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Cartão de crédito é modalidade que mais gera dívidas para paraenses; entenda os riscos

Com juros altos, é preciso ter sabedoria para usar o crédito. Se o consumidor for organizado, no entanto, a modalidade pode ser uma aliada.

Elisa Vaz
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O cartão de crédito é a modalidade de pagamento que mais gera dívidas entre os paraenses, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Federação do Comércio do Pará (Fecomércio-PA). O levantamento aponta que, no mês passado, entre os tipos de dívidas das famílias, 82,8% eram com o cartão de crédito - percentual maior que o registrado no mesmo período do ano passado, quando a taxa alcançava 79,3%.

Este dado diz respeito apenas às pessoas endividadas, ou seja, que possuem contas a pagar, não necessariamente atrasadas. Isso quer dizer que, se alguém parcelar uma compra, as parcelas futuras são consideradas dívidas, ainda que não tenham vencido. Já os inadimplentes são aqueles que têm dívidas em aberto, já vencidas, a pagar. A Peic mostra que, em outubro, o percentual de endividados no Pará chegava a 66% e o de inadimplentes, a 23,2%.

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O aumento no número de famílias endividadas tem algumas razões claras, segundo o planejador financeiro Rafael Carvalho, que é sócio do VrdeBank. “Apesar de o salário mínimo ter subido mais que a inflação, isso só ajuda quem tem carteira assinada ou recebe algo atrelado a ele. No caso dos autônomos e informais, que são muitos, a realidade é diferente: a renda não cresce no mesmo ritmo dos preços, e o poder de compra vai caindo”, afirma.

Também colaboram para o endividamento das famílias os juros altos. Isso porque quem já tinha dívidas encontra dificuldade para renegociar e quem precisa de crédito novo paga caro por isso. Por ser a modalidade mais acessível às pessoas de baixa renda, o cartão de crédito se torna uma saída, mas, muitas vezes, piora a situação. Para completar, outro fator é a falta de educação financeira. Sem um planejamento, as pessoas dependem de soluções rápidas que custam caro no longo prazo.

Cartão de crédito pode virar vilão

“Dois fatores ajudam a explicar por que o cartão de crédito é tão associado ao endividamento. O primeiro é o parcelamento de compras, incluindo aquelas pequenas. Quando você parcela várias coisas, perde a noção do quanto já gastou de verdade. Isso faz com que seja mais fácil perder o controle e só perceber o tamanho da dívida quando ela já está grande demais”, explica Rafael. E o segundo ponto citado por ele é que a modalidade reduz a “dor da compra”, já que o consumidor não sente o dinheiro saindo do bolso imediatamente, o que o torna mais propenso a gastar mais do que se estivesse pagando à vista.

Com taxas de juros que ultrapassam 400% ao ano no Brasil, o cartão de crédito, se usado de forma inadequada, pode levar a juros mais altos e piorar a situação financeira das famílias. De acordo com o planejador financeiro Rafael Carvalho, a alta taxa de juros do rotativo é um dos principais motivos para o cartão de crédito ser um crédito tão “fácil” de conseguir. As instituições financeiras, segundo ele, compensam o risco de inadimplência cobrando juros altos, o que torna o crédito acessível para muitas pessoas, mas também muito perigoso.

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“Outro ponto crítico é a falta de clareza sobre as regras de parcelamento compulsório. Para muitos consumidores, essas informações não são bem explicadas, o que agrava a situação e dificulta o controle das finanças. Por isso, é essencial conhecer as regras e entender os custos reais do cartão de crédito. Essa conscientização ajuda a evitar surpresas desagradáveis e a utilizar o cartão de forma mais estratégica e responsável”, pontua.

Um dos maiores perigos na hora de usar o cartão de crédito é quando o consumidor não consegue pagar o valor integral da fatura e opta por parcelar o valor ou pagar o mínimo permitido pelo banco. Rafael detalha que, como o rotativo do cartão é o juro mais alto do mercado, na prática, qualquer alternativa é melhor para negociar a dívida. Ele indica que, nesse caso, o consumidor pegue um empréstimo pessoal pontual para sanar a fatura e tente renegociar o valor com o próprio banco.

