Alta do dólar pode ter influência da reta final das eleições no Brasil
Economista diz que até as pesquisas de intenção de voto causam instabilidade, o que gera incerteza e cria a fuga desses capitais do país
O cenário de incertezas provocado pelo período eleitoral é um dos fatores que colaboram para a alta do dólar, que subiu 2,52% nesta segunda-feira, sendo cotado a R$ 5,3804 - maior valor em dois meses. Segundo o economista Mário Tito, há uma expectativa do mercado externo para o país, e o dólar é mais investido em um ambiente econômico confiável. Com as eleições, as pesquisas de intenção de voto causam instabilidade, diz ele, o que gera incerteza e cria a fuga desses capitais.
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"No caso do Brasil, é óbvio que isso tem a ver primeiro com a atual política econômica do governo que está no comando do país, portanto, há muitas incertezas com relação aos direcionamentos, a condução, a própria força das instituições e tem a ver também com o ambiente eleitoral. As pesquisas, para além das questões de um candidato ou de outro, trazem sempre alguma insatisfação da população com relação à política econômica ou a questão dos preços, e tudo isso tem demonstrado que o povo está insatisfeito e que a aprovação do governo está em queda", comenta.
Instabilidade
Nas palavras do economista, o mercado é "sensível", ou seja, não é apenas matemático ou quantitativo, mas tem subjetividades. "O mercado sente exatamente as variáveis de determinada situação, e as variáveis políticas são uma delas. O mercado precisa de um ambiente estável, onde a credibilidade daquele processo seja seguida, afinal, o investidor ama o risco, mas foge das incertezas. De alguma forma, quando a gente fala dessas turbulências políticas, você está mexendo com instituições. Aí fica aquela incerteza se os sinais que estão sendo dados são de que o governo atual é fraco e naturalmente esses investimentos vão sair, ou o governo está forte. Depende muito dessas dores", avalia.
Caso haja segundo turno, a tendência é de que o dólar continue em alta frente ao real pelo pelos até o fim do ano, e depois disso ainda não é possível prever de forma concreta. Mário Tito diz que, se o governo atual conseguir a reeleição, o mercado vai se posicionar em função daquele cenário. Se não houver reeleição e outro governo entrar no poder, o mercado também vai se posicionar, a depender das propostas de governo e das pessoas que são colocadas para conduzir determinadas instituições, como Banco Central, e o ministro da economia.
"Isso vai depender, também, de fatores 'exógenos', como nós chamamos. São fatores que estão fora do ambiente interno e que, muitas vezes, nós não temos governabilidade. É o caso, por exemplo, da questão dos juros do mercado financeiro ou do preço das commodities. Tem coisas que acontecem, como a guerra entre Rússia e Ucrânia. Esses fatores que mexem com a dinâmica internacional podem, de alguma forma, mexer com a vida econômica, isso independente, inclusive, do que pode vir a acontecer nas eleições".
Investimentos
O aumento do dólar também está no radar dos investidores, segundo o assessor Leonardo Cardoso, e carteiras de modo geral sofrem bastante alteração, segundo Leonardo, porque as bolsas no mundo todo estão oscilando de forma negativa por conta dos dados negativos da inflação, e o Brasil também é reativo a esse movimento. Na avaliação do especialista, é importante saber o tipo de aplicação mais adequada para que o investidor passe por esse momento de turbulência de forma mais tranquila: é preciso ter clareza sobre os objetivos e o apetite ao risco. Mas, mesmo com as incertezas, o assessor defende que quem é investidor continue investindo com disciplina, afinal, "o cenário ideal nunca vai existir", diz.
"Muitas vezes as pessoas só querem comprar dólar agora porque está subindo muito, mas a gente não sabe se é interessante, de fato, interessante alocar 100% do capital em dólar. Na grande maioria dos casos não é interessante concentrar em nenhum tipo de aplicação. É importante que o investidor entenda que a diversificação sempre é e sempre vai ser a melhor amiga dele, porque ele vai conseguir ter um pouco em cada classe de ativo e, com isso, vai conseguir se defender de um acontecimento macroeconômico que, muitas vezes, não depende diretamente do nosso país", alerta o assessor de investimentos.
Um desses acontecimentos que podem gerar incerteza são as eleições - no Brasil, marcadas para este domingo (2). Leonardo avalia que o mercado financeiro opera "muito mal" em cenários de incerteza. "O Brasil já foi governado pelo Lula e já foi governado pelo Bolsonaro. São os dois candidatos que estão despontando à frente nas pesquisas e, provavelmente, vão fazer um segundo turno. Como o mercado já sabe a postura deles, a eleição basicamente já está precificada aqui na nossa bolsa de valores. Alguns setores específicos se beneficiam mais com a vitória de um do que do outro".
Libra
Outra moeda que também mudou de comportamento foi a libra esterlina, a moeda britânica, que caiu para o menor patamar da história em relação ao dólar nesta segunda-feira, cotada a US$ 1,06. Segundo o economista Mário Tito, desde as instituições de Breton Lourdes na década de 1940, no final da Segunda Guerra Mundial, se estabeleceu que o dólar fosse a moeda mais forte no mundo, então a libra esterlina, como outras moedas, de alguma forma dependem do movimento do dólar.
Um exemplo é que grande parte dos produtos são comercializados em dólar, então a variação da moeda pode causar repercussões na queda da libra esterlina e de outras moedas do mundo. "Elas influenciam a gente indiretamente na medida em que mexem com a valorização ou não do dólar. Uma moeda que pode até disputar com o dólar nesse passe, que ainda não é uma moeda de transação no comércio internacional, é o euro, por conta da economia forte da França, da Alemanha, da União Europeia como um todo. Essas moedas variam, mas têm mais prejuízo para os seus países do que efetivamente no mercado internacional, no caso do Brasil. O dólar não, ele é decisivo para mexer na economia brasileira", conclui.
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