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'COP 30 elevou em 800% o emprego na construção, mas ainda falta mão de obra', diz Sinduscon

Fabrízio Gonçalves, presidente do Sinduscon-PA, discute as principais estratégias para garantir mão de obra qualificada diante de demanda crescente

Eva Pires | Especial para O Liberal

“Mesmo com aumento de 800% no saldo de empregos desde o anúncio da COP 30, a construção civil paraense enfrenta o desafio de encontrar mão de obra suficiente para atender à demanda gerada pelo evento”, afirma Fabrízio Gonçalves, presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Pará (Sinduscon-PA). Em entrevista exclusiva para O Liberal, ele destaca o aquecimento da construção civil diante da conferência que será sediada em Belém, impulsionado também pelo movimento no setor imobiliário, obras, mineradoras e programas habitacionais.

Gonçalves também aponta que os projetos ambientais têm ganhado espaço nos canteiros, como o programa Mais Cidadania, que promove educação ambiental entre os trabalhadores e inclui ações de plantio de árvores em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente de Belém (Semma). Para ele, iniciativas como essas mostram que a COP 30 deixa um legado que vai além das obras de infraestrutura, abrindo a oportunidade de discutir a Amazônia sob a ótica da sustentabilidade, da qualificação profissional e da construção de uma base sólida para o crescimento econômico do Pará.

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Conferência das Partes) tem sido apontada como um dos motores da economia paraense em 2025. De que forma o evento já impacta o setor da construção civil no Pará?

Fabrízio Gonçalves: Na verdade, a COP 30 está muito focada é Belém, não no estado todo. Mas os nossos números no estado inteiro são bons. Eles já vinham crescendo, em função também de grandes investimentos em mineradoras e do próprio governo do estado subsidiando algumas obras por intermédio dos fundos de contrapartida. Então, são várias obras pelo estado todo na gestão do governador Helder Barbalho.

Em Belém, os números estão realmente muito fortes e crescentes, uma demanda muito grande. Todo mundo nota, quando anda na cidade, o número de obras que estão sendo realizadas. Nunca havia sido visto em Belém um evento dessa magnitude e porte. Para nós, é uma satisfação e um desafio muito grande.

Há levantamentos ou estimativas sobre o crescimento do setor desse ano comparado com o do ano passado?

Temos um crescimentos de acumulados desde 2023. Fizemos um estudo, considerando o período de quando foi anunciada a COP 30 até junho de 2025. Os resultados mostraram que o saldo de emprego no setor ultrapassou 800%. Hoje, nosso maior desafio é mão de obra. Isso fica nítido no cotidiano pela demanda de empresas que ligam para a gente. Passamos também pelos canteiros de obra e só o que ouvimos é: "precisa contratar".

Em contrapartida, nós do Sinduscon, juntamente com a Federação, por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Serviço Social da Indústria (Sesi), estamos aumentando cada vez mais a oferta de turmas para treinamento e qualificação, que são imediatamente preenchidas assim que anunciadas, lançando novos trabalhadores no mercado. São várias turmas, como as de categorias: instalador elétrico, instalador hidráulico, carpinteiro e mestre de obra.

É um projeto a nível nacional e estamos muito esperançosos, pois até agora, não estamos conseguindo vencer essa demanda. É um problema bom, mas estamos tentando vencer e, realmente, o os números são impressionantes. Nossa expectativa é de que talvez essa pressão diminua depois da entrega das obras para a COP 30. Mas estamos fazendo a nossa parte, treinando, qualificando, visitando os canteiros e isso mostra a força do nosso setor.

Em 23 de agosto, fizemos o nosso DNCS, sigla para o Dia Nacional da Construção Social, reunindo trabalhadores da construção civil e suas famílias na Sede Campestre do Sesi, em Ananindeua, na Grande Belém. O evento ofereceu serviços gratuitos de saúde, lazer e cidadania para os trabalhadores da construção e suas famílias, como parte de um grande esforço de responsabilidade social. Foram mais de 1.500 colaboradores participando, ultrapassando 4.000 atendimentos.

São ações como essas que mostram a força do do nosso setor e a interação dos nossos colaboradores com as empresas. Nosso objetivo é vencer esse grande desafio e eu tenho a certeza que, se fosse valer uma nota, nós passaríamos com uma boa média. Estamos nos desdobrando para qualificar, treinar e vencer esse obstáculo. 

Em março de 2025, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) assinou um Protocolo de Intenções com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), em Fortaleza. A parceria busca qualificar profissionais e gerar empregos para pessoas inscritas no Cadastro Único. Como a iniciativa pode impulsionar a mão de obra no setor da construção civil paraense?

Estamos muito esperançoso com isso. O que é esse convênio? A sindicância de cada capital vai poder demandar as necessidades e licitações para aquele Ministério, que vai demandar o seu estoque de pessoas qualificadas em programas como o Bolsa Família. Nós vamos treinar essas pessoas que queiram vir trabalhar no Sesi e Senai, e o Ministério permanece oferecendo o benefício durante seis meses. Após esse período, a pessoa é desligada do Ministério e permanece no emprego. O convênio está na fase de finalização dos ajustes, a nível nacional.

Recebemos a iniciativa com muito entusiasmo, porque o problema de mão de obra não se limita à Belém por causa da COP, é em escala nacional. Hoje, a mentalidade do jovem moderno influencia nesse cenário. Eles não querem mais ir para o canteiro de obra. Muitas vezes, eles preferem trabalhar com aplicativo, gestão de marketing digital, ser influenciador nas redes sociais, essas coisas todas. Então, temos uma concorrência com esse nível de profissão que não tínhamos antes. Conversamos, às vezes, por exemplo, com nossos mestres de obra, pessoas que vieram na profissão desde novo e eles relatam não conseguir inserir os filhos deles neste mesmo mercado da construção.

