Às vésperas da COP 30, preço do almoço no Ver-o-Peso sobe até R$ 25 em um ano
Em comparação a 2024, o preço mínimo dobrou e passou a R$ 40; confira o valor do prato mais caro
Em outubro do ano passado, almoçar nas tradicionais boieiras do Ver-o-Peso, em Belém, custava entre R$ 20 e R$ 135. Um ano depois, o preço mínimo dobrou e passou a R$ 40, enquanto os pratos mais completos chegam a R$ 160. Apesar do aumento, feirantes relatam um ótimo movimento na feira. A poucos dias da COP 30, que deve reunir mais de 50 mil visitantes em novembro, as opiniões se dividem: alguns preferem manter os valores para garantir a fidelidade dos fregueses, enquanto outros consideram justo reajustar os preços diante da expectativa de receber visitantes de todo o país e do exterior.
Às vésperas do início da conferência, que começa entre os dias 6 e 7 de novembro com a Cúpula do Clima, o coração gastronômico da capital paraense já sente os efeitos da movimentação. Entre o vai e vem de turistas e moradores, os cheiros de peixe frito, camarão e açaí seguem marcando a rotina das cozinheiras que fazem do Ver-o-Peso uma referência da culinária popular amazônica.
“A COP vai passar, mas a gente fica"
A área das boieiras é composta por aproximadamente 60 boxes, que atendem turistas e paraenses com carápios variados. Entre elas, Elizabeth Medeiros, conhecida como Beth, trabalha há 41 anos na beira do rio e desde 2013 comanda um boxe fixo na área das boieiras. Ela conta que, apesar da alta dos insumos e do maior fluxo de clientes, decidiu manter os preços. “A COP vai passar, mas a gente fica. Então não posso pensar só em quem está chegando, e sim em quem está aqui todo dia”, pondera Beth.
A estratégia é manter preços competitivos, garantir a clientela fiel e atrair o novo público com fartura e simpatia. “O mais barato é o prato feito (PF) de proteínas variadas, desde bife e peito de frango, e o de dourada, que está R$ 40. Temos também a nossa chapa Veropinha, que leva peixe, camarão empanado e patinha de caranguejo. Custa R$ 160 e serve até três pessoas”, explica.
Beth diz que as chapas mistas, que podem servir até oito pessoas, estão entre as preferidas dos turistas. “Tem a 'Te Vira', que leva pirarucu, filhote, charque, camarão e patinha de caranguejo. Ela sai muito porque os grupos grandes pedem. A curiosidade do pessoal de fora é saber se é tudo isso mesmo que vai na chapa — e é”, afirma, com bom humor.
Segundo a feirante, o movimento vem crescendo desde setembro. “Nossa freguesia melhorou muito, tanto pelo Círio quanto pela COP. Já tem muita gente de fora chegando para o evento, e isso ajudou muito as vendas. Mas eu preferi não aumentar nada agora. Quero manter o preço para os fregueses que estão aqui o ano todo, não só os visitantes”, reforça.
Prato feito a R$ 45, com repetição
Em outro boxe, a atendente Jenifer Leão, que trabalha há sete anos no Ver-o-Peso, confirma que o cardápio passou por ajustes recentes, de R$ 10 por prato. “O nosso prato feito está R$ 45, com arroz, feijão, farofa, vinagrete e uma boa porção de carne. O freguês pode repetir o arroz e o feijão se quiser”, destaca.
Segundo ela, os pratos de filhote e pirarucu são os mais procurados entre os peixes e custam R$ 140, servindo de duas a três pessoas. “O nosso ajuste foi no Círio. Achei o aumento acessível ao bolso do consumidor. Tentamos manter um cardápio de qualidade, com açaí grosso e peixe bem consistente, só o filé, sem espinha”, conta.
Jenifer explica que o prato mais pedido é o de peixe com camarão rosa e pata de caranguejo, incrementado com acompanhamentos fartos. “A proposta é não pesar no bolso. Se for para dois, serve até três; se for para três, serve até quatro. E o freguês sempre pode repetir a guarnição. A ideia é que ele saia satisfeito e volte mais vezes”, diz.
Para ela, a expectativa é alta com a chegada dos visitantes da Conferência do Clima. “A gente está ansiosa. Eu até comecei a fazer curso de inglês pra atender melhor quem vem de fora. Queremos que levem uma boa impressão da comida e da receptividade do paraense”, afirma, empolgada.
Professora: preços justos
O público aprova a combinação de sabor e preço. A professora Socorro Meireles, de 65 anos, estava no Ver-o-Peso pela primeira vez e foi uma das clientes que almoçaram no local na segunda de Recírio. “Pedi peixe com açaí, estava ótimo. Achei os preços justos e gostei muito da higiene e do atendimento. Dá vontade de voltar”, elogiou Socorro.
Nos próximos dias, a expectativa é de um aumento ainda maior no movimento. A administração do complexo estima fluxo intenso de turistas e delegações estrangeiras que devem visitar o Ver-o-Peso não só pela comida, mas também como símbolo da cultura paraense. Enquanto a cidade se prepara para o evento global, o mercado mais famoso da Amazônia segue sendo um ponto de encontro entre tradição, economia e hospitalidade.
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