COP 30 pode marcar virada histórica da bioeconomia paraense

Pequenos negócios já mostram como esse caminho é possível

Madson Sousa / Especial para O Liberal

No Pará, a bioeconomia ganha cada vez mais espaço como alternativa para transformar a riqueza da floresta em renda e inovação. O conceito, baseado no uso sustentável da biodiversidade para gerar produtos de maior valor, pode ter na 30° Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), a ser realizada em novembro de 2025 em Belém, uma vitrine e consolidação. Pequenos negócios já mostram como esse caminho é possível.

Muito antes de existir uma política de bioeconomia, o Pará já via iniciativas surgirem de forma quase silenciosa entre comunidades extrativistas, cooperativas e pequenos empreendedores. Eram homens e mulheres que trabalhavam com o que a floresta oferecia: castanha, cupuaçu, borracha e óleos naturais, mas quase sempre vendiam seus produtos em estado bruto, com margens mínimas de lucro e pouca voz para negociar preços justos. O economista e consultor de empresas Nélio Bordalo Filho lembra da ACOSPER (Cooperativa dos Trabalhadores Agroextrativistas do Oeste do Pará), criada em 1995 por seringueiros, pescadores e pequenos agricultores de áreas como Lago Grande e da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns. 

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“Políticas públicas melhoraram o ambiente, pois ampliaram a capacitação, criaram instrumentos de articulação e abriram canais de financiamento específicos. Isso reduz assimetrias de informação e aumenta a capacidade de pequenas empresas de atender padrões de mercado. Porém, a competitividade frente a grandes players ainda é condicionada a três fatores críticos: escala de produção, qualidade/regularidade de fornecimento e acesso a mercados com certificações.”

Politica Estadual visa impulsionar a bioeconomia

Com o objetivo de colocar a sociobioeconomia no centro do desenvolvimento regional, o Governo do Pará criou o Plano Estadual de Bioeconomia (PlanBio) e o seu Comitê Executivo. A iniciativa busca orientar a transição para uma economia de baixas emissões, resiliente às mudanças climáticas e geradora de impactos positivos em áreas sociais, ambientais e econômicas. A meta estabelecida é ousada: elevar a participação da bioeconomia para 4,5% do PIB estadual até 2030.

O economista e consultor de empresas, Nélio Bordalo Filho, acredita que cosméticos e a gastronomia são os segmentos com maior probabilidade de projeção internacional de curto a médio prazo, enquanto fármacos e parte do artesanato tendem a crescer mais no médio a longo prazo. “Grandes empresas conseguem logística, certificação e marketing em escala, que são vantagens que pequenos empreendedores só superam com arranjos coletivos através de cooperativas ou associações.”

Para tentar impulsionar quem pretende crescer na bioeconomia, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Pará (Sebrae-PA) criou o programa Inova Amazônia que oferece capacitação, mentorias, conexão com mercados e investidores, além de apoio financeiro aos empreendedores selecionados de até R$39 mil.

“A bioeconomia é uma das grandes apostas do Sebrae Pará para o desenvolvimento sustentável da Amazônia e o potencial desse segmento ganha ainda mais relevância com a realização da COP 30 em Belém. A realização da conferência coloca o Brasil e especialmente a Amazônia no centro das discussões globais sobre transição ecológica, justiça climática e novos modelos econômicos. O Sebrae enxerga a bioeconomia como um setor em plena expansão capaz de gerar emprego, renda e inclusão social a partir do uso sustentável da biodiversidade”, conta Renata Batista, gerente da Unidade de Sustentabilidade e Inovação do Sebrae-PA.

Em Santarém, no oeste do Pará, uma fábrica de biojoias surge com foco na utilização de insumos da floresta amazônica, adquirindo sementes para a produção de biojoias, uma prática que não apenas preserva a biodiversidade, mas também promove a sustentabilidade ambiental. A empreendedora Natashia Santana conta que teve apoio do Sebrae para consolidar seu negócio.

image A startup surgiu em 2023 destacando os traços tapajônicos (Arquivo Pessoal / Natashia Santana)

“Um dos principais parceiros é o Sebrae, que tem nos ajudado realizando cursos e mentorias. Eu não tenho dúvida que é possível empreender com sustentabilidade, diante de um negócio que fala da floresta em pé, dos povos que vivem aqui e ainda tendo renda, sendo um negócio lucrativo. A dois meses conseguimos ser contemplados com uma bolsa empreendedor do Sebrae, isso tem aumentado a compra de sementes e dá um gás na produção.”

A startup surgiu em 2023 destacando os traços tapajônicos e já possui um site de e-commerce, além da venda dos produtos na Amazon e Mercado Livre. O negócio foi selecionado também para ser incubado pela incubadora Intap da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) que tem o objetivo de explorar práticas de produção. 

Apoio institucional para novos negócios 

“O Negócios de Impacto Socioambiental (NISA) é uma iniciativa do Sebrae Pará que visa identificar, apoiar e acelerar negócios que gerem impacto positivo no meio ambiente e na sociedade sem abrir mão da sustentabilidade financeira. Inclusive, no Pará atua de forma estratégica para fortalecer o ecossistema da bioeconomia amazônica, valorizando empreendimentos que utilizam recursos de forma ética, sustentável e inovadora. Entre os negócios que apoiamos estão empreendimentos de biocosméticos, fitoterápicos, biojoias e negócios gastronômicos”, explica Renata.

image Muitos negócios nascem do esforço individual ou coletivo (Ivan Duarte / O Liberal)

Mas empreender no Brasil, e especialmente na Amazônia, ainda é um grande desafio. Muitos negócios nascem do esforço individual ou coletivo, mas enfrentam obstáculos como falta de acesso a crédito, burocracia, carência de assistência técnica e dificuldade para alcançar mercados mais amplos. Irsangela Figueiredo, que também trabalha com biojóias, em Belém, conta que teve apoio do marido e da mãe para iniciar o negócio, mas tem dificuldade na linha de financiamento e em um ponto fixo para exposição dos produtos. No entanto, mostra otimismo com a realização da COP 30 e acredita que esse seja o momento para valorizar os produtos da Amazônia.

“O microempreendedor ainda tem dificuldades, nosso trabalho não parece ser muito visível, temos pouco apoio, mas queria muito que fossemos vitrine na COP 30. Hoje, em média, tenho um rendimento mensal que fica acima de R$4 mil reais.”

Visibilidade na COP 30

A fábrica de biojoias de Santarém vai estar presente durante a COP 30, em Belém, expondo seus produtos por meio de parcerias. “Vamos está na COP em parceria com o Mercado Livre, também no espaço do Sebrae que será uma vitrine de vendas e no museu do artesanato. Fomos selecionados e a expectativa é que esse seja um momento para dar visibilidade aos empreendedores daqui”, conta Natashia Santana. 

O Sebrae-PA vai criar também a E-Zone, que será um espaço com diversas iniciativas para demonstrar o potencial do empreendedorismo brasileiro para o mundo. O local, que ficará sediado na Praça Dorothy Stang, no bairro da Sacramenta, ficará a poucos metros da Green Zone e Blue Zone, onde acontecerão os grandes debates sobre o clima. A ideia é que o espaço tenha loja institucional, loja colaborativa, área com iniciativas de bioeconomia e espaço para apresentações culturais. 

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