Sobre as grandes obras de infraestrutura que prepararam Belém para a COP 30, quais delas estão diretamente ligadas aos a grandes às empresas paraenses do setor de construção civil?

Não só empresas paraenses, mas o mais importante para nós, são empresas associadas ao nosso Sinduscon. A exemplo disso, temos a empresa que está fazendo o Parque Linear da Doca e alguma algumas empresas que estão fazendo o Parque da Cidade (parque urbano onde serão sediados os eventos oficias da Conferência). São várias empresas e a maioria delas são associadas. Estamos participando desse volume muito grande de obras.

Para além da COP 30, quais são os outros fatores que tenham impulsionado esse aquecimento do mercado? Programas habitacionais e programas em parceria com o governo estadual e municipal influenciam neste cenário?

Como eu falei inicialmente, vemos obras pelo Pará inteiro na gestão do atual governador, principalmente dos fundos de mineradoras e de recursos do estado. A própria Prefeitura, nessa nova gestão, está alinhada realizando grandes obras e se adequando para a COP 30. Outros pontos de destaque são o mercado imobiliário e o de programas habitacionais como o Minha Casa, Minha Vida, que têm apresentado números muito bons.

Realizamos um censo trimestral, e, de acordo com os resultados do levantamento do primeiro trimestre de 2025, os números foram excelentes em qualificações. Estamos praticamente com o estoque zerando. A perspectiva é zerar nos próximos três ou quatro meses. Isso mostra o aquecimento do setor.

E, indiretamente, com a COP 30, você vê as obras dos hotéis e muitas residências sendo reformada para receber os hóspedes, muitas se transformando em hospedagem por aplicativo e se adequando. Logo, há um volume de obras muito grande na cidade.

Qual é a relevância atual do programa Minha Casa, Minha Vida no Pará?

É muito grande a relevância, não só no Pará, como no Brasil. Em números de contratações , o programa é recorde. Como exemplo disso, no censo imobiliário nacional divulgado em julho deste ano, foi revelado que o Minha Casa, Minha Vida correspondeu a 70% das negociações imobiliárias no estado de São Paulo. O volume é impressionante pelo Brasil inteiro, são muitas obras e no Pará não é diferente.

Estamos também trabalhando para que Belém se adeque às leis de urbanismo, uma vez que a capital paraense enfrenta algumas restrições ainda no âmbito do Minha Casa, Minha Vida. No entanto, essa discussão já existe e estamos colaborando tecnicamente junto à Prefeitura para alavancar ainda mais no município e em todo o estado.

A construção civil também tem sido pressionada para adotar práticas mais sustentáveis. Como o setor paraense tem se adaptado a essa realidade e quais práticas têm sido incorporadas?

A COP 30 vai mostrar também os problemas que temos na Amazônia e em Belém, o que é importante para resolver e discutir sustentabilidade de forma local, olhando para a Amazônia como ela é: com suas verdades, problemas e, principalmente, as suas grandes qualidades.

No entanto, é importante destacar que o Sinduscon sempre teve na sua veia a questão da sustentabilidade, não surgiu agora por causa da COP 30. Nós temos um projeto que fala sobre meio ambiente chamado Mais Cidadania, no qual já visitamos e palestramos para mais de 60 mil colaboradores nos canteiros e plantas de obras. A gente não fala só de meio-ambiente, fala também de violência doméstica, abuso de substâncias, mas o tópico meio-ambiente é muito forte.

Somado a isso, escrevemos um projeto em proposta à Secretaria de Meio Ambiente, no qual defendemos o plantio de árvores em um raio de 200 metros dos nossos canteiros associados. O projeto será realizado em parceria com a Semma, que oferece as mudas e nos orienta sobre os locais mais adequados para o plantio. A partir disso, entramos com a mão de obra e manutenção daquela vegetação que será plantada no raio dos nossos canteiros.

Então, o Sinduscon sempre teve essa visão de sustentabilidade. Nos atentamos também à questão de resíduos, a gente tem as nossas nossas as nossas "cumbucas", os containers para colocar o lixo. Sempre tivemos isso. Em breve, postaremos nas redes sociais um balanço de ações sustentáveis que adotamos no sindicato nos últimos dez anos.

Na sua avaliação, há uma possibilidade de retração no cenário pós-COP 30 ou acredita que o setor no Pará já se consolidou?

Não vejo essa possibilidade. O Pará já está consolidado. Para você ter uma ideia, eu sou vice-presidente também da Cooperativa de Compras Coletivas de Materiais para a Construção Civil do Pará (Coopercon Pará). Hoje nós somos a quarta maior do Brasil. Isso mostra a força da região Norte.

O Sinduscon está muito atento a esse cenário. Abrimos o regional em Salinópolis, abrimos regional em Santarém, estamos abrindo em Marabá. Abrimos também a Comissão de Obras Industriais, Polo Embarcadero, estamos estruturando para fazer um evento em Parauapebas. Tudo isso visa o crescimento do setor da Construção Civil como um todo, que é o nosso grande desafio.

Levando em consideração o médio e longo prazo após a COP 30, qual é a perspectiva de continuidade de crescimento do setor?

A perspectiva é grande. Como disse anteriormente, independente da COP 30, o mercado imobiliário também está crescendo. Acredito que outros desafios serão deixados para a nossa cidade, em termos de sustentabilidade e de melhora. Será uma ação contínua e nós estamos estamos esperançosos. O setor da construção civil está preparado para crescer ainda mais.

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