‘Uma p*ta pode ser mãe e educar’, declara Lourdes Barretos sobre discriminação contra prostitutas
O dia 2 de junho é marcado pelo Dia Internacional da Prostituta. Em entrevista, ao portal O Liberal.com Lourdes buscou quebrar preconceitos da profissão e o que falta a classe das profissionais do sexo conquistar
Nesta quinta-feira (2), comemora-se o Dia Internacional da Prostituta, mas a data não é vista como momento de comemorações, e sim, de desafios. Isso porque, a violência e a discriminação são alguns dos obstáculos ainda enfrentados por essas mulheres. Buscando quebrar preconceitos e, por sua vez, desmistificar a palavra “puta”, o OLiberal.com conversou com a ativista Lourdes Barreto, de 80 anos, fundadora da Rede Brasileira de Prostitutas e do Grupo de Mulheres Prostitutas do Estado do Pará (Gempac).
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Mãe-solo de quatro filhos, avó de 10 netos e bisavó de oito bisnetos, Lourdes conseguiu criar e educar toda essa “turma” dedicando-se ao trabalho sexual durante 56 anos. Hoje, já aposentada, ela se sente muito “orgulhosa” pela trajetória que trilhou, sempre buscando não apenas lutar por sua liberdade, mas também incentivar outras mulheres a se sentirem livres e donas de si.
"Eu criei meus filhos como uma boa mãe e uma dona de casa. Foram cuidados por pessoas responsáveis quando [eu] saía para trabalhar, colocando-os na escola. Acompanhei todo o processo de educação, por entender que é um dos maiores pilares da vida do ser humano”, disse.
A ativista desabafa, ainda, sobre a dificuldade da sociedade de entender que uma mulher que trabalha com a prostituição pode desempenhar "outras tarefas" e ser uma pessoa normal, com anseios e dificuldades.
“As pessoas não entendem que uma puta pode ser mãe, pode ter os seus filhos, educar... Tenho duas filhas, quatro netas e nenhuma é prostituta. E se fosse não teria nenhum problema. Nunca vi nenhuma diferença de trabalhar com os meus órgãos sexuais como se eu tivesse trabalhando dando aula, escrevendo. Pra mim, é tudo igual. Só pelo fato da gente trabalhar com o nossos órgãos sexuais nós sofremos tantos estigmas”, acrescentou a ativista.
No Brasil, a prostituição é reconhecida como uma das 600 ocupações profissionais desde 2002. No entanto, ser proprietário ou gerente de local onde se pratica o sexo comercial é crime. Lourdes, que já está na luta política há 50 anos, enumera a violência e a discriminação, principalmente contra mulheres negras, como um dos maiores desafios ainda enfrentados pelas profissionais do sexo.
Para ela, a sociedade não possui respeito por essas mulheres. Então, cabe aos coletivos continuar resistindo à "hipocrisia de uma sociedade falsa moralista”.
“O estigma e o preconceito são muito grandes. É muita discriminação contra nós. Ninguém respeita. É como se nós não existíssemos. Nós existimos, nunca vai acabar a prostituição, é desde o começo do mundo. Mulheres que têm liberdade. O corpo é nosso. Nós fazemos do nosso corpo o que queremos. É uma luta que não tem fim”, declarou.
E, claro, a luta não pode parar. Por isso, conheça cinco perfis de profissionais do sexo que são ativistas para você seguir nas redes sociais e ficar por dentro da causa:
Monique Prada
Mara Vale
Indianarae Siqueira
Betania Santos
Sammy Larrat
(Estagiária Amanda Martins, sob supervisão do editor executivo de OLiberal.com, Carlos Fellip)
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