"Piseiro e Pisadinha": do interior do nordeste para o mundo

“A pisadinha e o piseiro se confundem muito e isso é extremamente natural", diz pesquisadora

Bruna Lima
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O sucesso nacional “Pisadinha”, mas que muitos também chamam de “Piseiro”, nasceu na região interiorana da região nordeste, mas já tomou conta do país. A equipe de O Liberal conversou com a pesquisadora Larissa Ramos e o produtor cultural e Dj Bruno Ramos sobre esse gênero musical para saber mais sobre as peculiaridades desse jeito de fazer música.

Para começar, Larissa Ramos pontua um detalhe importante. Ela explica que tanto a “pisadinha” como o “piseiro” são variantes do Forró e que a palavra piseiro na região nordeste do país se refere ao local onde se dança a pisadinha, aqueles saltinhos dados pelos artistas no momento em que cantam e tocam seus teclados.

“A pisadinha e o piseiro se confundem muito e isso é extremamente natural, porque não existe tanta diferença, principalmente porque o piseiro também tem uma relação semântica com um lugar. Por exemplo, quando as pessoas querem dançar, geralmente elas dizem ‘vamos pro piseiro', ‘eu gosto é de ir pro piseiro'' ', esclarece a pesquisadora do ritmo.

O gênero remete a atmosfera das regiões interioranas, onde as pessoas dançam na terra. Mas desde 2010, embora só tenha ganhado mais notoriedade nos últimos cinco anos, Larissa vem percebendo que a música se adequava ao público do paredão. Então eles começaram a apostar nos graves e também a profissionalizar a produção das músicas.

“Aderiram o jeito de dançar sozinho. Foi fácil a galera aderir a pisadinha, pois é um estilo simples e que foi ganhando recursos rítmicos e sonoros”, completa. Larissa faz questão de citar o nome de Orlandinho do Piseiro, artista que ajudou a difundir o estilo. Já o produtor cultural e Dj Bruno Ramos diz que o ritmo foi criado pelo "Rei da Pisadinha" Nelson Nascimento que saiu do pequeno povoado de Pedra Vermelha do município de Monte Santo, na região nordeste da Bahia.

Bruno explica que a Pisadinha surgiu a partir dos teclados arranjadores, aqueles que disparam o baixo, leads e baterias, no estilo "seresta". Por muito tempo, estes artistas foram alvo de preconceito, pois os cantores levavam apenas o teclado para suas apresentações ao contrário de outros artistas com bandas completas.

“Levou um bom tempo para a Pisadinha passar a fazer parte dos festivais e grandes eventos, antes eram em sítios, em periferias, é um ritmo muito tocado pelos sertões, dançado na Terra, com poeira levantando. A Pisadinha é uma ritmo que mistura o Pagode Baiano, o xote e o Fandango. Como diz na música do Nelson Nascimento, Fazer Bebê ‘É na batida do Fandango, é no samba do vanerão com Nelson Nascimento que balança a multidão’”, detalha Bruno Ramos

A música faz parte do primeiro CD lançado em 2004, um CD caseiro. Foi a música mais tocada nas rádios e foi tocada pelas maiores bandas de forró do país como Aviões do Forró, Cavaleiros, Saia Rodada, Rasta Chinela, Suco de Pimenta e outras. Também foi gravada por Gusttavo Lima em 2011.

Bruno pontua que entre 2004 a 2010 a pisadinha foi se tornando um dos maiores ritmos do Nordeste. Surgiram as bandas “Cintura de Mola”, “Brega e Vinho” e foram bastante propagadas em festas de paredão, nos paredões de som espalhados por Todo o Nordeste.

“Levou 16 anos para a Pisadinha ser aceita pelo grande Público. A partir de 2017 a 2018 a pisadinha popularizou ainda mais com a nova geração, artistas como Anderson o “véi” da pisadinha, Vitor Fernandes, Biu do Piseiro, Zé do Vaqueiro e os Barões da Pisadinha levando o ritmo para nível nacional, aparecendo no BBB e ganhando reconhecimento em todo o território nacional e também mundial, ganhando grandes eventos e festivais”, esclarece o produtor cultural.

Atualmente a produção do Piseiro ou a Pisadinha mudou, entrou mais o destaque para a Sanfona.  Alguns produtores preferem gravar os instrumentos separados para melhor ter o controle na mixagem. Enquanto outros continuam produzindo apenas com o teclado.

Outro elemento fundamental para a disseminação do ritmo foram as redes sociais, acrescenta Larissa. Pois as coreografias ajudaram a propagar as músicas e os artistas do gênero.

O cantor paraense Nelis, que está na estrada há mais de 20 anos com o gênero do forró, diz que atualmente não tem como fazer show sem tocar a pisadinha. Ele diz que o ritmo é antigo em várias regiões do país, principalmente, nas cidades do interior.

“Essa cultura da pisadinha sempre foi muito forte, em viagens pelo Tocantins, Maranhão e interiores do Pará é possível ver a presença do gênero”, disse o artista paraense. Sobre o sotaque, ele diz que a pisadinha tem o sotaque dos teclados.

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