Estratégias para controle do cartão

Embora existam muitos riscos no uso do cartão de crédito, ele também pode ser um aliado, desde que o consumidor adote algumas práticas saudáveis. Uma das estratégias indicadas pelo planejador financeiro para quem tem dificuldade em controlar os gastos com o cartão é “tomar a dianteira da fatura”. Ou seja, em vez de ser pego de surpresa com o valor no final do mês, a ideia é organizar e estimar com antecedência quais gastos serão feitos no cartão e definir o limite que essa fatura pode atingir.

“Com isso, você transforma o tamanho da fatura em uma ferramenta de acompanhamento ao longo do mês. É uma solução simples, mas exige um esforço inicial para organizar o que vai ser gasto e, depois, a disciplina de usar essas informações para tomar decisões financeiras no dia a dia. Assim, o cartão deixa de ser um problema e passa a trabalhar a seu favor”, destaca.

Para quem já tem muitas dívidas com o cartão de crédito ou ficou inadimplente, os passos são específicos. Antes de mais nada, a redução de gastos é essencial para abrir espaço no orçamento, lembra Rafael. Em segundo lugar, é indicado tabular todas as dívidas de uma maneira que o consumidor consiga fazer um grande panorama, tendo acesso aos seus respectivos valores de parcela, prazo, taxa de juros e o principal: quanto custaria para quitar o débito.

“Ele também deve somar o total de parcelas que é pago no mês só com essas dívidas, averiguando se, atualmente, sobra dinheiro no mês para pagar essas parcelas. Com o que sobra, é possível pagar a soma das parcelas?” questiona. “Com esse valor, é possível pensar em cenários para diminuir o endividamento, antecipando parcelas, renegociando empréstimos ou até mesmo adotando uma estratégia de tirar um novo crédito mais barato para quitar outros mais caros”, orienta. Como isso pode ser complicado, Rafael ressalta a importância de um profissional para acompanhar.

Cartão de crédito como aliado

Mesmo com os riscos de usar o cartão de crédito, especialmente no caso de pessoas que não têm controle financeiro, é possível transformar a modalidade em um aliado, desde que o consumidor tenha compromisso. “O primeiro passo é fazer o ‘dever de casa’ de organizar antes o que vai ser gasto no cartão e estimar o valor desses gastos. Assim, você terá um limite de fatura”, ensina.

O próximo passo é criar o hábito de acompanhar o avanço da fatura no mês. “A pessoa pode escolher um dia na semana para sempre olhar os gastos e ponderar se está dentro do plano. Se você já organizou tudo que vai estar dentro da fatura, vai ser possível entender se esse número está fazendo sentido para o seu plano”.

E o principal, segundo o planejador financeiro Rafael Carvalho, é tomar decisões de consumo. O tamanho da fatura, de acordo com ele, funciona como um orçamento disponível para gastos. Se o consumidor já está próximo do limite, deve definir quais gastos são mais importantes e preterir para o próximo mês o que não for, para não estourar o orçamento.

Panorama de dívidas no Pará

Percentual de endividados

  • Out/24: 66%
  • Out/23: 61,3%
  • Set/24: 66,3%

Percentual de inadimplentes

  • Out/24: 23,2%
  • Out/23: 22,9%
  • Set/24: 24,7%

Tipos de dívidas | Out/24 | Out/23

  • Cartão de crédito: 82,8% | 79,3%
  • Cheque especial: 1,3% | 2%
  • Crédito consignado: 10,2% | 8,3%
  • Crédito pessoal: 4,6% | 2,6%
  • Carnês: 22,9% | 21,6%
  • Financiamento de carro: 9,2% | 6,5%
  • Financiamento de casa: 4,9% | 3,5%
  • Outras dívidas: 2,4% | 1,9%

Fonte: Fecomércio-PA

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