Nélida Piñon desafia a pandemia e retorna ao romance com 'Um Dia Chegarei a Sagres'

Livro narra a saga solitária de um aldeão do Norte de Portugal que, tomado por uma ideia-fixa, empreende uma jornada a pé

Agência Estado
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Quando chegou a Portugal, em 2018, a escritora Nélida Piñon, uma das mais importantes da literatura nacional, tinha um objetivo claro: produzir um romance de alma, que reproduzisse o espírito navegador que marca a trajetória do povo português, nação que elegeu o mar como extensão de seus caminhos. Nasceu, assim, Um Dia Chegarei a Sagres (Record), obra ambiciosa que retrata, por meio da ficção, o transcurso histórico de Portugal a partir do século 15.

Nélida Piñon não apresentava um romance inédito aos leitores desde 2004. Neste período publicou livros de memórias, de contos e de ensaios. Quando foi procurada pelo seu editor, Carlos Andreazza, para saber o que achava de lançar o novo livro em momento tão incerto, Nélida respondeu: “Quero enfrentar a pandemia com a minha literatura”.

É com espírito resiliente e corajoso que esta personalidade das letras, a primeira mulher a presidir a ABL, vencedora do Prêmio Príncipe de Astúrias, apresenta Um dia chegarei a Sagres. “Confio no fulgor da literatura brasileira, que tem sobrevivido a todos os embates. A arte viceja, não falece”, conclama Nélida.

A obra chega às lojas nesta quinta-feira, 5, dentro da campanha Eu apoio a livraria do bairro, do Grupo Editorial Record. Haverá uma noite de autógrafos virtual em data a ser definida.

"Desde 2005, tenho esse projeto, mas era necessário estar lá", conta Nélida, que não publicava um romance desde 2004, quando saiu Vozes do Deserto. Era uma exigência visceral: "O livro pedia um tipo específico de pesquisa, pois eu precisava sentir o cheiro exalado pelas colinas, pelas aldeias, especialmente da região de Sagres. Bastava olhar para uma árvore. Como a história se passa no século 19, eu necessitava recuperar isso com precisão".

Um Dia Chegarei a Sagres acompanha a trajetória de Mateus, rapaz filho de uma prostituta e de pai conhecido e que é criado pelo avô, Vicente, na região rural do norte de Portugal. Ali, em meio a uma rotina de escassa expectativa, Mateus abandona a aldeia quando o avô morre, embalado pelo mito do Infante Dom Henrique de Avis, que, no século 15, foi o principal impulsionador da expansão portuguesa pelos mares. Segue, então, para Lisboa até chegar à vila de Sagres, onde, reza a lenda, o Infante teria criado uma escola náutica.

"Mateus busca restaurar a utopia do resgate de Portugal", observa Nélida, que esteve em Sagres, já no final de sua estadia portuguesa. A visita foi decisiva: "Senti a presença do Infante Henrique, como se ele estivesse instigando a enfrentar o oceano, e, mais importante, senti o vento que sempre empurrou aqueles homens a se aventurar no mar".

Em sua saga que cruza o país, Mateus descortina o passado e o futuro, apoiado ainda na poderosa poesia de Luís de Camões e seus Lusíadas. No período de dois anos e dois meses de trabalho, Nélida também embarcou em uma viagem, mas literária, em que a linguagem lapidada ressalta valores - assim, a aldeia de Mateus torna-se universal, seus animais são sacralizados e Deus não apenas existe, mas está presente.

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