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Violeta Loureiro lança em Belém o livro 'Travessia' para contar o que já viveu na Amazônia

Socióloga e professora universitária Violeta Refkalefsky Loureiro mostra em '"Travessia - Uma vida entre a Amazônia e o Mundo' como construiu uma vida e obra imbricada com a história e cultura da região. Livro será lançado nesta quarta (11), às 18h30, no ICA, na Praça da República

Eduardo Rocha
fonte

Descobrir a Amazônia é descobrir-se. E essa tem sido a trilha percorrida por Violeta Loureiro, doutora em Sociologia e professora emérita da Universidade Federal do Pará (UFPA), que nesta quarta-feira (11), a partir das 18h30, lançará o livro "Travessia - Uma vida entre a Amazônia e o Mundo", pela Editora Valer. O lançamento ocorrerá no Instituto de Ciência das Artes (ICA), na Praça da República, no centro de Belém.

É a própria Violeta Loureiro quem conta por que esse livro brota agora na própria região amazônica. "Fui muito amiga de um dos maiores geógrafos do Brasil (hoje já falecido), o professor doutor Aziz Nacib Ab Sáber, que morava em São Paulo. Ele, um dia, me fez prometer escrever a minha história, porque ela mostra as pessoas que vivem na região, desde a chegada do meu pai (judeu nascido na Romênia e fugido do nazismo nos anos 30 e que trabalhou em Fordlândia, no Pará), da minha mãe - de família  de imigrantes nordestinos - até chegar em mim. Ele dizia que ao contar minha vida vão aparecendo as mudanças pelas quais a Amazônia passou ao longo dos anos. O professor Aziz Ab Sáber me dizia: 'Há vida fora dos estudos, me prometa isso!'".

Violeta tornou-se amiga do professor Aziz quando ela atuou como presidente do antigo IDESP (extinto no Governo Almir Gabriel). "Ele (Aziz) nos assessorou a fazer os primeiros mapas dos municípios do Pará. Daí para frente, ficamos muito amigos", conta Violeta. O título do livro se dá pelo fato de a autora entender que a vida de toda pessoa "é uma travessia que ela faz no mundo".

image Capa do livro da professora Violeta Loureiro (Foto: Reprodução)

Beleza e paixão

Essa pesquisadora nasceu em Boa Vista (RR), e a família dela morou alguns anaos no alto da Serra do Tepequém, perto da Venezuela. "Posso dizer que nasci dentro da floresta. Como nos anos 50, o ensino em Boa Vista era muito precário, aos dez anos de idade Violeta foi estudar no Rio de Janeiro. Ela viajava nos aviões da Força Aérea aos cuidados do comandante Camarão, como relata a autora de "Travessia". 

"Os aviões que saíam de Boa Vista até Manaus eram os antigos Catalinas, que entregavam medicamentos e levavam remédios e médicos para aldeias e comunidades ribeirinhas que ficavam no trajeto. Os Catalinas podiam amerrisar (pousar na água) porque na época não havia troncos de madeira boiando, como hoje. A Amazônia era íntegra em seu verde e seus rios de várias cores. Chegávamos em Manaus no fim da tarde do primeiro  dia  de  viagem. Em Manaus família amiga de minha mãe me buscava no aeroporto, eu dormia na casa dela e na manhã do dia seguinte me entregavam para o comandante Camarão. De Manaus em diante os voos eram nos antigos aviões Douglas, que voavam baixo porque não tinham pressurização. Ver a beleza dos rios e da floresta me tornou uma apaixonada pela região", narra Violeta.

Enigma

O desafio de que o bioma Amazônia se mantenha vivo diante de tantas agressões que tem sofrido, Violeta Loureiro é necessário combinar a preservação ambiental com o desenvolvimento dos povos da região. "Eu  lembro de uma frase antológica que o professor Octávio Ianni (um dos mais renomados sociólogos brasileiros, hoje já falecido) me disse ao me ver desanimada face às queimadas na floresta nos anos 80: "Violeta, a Amazônia é para os outros brasileiros um enigma ainda não decifrado", pontua Violeta. 

"Eu entendo que o governo central sempre considerou a Amazônia um lugar de onde poderia extrair riquezas e resolver problemas  nacionais. Foi assim no período da borracha, na Serra Pelada (quando o ministro da economia da ditadura, Delfim Neto, dizia que ia pagar a dívida nacional com o ouro de Serra Pelada); continua sendo assim quando a Amazônia se tornou uma fronteira de commodities, produzindo e exportando apenas produtos semielaborados como ferro, alumínio e outros produtos, ou mesmo exportando bois vivos, numa economia que destrói a natureza e não internaliza riqueza e desenvolvimento ou gera pouquíssimos benefícios locais", destaca a socióloga. 

"É claro que esse modelo econômico foi implantado durante a ditadura militar, mas ele permaneceu inalterado nos governos democráticos. Veja um exemplo: foi no governo FHC, quando a balança  comercial  brasileira estava com um grave déficit, que FHC forçou o Congresso a aprovar a chamada Lei Kandir, que dispensava os exportadores de produtos semielaborados (que é a base da economia regional) de cobrar o ICMS sobre esses produtos exportados. O lema do governo FHC era: 'Exportar é o que importa'. De fato, a Amazônia naquela fase não tinha importância para o governo central. Importante era melhorar a balança  comercial brasileira. O Pará e Minas foram e continuam sendo os estados mais prejudicados", ressalta Violeta Loureiro.

Aos jovens que iniciam suas travessias, Violeta diz que a natureza da região levou quase 2 mil anos para se formar "como este bioma maravilhoso com o qual Deus nos presenteou" e, portanto, "não pode ser destruído em apenas 50 anos". "Ele é o maior potencial que temos para promover um real desenvolvimento social. Que eles defendam a Amazônia. Aliás, o Brasil inteiro precisa se conscientizar de que se a natureza amazônica chegar ao chamado 'ponto de não retorno', as chuvas que caem nas regiões Centro-Oeste e Sudeste praticamente  se reduzirão à metade, prejudindo-as tanto quanto aos que vivem na Amazônia. Isso porque a maior parte das chuvas que caem nessas regiões dependem dos chamados 'rios voadores' com que a Amazônia os presenteia durante o nosso "inverno amazônico", afirma a pesquisadora.

Mas, como diz Violeta Loureiro, o livro não deixa de lado as perseguições. "Como dentro da própria UFPA, onde os informantes dos órgãos de segurança da ditadura vigiavam os professores e eu era uma delas; as quatro prisões do meu marido (o poeta João de Jesus Paes Loureiro); o exílio da minha irmã Margaret para a África, só voltando quando saiu a Lei da Anistia. O livro conta também coisas muito engraçadas. É isso: a vida é maravilhosa, com altos e baixos para todos", adianta Violeta aos leitores de "Travessia - Uma vida entre a Amazônia e o Mundo".

Serviço:

Lançamento de "Travessia - Uma vida entre a Amazônia e o Mundo"
De Violeta Loureiro
Em 11 de junho, a partir das 18h30
No Instituto de Ciência das Artes (ICA),
na Praça da República, no centro de Belém

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