque nos camarotes mais badalados dos eventos pré-COP 30. Ele destaca que o networking nesses espaços é intenso e que a troca de conhecimento tem sido uma oportunidade rica para apresentar a culinária do Pará para o mundo. “É gratificante ver as pessoas aprendendo mais sobre nossa gastronomia e cultura, que ficaram esquecidas por tanto tempo”, comenta.
Para Nobre, levar a ancestralidade da cozinha ribeirinha a eventos internacionais é uma forma de valorizar saberes que muitas vezes estão distantes até mesmo de quem vive na capital. Enquanto o público urbano está acostumado com ingredientes como tucupi, jambu e camarão, nas regiões do interior são comuns o pirarucu fresco, o camarão cinza e a carne de jacaré — sabores que muitos paraenses da cidade ainda não conhecem. Por fim, Nobre reforça que a gastronomia paraense é vasta e rica, capaz de surpreender não só visitantes do mundo todo, mas também quem vive na região.
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