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Nic Dias conta seu testemunho de sobrevivente em primeiro EP, '1.9.9.9'

Rapper de 22 anos se consagra como uma das maiores apostas do estilo vindas no norte do Brasil, em EP com participação de Drin Esc., Michel Zumbi e SD9 (RJ)

Lucas Costa

Já faz um tempo que o nome de Nic Dias é dos primeiros a ser dito ouvido quando o assunto é rap paraense. Nesta sexta-feira, 2, a artista de 22 anos lança seu primeiro EP, um relato confesso de uma jovem que teve que amadurecer cedo demais. “1.9.9.9” conta essa história em três interlúdios cheios de sentimentos aflorados e quatro faixas inéditas que mostram várias faces da rapper de Belém do Pará.

No beat, Drill, Grime e sonoridades experimentais dentro do estilo rap que moldou as influências sonoras de Nic. Nas letras, dor, ódio, amor e, acima de tudo, coragem e poder para resistir como preta periférica do norte brasileiro.

“Esse trabalho significa muita coisa mesmo sendo meu primeiro. Significa tanto para o meu amadurecimento pessoal, quanto para o meu amadurecimento artístico e profissional também. Esse EP é muito pessoal também, e quando as pessoas ouvirem vão ver que fala muito da minha história, coisas que vivi recentemente, e também de forma geral, porque eu tento falar sobre a comunidade negra em geral, então com certeza muita gente vai se sentir representada”, descreve a artista.

O som de Nic Dias não é para ouvidos confortáveis. Agride, instiga e provoca a reflexão a partir da visão periférica da vida. Mais especificamente, da visão da periferia de Belém do Pará, a maior metrópole da Amazônia. Hoje, ela diz que é capaz de “matar e morrer” pela família, composta por ela, a mãe e o irmão, fonte de força e coragem para apontar injustiças e denunciar violências que vivem. Num panorama geral, esse é o clima de “1.9.9.9.”, são músicas que exploram uma sonoridade mais jovem e violenta do RAP, experimentações feitas por ela, ao lado do produtor Navi Beats. Nic descreve o processo de criação do EP como doloroso, mas que também resultou em um local de alívio.

“Acho que doloroso é a palavra, porque é desconfortável ter que falar sobre certas coisas, ter que tocar em certas feridas que a gente acha que superou, mas descobre que não, que na verdade a ferida ainda existe e está ali bem aberta”, descreve.

“Ter que falar tudo isso, o que me machuca, o que me destrói, o que me reconstrói também, foi doloroso. Mas também foi um processo de cura talvez. Acho que esse EP veio muito pra tirar um peso das minhas costas, coisas entaladas que estou aqui há 22 anos”, completa.

Em um EP biográfico e de narrativa potente, Nic não quer apenas contar sua história, mas também provocar reflexões em toda a sociedade. Como ela mesma descreve, a arte não tem apenas o papel de entreter, mas também de incomodar e questionar. O primeiro single de “1.9.9.9”, “Remédio Pra Racista”, fez bastante barulho ao sugerir que “remédio pra racista é bala”, mas Nic defende que seu trabalho está longe da apologia á violência, ocupando na verdade um lugar de empoderamento.

“É um aviso de pessoas que estão extremamente cansadas, saturadas de ter a humanidade sendo tirada todo dia, e para mim, acho que tudo o que a gente faz tem uma relação, e é sobre isso[...]. Também não é um discurso fazendo apologia à violência e nada disso. Mas tem gente que nem sabe o que é violência porque nunca viveu violência de fato. A gente sabe o que é violência, desde pequeno. Isso com certeza não é apologia à violência, é sobre coragem, sobre a gente dar coragem para alguém não aceitar mais as coisas que fazem”, destaca Nic.

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